Capítulo 26

553 40 4
                                    

PDV William.
Enrijeci ao ouvir aquelas palavras. O meu estômago revirou e a dor mais uma vez transpassou a minha alma, me fazendo reviver momentaneamente o inferno que havia sido a minha vida durante meses sem fim. Desviei os olhos lutando contra a raiva e a dor que emergiam ferozmente mais uma vez e tomavam conta do meu ser. Baixei a cabeça e apertei minhas mãos com força, fechando os olhos. Eu poderia viver cem anos, mas nunca, jamais iria perdoar aquela mulher maldita!
Levantei a cabeça lentamente e encarei Maite.
Me desculpe Wiliam, eu não queria te magoar...
Os olhos castanhos estavam tristes. Os meus não tinham expressão alguma. Eu sentia que eles estavam sem vida. Um bom soldado aprende cedo a esconder e disfarçar suas emoções. O vazio no meu peito era enorme. O buraco da dor ameaçava se abrir outra vez...
Vista-se. Como você mesma disse, Sebastian deve estar procurando por nós.
Falei friamente.
Ela mordeu os lábios, nervosa e eu me xinguei mentalmente, pela palavras duras e cortantes. Sei que May não merecia ser tratada dessa forma, mas infelizmente eu não conseguia evitar. Jaqueline tinha sido um monstro que tive a infelicidade de conhecer... Ela havia cruzado o meu caminho e quase tinha me destruído com o seu egoísmo e a sua frieza. Não que eu a amasse. Apenas me deixei levar... Ela era fútil, mimada e vazia. Só fui perceber isso com o passar do tempo.
Hoje, depois de conhecer intimamente Maite eu sabia que tudo que havia existido entre mim e a minha ex eram apenas momentos bons e fugazes de sexo, nada mais. E estes sequer chegavam aos pés do que eu vivi ainda a pouco aqui nos estábulos com May... Sacudi a cabeça tentando raciocinar, mas o cheiro dela e do sexo que fizemos naquela baia abafada e calorenta me entorpecia e me deixava zonzo.
Wiliam...

Respirei fundo e virei às costas. May era como uma droga doce, quente, convidativa e viciante. Eu não podia sucumbir... Precisava ficar são. Eu precisava pensar, precisava assumir o controle das minhas emoções novamente. E eu podia lutar contra o que eu não queria sentir... Contra o que eu não queria fazer... O problema era que eu queria Maite. Eu a queria demais.
Fique aí se quiser, mas não vá se meter em problemas novamente! Eu não tenho a menor vocação para herói!
Falei e saí sem olhar para trás. Eu sabia que estava encrencado. Muito, muito encrencado. May mexia demais comigo e juntos, eu vivi as melhores experiências sexuais da minha vida. Éramos como a pólvora e a faísca quando estávamos na cama. Como eu poderia a deixar ir embora agora?! Como permitiria que ela saísse da minha vida se justamente com ela eu tinha entendido finalmente o significado da palavra paraíso?! Suspirei... Que Deus me ajudasse!
Depois que fizemos amor pela segunda vez eu estava pensando em como abordaria esse assunto com ela... Eu estava confuso sobre o que faria que atitude deveria tomar... Porra, ela estava sem memória e confusa!
Mas ao falar no meu filho, ela sem querer, abriu uma enorme ferida que até hoje ainda sangrava. Eu juro que não queria magoá-la, mas não deu para evitar. Subi caminhando apressado e nem dei atenção às piadinhas ridículas que o meu irmão irritante soltou, enquanto lavava a caminhonete. Ignorei o gorila e fui pra casa. Eu só queria ficar sozinho... PDV Maite.
Vi a dor nos olhos dele e me arrependi na mesma hora de ter aberto a minha boca. Pelo jeito a ferida ainda não havia cicatrizado. Eu só queria que ele soubesse que eu sentia muito. Eu me solidarizava com ele na sua dor... Suspirei e peguei o vestido, sacudindo-o para tirar o feno. Procurei a calcinha e a peguei, fazendo a mesma coisa.
Deus! Nós tínhamos vividos momentos maravilhosos ali ainda há pouco... Ele tinha me chamado de Misteriosa com sua voz rouca e sexy... Só em lembrar eu me derretia. Ficava mole como gelatina.

Involuntariamente os meus olhos foram parar sobre a lona e o monte de feno. O cheiro de sexo estava impregnado no ar e eu estava me sentindo mais mulher do que nunca. Mais uma vez fiquei excitada... Era como se Wiliam me completasse... Como se ele fosse à metade que faltava para que eu me sentisse inteira... Não viaja May! Você não sabe nem quem você é, como pode achar que esse homem é a sua cara metade?! Ridículo!
Suspirei mais uma vez e me vesti, ajeitando a roupa e os cabelos. Olhei novamente ao redor e tive a certeza de que jamais entraria em outro estábulo em minha vida sem lembrar os intensos momentos de prazer que nós havíamos vivido ali...
Saí e corri meus olhos em volta do ambiente, vendo se aquela égua furiosa estava por ali. Nem sinal do bicho. Ajeitei os ombros e caminhei vagarosamente em direção a casa, meus pensamentos estavam todos voltados para ele...
Subi e só me dei conta de Sebastian me chamando quando estávamos bem próximos. Ele me olhava intrigado.
Você está bem, May?
Era incrível como ele assumia a postura profissional ao falar comigo daquele jeito... Sorri tristemente.
Sim, eu estou bem. Ontem eu tive uma rápida visão de uma cozinha... Ele me observava com atenção.
Eu achei alguma coisa familiar nas cores, nos móveis... Mas desapareceu tão rápido como surgiu.
Ele me deu um amplo sorriso.
Isso é um bom sinal. Sua memória está dando sinais e muito em breve você vai se lembrar de tudo. Estou falando como médico.
Eu sei, — respondi desviando os olhos.
Tem certeza de que está mesmo bem? Assenti. E ele me observou cuidadosamente.
Então por que parece que você precisa de um ombro para chorar? Sem falar que Wiliam passou aqui voando, irritado e nem sequer falou comigo!
Eu fitava os meus pés, sem saber o que dizer. Delicadamente, ele segurou o meu queixo, fazendo com que eu o encarasse. Engoli em seco.
Quer me dizer o que está acontecendo? Não esqueça de que eu sou seu médico, mas também sou seu amigo.
Eu balancei a cabeça e ele desligou a mangueira, fechando a água. Caminhei até a sombra de uma árvore e sentei, esperando que ele fizesse o mesmo.

MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora