30

82 17 23
                                    

     — Prestem atenção — olharam para Gustavo. Seus olhos oscilavam cada um que estavam ali. — Quero que peguem qualquer coisa que possam usar como arma. Objetos pontiagudos.
     Um homem levantou.
     — Acho que estão malucos. Querem mesmo lutar contra aqueles homens que estão lá fora?
     — Tem outra alternativa?
     O homem o encarou em silêncio.
     — Aceitar nosso destino.
     — Tem família?
     Os olhos do homem se estreitaram.
     — Sim.
     — Então fugir e voltar para os braços de quem ama é a única alternativa.
     Outro homem, um pouco mais velho, levantou se opondo.
     — Vocês vai piorar ainda mais a nossa situação. Não tem como escapar desse lugar.
     — Não tem como ficar pior que isso. — resmungou Lobo
     — Ah, tem sim. — retrucou
     — Então fique.
     O homem fechou a cara.
     — O melhor a fazerem é ficar quietos.
     — Como eu disse. Fique.
     Lobo andou até a parede e puxou uma ponta de madeira deslocada até conseguir arrancá-la.
     Examinou a ponta da estaca.
     — Está na hora. — avisou Gustavo
     — Eu não vou participar desse suicídio. — O homem sentou no lugar de antes
     Lobo deu de ombros com indiferença.
     — Já consegui identificar quem é o mais louco do bando.
     Lobo mirou o homem que o olhava.
     — Talvez eu teste minha estaca na sua cabeça.
     — Chega, Lobo. — repreendeu Gustavo
     Lobo olhou para Gustavo de olhos estreitos.
     Esconderam suas armas.
     A porta abriu.
     Felipe foi jogado de volta no celeiro, suas roupas estavam sujas de sangue.
     Gustavo correu e abraçou Felipe.
     Fecharam as portas.
     — Era ela, pai! — afirmou soluçando
     Escondeu o rosto no peito de Gustavo.
     Gustavo fechou os olhos sentindo a dor do filho.
     — Nós vamos fazê-los pagar.
     — Eles vão pagar caro pelo o que fizeram com a minha filha.
     Pedro baixou a cabeça. Lágrimas pingavam no chão.
     — Mas como pode ser ela? Já faz 15 anos que não os vemos. — perguntou Marcos
     Felipe soltou Gustavo.
     — Ela tinha uma marca de nascença igual a de Yara.
     — Isso não quer dizer que seja ela. Pode ser apenas uma coincidência. — Lobo tentou confortá-lo
     — Seria coincidência demais ela ter os cabelos louros, pele clara e uma marca igual de Yara.
     Não houve resposta.
     — Yara vai enlouquecer quando souber. — sussurrou Pedro
     Os olhos vermelhos de Felipe o olhou.
     — Não quero que a diga nada.
     — Ela tem todo o direito de saber.
     — Sim. Quando tudo tiver acabado eu mesmo a direi.  
     — Isso se ela estiver viva, já que não foi capaz de proteger sua própria filha.
     As palavras de Pedro eram repletas de revolta.
     Felipe fechou a mão em punho.
     Gustavo tomou a estaca da mão de Lobo. Andou em direção de Pedro.
     Pedro estremeceu com a aproximidade brusca de Gustavo.
     Pôs a ponta da estaca no pescoço de Pedro inclinando um pouco a cabeça dele para trás. Sua mão tremia controlando a raiva.
     — Culpe meu filho de novo e esqueço toda nossa trajetória até aqui e minha consideração por Camila e Yara.
     Pedro engoliu seco.
     — Por que não faz melhor? Enfia esta estaca no próprio peito e se mata. Assim os problemas da família acaba de uma vez por todas. — Gustavo pressionou mais fundo a ponta da estaca. Pedro fechou os olhos com a dor.  — Não percebe, Gustavo? Você é o núcleo. Tudo se resume em você. Se não fosse por você eu não tinha perdido minha família. Minha neta agora estaria viva. César não tinha perdido a Valéria. Marcos e Miguel não teriam perdido Sophia. Marcos não teria sido sequestrado junto a sua esposa e filha. — trincou os dentes e enrugou os olhos fechados numa careta de dor.
     — Se tudo isso está acontecendo é porque além de eu atrair inimigos eu tomos as dores de alguns deles. É porque meto minha vida na linha de tiro para salvar outra. É porque não deixo um trabalho inacabado. E só para constar — pressionou ainda mais. Sangue escorreu pela madeira chegando na mão de Gustavo — Quando tudo isso acabar, quero você longe de tudo que é meu.
     Soltou a mão libertando Pedro.
     Pedro respirou aliviado, pressionou o pequeno ferimento.
     Gustavo se virou para os outros.
     — Quero todos prontos. Quando chegar o momento não quero que tenham piedade. — olhou para Pedro por cima do ombro — Inimigos a gente extermina como baratas.
     Gustavo parou de falar e girou o pescoço para a porta. Ela se abriu e outro homem foi lançado para dentro aos tropeços.
     Sua face estava escondida pelo capuz do longo casaco claro e sórdido.
     O olharam em silêncio. Esperaram que levantasse a cabeça e se mostrasse.
     Aos poucos, sem movimentos bruscos levantou o capuz se mostrando.
     Foram pegos de surpreso.
     — Oi. Gustavo. — disse Miguel

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora