28

102 14 20
                                    

     Sentados no chão do celeiro, Gustavo e os outros esperavam o momento certo para agir.
     Miraram a porta quando o ranger ecoou celeiro adentro.
     — Você — O rapaz apontou para Felipe — Venha comigo.
     Felipe olhou para Gustavo.
     Gustavo assentiu devagar o encorajando.
     Felipe levantou e andou até o jovem.
     Saiu aos tropeços ao ser empurrado com hostilidade para fora.
     Gustavo levantou quando as partes das portas se uniram fechando-se.
     — O que será que vão fazer com ele? — perguntou Guilherme de pé
     — Não sei. — Gustavo andava de um lado para o outro encarando o chão, pensativo
     — Não podemos demorar tanto para sairmos daqui. — disse César
     — O que fazem com a gente é cruel! — sibilou Márcio olhando as pessoas sentadas ao redor
     — Temos que dar nosso jeito, Gustavo — falou Lobo. — Não podemos ficar aqui servindo de escravos para esses doentes.
     Gustavo não respondia.
     — Para aonde estão me levando? — perguntou Felipe sendo empurrado pelo enorme quintal aberto
     — Não faça perguntas. — ordenou rígido
     — Se vou morrer tenho todo o direito de saber.
     — O único direito que você tem aqui é de ficar calado.
     Felipe uniu as sobrancelhas e franziu o cenho.
     Pararam frente à uma porta de ferro. O rapaz a abriu.
     Felipe engulhou-se com o cheiro forte que exalava para fora do quarto escuro.
     — Entre e limpe tudo.
     Sem que pudesse se recompor, Felipe foi jogado quarto a dentro.
     O cheiro de carne podre, de morte infiltrava por suas narinas.
     Não suportando o odor putefrato e sufocante, regurgitou.
     Enquanto se recompõe analisou o ambiente. Os olhos lacrimejaram com a queimação do ar poluído pelo os restos de cadáveres.
     Abismado, andou entre os corpos mutilados em decomposição. As solas dos sapatos grudavam no chão como se estivessem presos em chiclete. Havia sangue coagulado em toda parte. As peles já se desmanchavam.
     A cena era de espanto!
     A quanto tempo aqueles corpos estavam ali? O que eles pretendiam ocasionando tantas mortes?
     Felipe se perguntava enquanto passeava analisando a face desfigurada de cada cadáver.
     Parou encarando um corpo que sua vida havia sido extraída, provavelmente, não há muito tempo.
     Os traços ainda eram nítidos.
     Estreitou os olhos analisando minuciosamente os cabelos louros como ouro; a pele branca e lisa como porcelana. Uma menina de aproximadamente 15 anos.
     Abaixou para ver melhor de perto seu rosto. Olhando aqueles traços o traria lembranças de Yara.
     Com as mãos trêmulas afagou suavemente os cabelos finos.
     O olhar percorreu pelo o corpo da adolescente. Havia ferimentos em suas pernas e braços. Cortes de facas.
     Felipe notou que o vestido estava mais sórdido de sangue na região do baixo ventre. 
     Curioso, levantou devagar o vestido da garotinha. Arregalou os olhos com a cisura enorme expondo seus órgãos.
     Se afastou caindo sentado, apavorado com o que via.
     Teria sido ela vítima de um experimento? — se perguntou ainda a olhando
     O suor descia na testa indo para o queixo.
     Sem ar, sentou sobre os calcanhares.
     Prendeu a respiração, estirou a mão para abaixar o vestido. Felipe soltou o ar, surpreso com o sinal de nascença que ela possuía na coxa. Lampejos de Yara invadiu sua mente.
     "As pernas abertas vestidas em lingerie. A marca de nascença próximo a verilha."
     Felipe transpirava mais que o normal. O odor do ambiente já não o nauseava. Sua atenção estava completamente focada na menina.
     As lágrimas escorriam de seus olhos e em instantes viraram soluços.
     — Não, não, não... — repetiu por diversas vezes, sacudindo a cabeça
     Pegou a cabeça da menina e colocou em suas penas. Acariciou o rosto dela com as pontas dos dedos.
     — Por favor, digam que não é ela! — implorou em prantos
     Abraçou o corpo o apertando contra seu peito. Ofegou irregular.
     Felipe correu em direção ao celeiro com o corpo sem vida em seus braços. Às lágrimas voavam com o vento.
     — Pai! Pai!!! — gritou inconsolado
     Gustavo ouviu os gritos o chamando em desespero.
     — Meu filho! — gritou Gustavo — Estão ferindo Felipe!
     Se arremessou contra a porta para arrombá-la.
     Lobo o ajudou com a ajuda de César, Guilherme e Marcos.
     Pedro observava, afastado, confuso.
     As pernas de Felipe perdiam as forças de acordo os passos aumentavam.
     — Pai!!
     Felipe tropeçou nos seus próprios pés e caiu. O corpo de Yasmin rolou alguns metros para longe.
     Sem forças para levantar, rastejou-se até o corpo desajeitado.
     — Filha, por favor! — sussurrou se debulhando em lágrimas
     Agarrou-se no vestido e puxou o corpo para perto.
     — Acorda, Yasmin!!!
     Os olhos de Pedro esburgalhou com o nome de sua neta sendo gritado por Felipe.
     Pranteando sem controle, Felipe abraçou o corpo de sua filha permanecendo deitado no chão.
     — Papai está aqui, filha. Papai está aqui. — beijou os cabelos de Yasmin
     — Levante e largue este corpo! — ordenou o rapaz o mirando um revólver
     Felipe ignorou o mandado.
     — Papai está aqui. — sussurrou
     — Vou mandar só mais uma vez.
     Felipe olhou para o jovem. Sua expressão era frenética.
     — Atire.
     O rapaz enrugou as sobrancelhas fazendo sombra sobre seus olhos, confusos.
     — Atire!!! — bradou Felipe
     — Quer mesmo morrer como este monte de lixo?
     — Vocês mataram a minha filha! — murmurou entredentes
     — Ah. Por isso a sua revolta? — perguntou com frieza
     Felipe apertou o corpo com mais pressão o aninhando em seu peito.
     — Eu vou acabar com todos vocês!
     — É uma ameaça?
     — É um aviso.
     O jovem se abaixou encarando os olhos perturbados de Felipe.
     — Quem você pensa que é para falar assim comigo?
     Felipe enrugou repuxando o nariz, com expressão de um animal feroz.
     — O seu pior pesadelo.
    
    

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora