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     "O alarme das celas soou ao destravar as grades. De forma organizada os detentos saíram indo em direção ao refeitório. Marcos e Lobo se olharam e assentiram.
     Colocaram as bandejas com alimento na mesa e sentaram junto a Gustavo e os outros.
     — Então, o que planejam? — perguntou Gustavo inclinado sobre a mesa.
     — Estamos planejando uma rebelião. — disse Lobo baixinho
     — Estão malucos? — perguntou Guilherme
     — Ou tentamos ou aceitamos passar o resto de nossas vidas aqui dentro. — disse Marcos
     — Acho que pode dar certo — falou Pedro.
     — Mas pra isso temos que ter alguma rota de fuga. — lembrou Felipe
     — Isso é o de menos — Lobo colocou diante aos integrantes um pedaço de papel com o rascunho do trajeto desenhado a lápis. Marcou com a ponta do dedo um ponto feito no final de uma linha reta — Aqui está o portão de saída — arrastou para a direita por uma curva tortuosa — nesse local tem uma tubulação de esgoto...
     — Além de não conseguir fazer uma linha reta quer nos meter em merda? — indignou-se Felipe
     Foi encarado com descaso.
     Lobo continuou o ignorando:
     — Se conseguirmos chegar aqui podemos ter a chance de escapar.
     — Se sabia dessa saída por que não falou antes para que tentassemos? — perguntou César
     — Porque há guardas protegendo essa área para não correrem o risco de alguém tentar fugir. E "tá" aí o por que da rebelião. Isso chamará a atenção dos policiais e os tirará de seus postos deixando esse local sem monitoração. — explicou Gustavo com o olhar fixo a folha
     — Isso mesmo. — concluiu Marcos
     — E quando isso irá acontecer? — perguntou Marcos Marques
     — Quando formos para o pátio. — disse Lobo
     — Quê?! — ressaltou Márcio
     Todos se espantaram com o imprevisto repentino.
     — Vai ter que virar homem, meu filho. — respondeu César de mãos cruzadas largadas sobre a mesa
Márcio o olhava boquiaberto.
     — Não podemos fazer algo tão arriscado sem nenhum plano concreto e sem a certeza de que iremos todos conseguir.
     Lobo riu.
     — Seu filho é um "bunda mole"! — tapeou de leve o ombro de César
     — Márcio, entenda uma coisa... Aqui não existe plano concreto nem certeza de algo. Aqui é tudo ou nada.
     — A tampa que dá acesso a tubulação é feita com ferro fundido e robusto. Tem em base 60 de dimensão e pesa em média uns... 35 quilos. Suportando até 40 toneladas. — falou Gustavo
     — Como sabe? — perguntou Guilherme
     — Estava dando uma volta para analisar bem a planta da prisão...
     "Gustavo observava a estrutura da prisão caminhando despreocupado pelo os corredores feitos com telas dividindo as bases.
     O olhar caiu sobre uma tampa de esgoto envolvida na grama.
     A grama saltou, sujando de terra o sapato de Gustavo, com o projétil da bala acertando o chão limitando seu passeio.
     Mirou a torre de comando.
     — Volte pra onde está os outros! — ordenou o guarda portando um fuzil
     Calmamente Gustavo obedeceu".
     — Mas tem um porém...
     — Qual?
     —  Na torre não fica apenas um guarda, mas sim, dois. Provavelmente quando a guerra começar um ficará mantendo seu posto.
     — Teremos poucos minutos para que todos possam passar pela tampa — deduziu Lobo. — E esse momento será quando a rebelião começar.
     Lobo e Gustavo se olharam chegando a mesma conclusão como se compartilhassem o mesmo pensamento.

     Misturados com outros detentos, iam para o pátio. Uma faca roubada no refeitório escorregou rapidamente da mão de Guilherme para Felipe sem que ninguém a visse.
     Em seus postos, procuravam por seus alvos no meio da multidão dividida em grupos.
     Lobo agarrou pela camisa o prisioneiro que passava do seu lado enfiando-lhe a faca no pescoço.
     O sinal verde para que Gustavo e os outros atacassem e iniciassem o massacre.
     Atacando uns aos outros na guerra sangrenta, Felipe, Marcos Marques e Márcio escaparam do conflito e correram até o local marcado.
     Achando a tampa uniram-se para ergue-la.
     Policiais atiravam para o alto tentando intervir e cessar o confronto.
     Coberto de sangue Gustavo encontrou Marcos Pimentel no tumulto. Em seu olhar a mágoa e oportunidade de vingar-se.
     — Vamos Gustavo.
Lobo correu. Voltando ao foco Gustavo o seguiu.
     Corriam para o refúgio quando um tiro foi disparado refletindo nas costas de Gustavo. Sentindo a pressão parou e olhou para trás.
     Marcos Pimentel caía de joelhos acerto na perna pelo disparo.
     — Vamos Gustavo! — gritou Lobo
     Os ouvidos de Gustavo estavam tampados.
     O mundo a sua volta desfocou. Em suas lembranças a guerra ocorrida anos atrás levando a suposta morte de Marcos.
     — Vamos, irmão. — Lobo puxou o braço de Gustavo trazendo-o de volta à realidade
     Gustavo encarou Marcos caído ferido. Correu para a liberdade.
     Na frente da tampa, Lobo e Gustavo entraram no esgoto. Com pesar em seu peito Gustavo baixou a tampa vendo tudo se distanciar.
     Dentro do canal de esgoto esperavam por Gustavo e Lobo.
     — Vou voltar! — disse Felipe
     — Eles vão aparecer — Guilherme o segurou
     Lobo e Gustavo fugaz e ofegantes.
     — Cadê Marcos? — reparou César que o mesmo desaparecera
     — Pegaram ele.
     — Eu vou voltar. — avisou Gustavo
     — Você não vai salvar ele.
     — Não posso deixar ele lá.
     Lobo enrugou as sobrancelhas, perplexo.
     — Quer mesmo arriscar sua vida "pra" salvar aquele traidor?
     — Ele é meu irmão.
     — Que te traiu, Gustavo! — a voz agravou
     — Mesmo assim não posso deixá-lo! — respondeu no mesmo tom
     Lobo e Gustavo se encaram irritados com a discordância.
     — Temos que sair daqui. Não vão demorar para virem nos procurar. — César virou Gustavo — Depois daremos um jeito de tirá-lo daqui, mas agora temos que ir.
     Gustavo suspirou. Assentiu.
     Ansiosos pela liberdade correram cruzando o túnel subterrâneo".

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora