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     — A coloque no carro.
     O senhor deu a volta na caminhonete enquanto seu filho colocava Yasmin no banco de trás.
     Deu partida no motor.
     — Não vejo a hora de fazer esses pirralhos pagarem pelo o que fizeram aos meus irmãos.
     — Precisamos achar os outros.
     — Antony vai achar a menina e Rick os garotos.
     Os olhos enrugados do senhor observava Yasmin pelo o retrovisor.
     "Miguel saiu da sala de curativos. Max o esperava na porta, inquieto.
     — Notícias do seu amigo?
     — Terminaram a cirurgia e o levaram para o quarto.
     Miguel andou pelo corredor olhando os quartos.
     — O que está fazendo? — Max o seguiu
     — Precisamos ficar atentos. Aquele homem pode querer fazer algo contra ele.
     A enfermeira se aproximava segurando uma prancheta.
     — Oi — Miguel a barrou — Estou procurando o quarto do meu filho. O nome dele é...
     — Arthur. — respondeu Max interrompendo Miguel
     Miguel olhou para Max, inexpressivo. Ficou em silêncio por um momento.
     — Senhor?
     Miguel mirou a enfermeira. Arfou, esperando que as palavras se desprendessem da garganta inchada.
     — Ele levou um tiro.
     — Ah, sim. Ele ainda está sedado. Poderá vê-lo quando acordar.
     — Pode pelo menos me mostrar onde fica o quarto?
     — Sim.
     A enfermeira se virou andando no corredor. Max a seguiu com pressa.
     Miguel não desviava a atenção de Max. Ainda extasiado, continuou paralisado, digerindo a coincidência dos nomes serem iguais ao de seu filho e filho de Lobo.
     — Aqui está. Esse é o quarto.
     Miguel se aproximou.
     — Obrigado. — agradeceu Max, gentil
     — Não há de quê.
     A sós Max perguntou:
     — E agora...?
     — Agora vamos ficar aqui cuidando pra que nenhum estranho entre no quarto.
     Miguel sentou na cadeira de frente a porta.
     Max sentou do seu lado.
     Miguel fitava o chão criando coragem para perguntar:
     — Quantos anos você tem? — perguntou sem o olhar
     — 15.
     Max franziu o rosto estranhando a fisionomia inexpressiva de Miguel. Não demonstrava nenhuma reação. Era como se tivesse parado no tempo — ou viajando nele.
     — Está tudo bem?
     A voz de Miguel parecia haver sumido. Por mais que quisesse falar nada saía.
     Os olhos estavam gélidos. Em seu rosto era como se não circulasse sangue. A pele estava fria e o corpo suava causando-lhe arrepios.
     Preocupado com o estado de Miguel, Max levantou.
     — Vou chamar a enfermeira.
     Max foi segurado pela a mão.
     — Não — o rosto de Miguel se ergueu —, estou bem.
     — Parece que está passando mal.
     — Estou bem.
     Miguel soltou devagar a mão de Max.
     Engoliu seco. Max ficou imóvel, duvidoso em ter cometido outro erro de confiar novamente num estranho.
     — Onde se conheceram?
     — No orfanato.
     Miguel mordeu o lábio.
     — E por que não estão lá?
     — Porque não queríamos viver o resto de nossas vidas naquele lugar — Max sentou mantendo a atenção para o lado contrário de Miguel.
     — Lá era tão ruim assim?
     Por um segundo o silêncio.
     — Não. Era apenas chato. — respondeu depois de alguns instantes com a voz árdua
     — Preferiu a rua a um lar porque era chato? — perguntou incrédulo
     Miguel foi mirado pelo olhar vermelho, naufragado em lágrimas.
     — Tive que sair para obter respostas. Saber se meus pais estão ao menos vivos.   
     As mãos de Miguel se retorciam em punho.
     — Arthur, Yasmin, Alyssa e eu não podíamos mais esperar que fossem nos buscar. 15 anos foi o suficiente para esperar.
     Lágrimas envolviam as pupilas dos olhos de Miguel. Os cantos dos lábios arquearam. Miguel fungou. Levantou e de costas para Max limpou os olhos.
     — Não pode ser! — sussurrou num tom quase inaudível
     — O que não pode ser? — perguntou ele curioso
     Miguel se virou para Max. Por um segundo pensou em dizer o que pensava, mas precisava de mais certezas.
     — Não é nada. Lembrei de algumas coisas passadas.
     — Precisamos buscar as meninas.
     — Onde elas estão?
     — Numa casa abandonada.
     — Quando vermos Arthur iremos pegá-las.
     Max balançou a cabeça.
     Horas se passaram desde então. O sol já estava alto e as ruas mais movimentadas.
     Mantendo a guarda, Miguel ligava os pontos de mãos cruzadas junto a boca.
     — Ele acordou. Podem entrar. — avisou a enfermeira
     Miguel e Max entraram no quarto.
     Max sorriu, aliviado.
     — Dorme demais. — brincou
     — Fazer o que se sou privilegiado.
     Miguel analisava o rosto de Arthur. O sorriso largo, olhos e cabelos escuros, pele clara. A cópia mistura perfeita de Lobo e Esmeralda, embora sua aparência remetesse ainda mais a de Lobo.
     — Quem é ele? — perguntou a Max
     — Esse é o Miguel. Ele me ajudou a escapar da morte.
     — Cadê Yasmin e Alyssa?
     — Estão na casa abandonada.
     Arthur impulsionou o corpo para frente e apertou o braço de Max.
     — "Tá" maluco? Como deixou elas sozinhas?
     — Um dos caras do beco estava aqui. Preferi mantê-las distante.
     Arthur suspirou fundo. Soltou Max e deitou a cabeça no travesseiro. Fitou o teto, mas logo mudou a atenção para Miguel.
     — De onde você é?
     — Moro pela redondeza.
     — Por que o interesse em nos ajudar?
     — São crianças e estão correndo perigo.
     — Por que o interesse em nos ajudar? — repetiu a perguntou de forma pausada
     Arthur não desviava o olhar de Mihuel nem se o mundo desmoronasse do seu lado.
     Miguel analisava minuciosamente as interrogações de Arthur. Não restava dúvida que era ele o filho de Lobo. A inteligência em interrogar e avaliar atenciosamente as respostas era nítida.
     Apenas um Marques tinha tamanha capacidade intelectual para decifrar de imediato hesitações ou falhas em respostas tão diretas. Uma simples mudança no olhar, quebra na voz ou pausa no tempo era o suficiente para detectar o inimigo.
     — Porquê conheço o seu pai.

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora