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- Então, Min Yoongi, qual o seu argumento?

- E-eu - Respirei fundo, tentando manter a calma. Eu já havia explicado, mas o professor continuava insistindo para que eu falasse mais e mais - Com os problemas e dificuldades do Estado Social o Estado Penal vem ganhando espaço. Mas segurança pública não é apenas polícia e arma. Na verdade, esse Estado se beneficia da pobreza e desigualdade social. Pois ao mesmo tempo que produz a marginalização e a violência, criminaliza e encarcera parte da população, fingindo estar fazendo a sua parte no combate à impunidade, enquanto utiliza isso como justificativa para a criação de mais presídios e mais encarceramento. Ninguém aqui acha que isso é um ciclo vicioso?

Ouvi algumas risadinhas e pessoas dizendo coisas como: "lá vem o defensor de bandido". Quis levantar e dizer que não iria continuar aquela merda de debate, mas respirei fundo e ignorei.

- Então quer dizer que a pessoa comete um crime e não deve pagar por ele?

- Eu não disse isso - me virei para encarar o Hugo.

- Então o que o você disse?

Sério? Já estávamos nisso ha quase trinta minutos e ninguém naquela sala parecia entender o que eu estava dizendo. Eles eram mesmo estudantes de Direito? E se eram, eles não tinham estudado Sociologia? Respirei fundo e tentei usar a voz mais calma que consegui.

- Que esse Estado Penal é falido. Ele não resolve o problema da violência. E os dados estão aí pra provar. Se não investirmos em medidas afirmativas para acabar com a pobreza e exclusão social e priorizarmos a ressocialização dos presos, estamos apenas encarcerando pessoas por um tempo para depois solta-las e esperar que errem de novo.

O professor passou os olhos pela turma, esperando que alguém contra-argumentasse. Mordi os lábios ansioso para que aquele debate acabasse.

- Ok! Ponto para a equipe do Hugo.

- O quê? - não pude deixar de reclamar indignado.

- O que o quê, Min Yoongi?

A feição do professor era de quem não tinha gostado da minha interferência. Engoli em seco e tentei esquecer.

- Desculpa, professor. Nada não.

- Próxima aula, quero por escrito a argumentação de cada grupo. Podem ir.

Estava enfiando meu caderno na mochila de qualquer jeito quando meus dois colegas de equipe se aproximaram com uma cara de poucos amigos:

- Porra, Yoongi, perdemos o ponto por sua causa!

- Oi?

- Por que você apenas não decorou o que estava no capítulo do livro?

Parei o que estava fazendo e fiquei encarando-os sem acreditar. Eles não tinham falado nada! Se queriam ganhar ponto pela debate, que pelo menos participassem ou tivessem combinado comigo os argumentos que usaríamos.

- Por que vocês não falaram alguma coisa?

- Ah - o Rudson pareceu entender minha acusação e passou a mão no cabelo constrangido - Você começou a falar. Pensamos que saberia o que dizer.

- Eu sabia o que dizer! E eu disse. Se o professor concordou ou não, aí é outra história.

Túlio balançou a cabeça e os braços, interrompendo a discussão.

- Tá. Tá. O importante agora é: você vai escrever esses mesmos argumentos no trabalho?

- Sim - virei de um para o outro indiferente e voltei a guardar minhas coisas. Eles se entreolharam, mas acabaram dando de ombros. Ou aceitavam o que eu ia escrever ou teriam de escrever o próprio trabalho e essa, provavelmente, era a pior opção.

Lado a lado || SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora