PDV William.
Durante as sete semanas seguintes eu não arredei o pé da fazenda. Comia e bebia mecanicamente. Minha barba crescia mais a cada dia que passava e eu pouco me importava. Eu gostaria de poder desligar meus sentimentos.
Dormir, só com ajuda de uma boa dose de álcool. Eu vegetava. Era como se estivesse entrado num estado robótico, um ser humano vivendo constantemente no piloto automático. Eu me forçava a sair da cama todos os dias e obrigava meu corpo a ir cuidar dos cavalos e do restante da fazenda. Principalmente da reforma do celeiro. Mas minha mente se recusava a parar de pensar nela.
Perdi vários quilos, meus olhos perderam o brilho e o meu rosto se transformou numa máscara sem expressão. As olheiras eram profundas. Eu parecia um zumbi. A única coisa boa que tinha acontecido durante aquele tempo, foi à venda dos meus potros. Consegui vender os dois por 500.000 mil dólares para um criador de Montana que eu conheci na Convenção em Tucson. A transação havia sido feita pelo telefone e o proprietário viera pessoalmente até Phoenix buscar os animais. Pelo menos dinheiro sobrando eu tinha agora, embora ainda não tivesse ido ao banco depositar o cheque.
Sebastian havia chutado minha bunda no dia que Maite havia partido. Ele gritara comigo e falara coisas terríveis, que só fizeram com que eu me sentisse pior do que já estava... As palavras de Maite na nossa última conversa estavam gravadas a ferro em minha alma..."Você não passa de um maldito covarde WilliamLevy!"
Suspirei. Desde aquele fatídico dia Ana deixara de falar comigo. Mas não sem antes jogar na minha cara o quanto eu era idiota por deixar May ir embora sem lutar. E a Ana ainda fez questão de dizer que o noivo de Maite era bonito, alto e musculoso... E que torcia para que eles se casassem e May me varresse do mapa da sua vida para sempre. Angie também tinha me dito muitos desaforos. Apenas Ivan não abrira a boca, mas o seu olhar reprovador foi o suficiente para me deixar destroçado.
Minha intenção não era fazer Maite sofrer. Será que ninguém entendia? Eu precisava fazer aquilo droga! Eu precisava deixá-la partir, retornar a sua vida normal. Se você ama alguém tem de deixá- lo livre... Se ela voltar é por que sempre me pertenceu, se não, nunca foi minha. Eu tinha de fazer Maite confrontar o seu passado e não podia ser egoísta a ponto de não permitir que ela fosse embora.
Tudo bem que eu havia sido duro. Duro até demais com ela, mas de que outra forma ela concordaria em partir? Por várias vezes ela se mostrou determinada, forte, corajosa, decidida. E no fim ainda disse que me amava... Engoli em seco, sentindo meu coração sangrar.
Eu tive que apelar, tive que mentir. Era para o bem dela. Eu estava vivendo num eterno purgatório, mas se ela estivesse bem com o noivo e ele a fizesse feliz, eu viveria infeliz com prazer o resto de minha vida, suportaria esse fardo de bom grado. Eu faria qualquer coisa para que ela fosse feliz, não importava o preço que eu tivesse de pagar... Deus, como eu a amava.
As lembranças vieram fortes... A visão do rosto dela transfigurado pela dor naquele apertado quarto de hospital assombrava meus dias, minhas noites e especialmente os meus sonhos. Se antes eu me movia habilmente, meus passos agora eram pesados e lentos. Eu praticamente me arrastava por toda fazenda.
Ivan havia vindo me ver antes de ontem, enquanto eu consertava a tranca da nova porta do celeiro e com aquele seu jeito calmo e tranqüilo perguntara:
Por quanto tempo você pretende continuar assim Wiliam?
Suspirei.
Por quanto tempo seja necessário Ivan.Você fez um ótimo trabalho com essa reforma, mas sabe que está se matando aos poucos.
Não respondi. Ele me conhecia bem demais. E insistiu.
Quer falar sobre o assunto? Não precisamos ir até o consultório para podermos conversar...
Não Ivan.
Ele deu um suspiro exasperado.
Não quer encarar os fatos Wiliam ? Por quanto tempo pretende fugir? O resto de sua vida? Nós dois sabemos muito bem qual é o problema, certo?
Ivan, honestamente o meu humor não está para ficar jogando conversa fora.
É essa a sua maneira de encarar a situação? Por que você ainda tem tanto medo de se entregar?
Resolvi ignorar. Quem sabe assim ele cansava de falar sozinho e me deixava em paz de uma vez.
Ok Wiliam, chega de rodeios. Fique sabendo que você é um grandessíssimo tolo.
Eu ri amargamente.
Por favor, Ivan, me diga algo que eu não saiba.
O amor é uma dádiva Wiliam. Quem nunca amou na vida, nunca viveu de verdade. E May te ama, assim como você também a ama.
Um silêncio pesado e desconfortável nos envolveu por vários minutos. Ele ergueu as mãos e suspirou.
é uma mulher maravilhosa, por quem vale a pena lutar. Ana sempre liga para ela, e as duas conversaram bastante ontem.
O martelo desceu pesadamente sobre a madeira. O que ele estava pretendendo com aquela conversa? Me fazer sofrer ainda mais? Senti as gotículas de suor na minha fronte e continuei fazendo o meu trabalho até que não resisti mais e perguntei:
Como... Como ela está?
Como você acha que ela está? Ele respondeu sarcástico.
Maite está sofrendo Wiliam. Sofrendo muito. Tanto ou até mais do que você. Ela te ama de verdade. Rompeu com o noivo logo que chegou a Seattle. É preciso ser muito cabeça dura, teimoso e orgulhoso para não enxergar o que está diante do seu próprio nariz! Você ama essa mulher Wiliam, mas se nega a admitir.
Engoli em seco ao saber que ela estava sofrendo. May havia rompido o noivado... Como me disse que faria... Deus! Minha Misteriosa...
Meus pensamentos foram bruscamente interrompidos pelo meu cunhado que se levantava e se dirigia para o carro. Mas por alguns instantes ele parou.
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Misteriosa
RomanceWilliam Levy, um homem determinado, forte e solitário marcado por um passado duro e amargo. Maite Perroni, uma mulher linda, decidida e misteriosa. Um encontro breve, inesperado e repentino. Atração, desejo, sedução... Simplesmente acaso ou uma obra...