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      —... Pensei que nunca mais veria vocês. Quando encontrei nossas crianças — Valentina e Max se olharam e trocaram sorrisos — Senti uma esperança transbordar dentro de mim... era como se Deus estivesse me mostrando que nossos caminhos estavam cruzados e que no meio dele íamos nos reencontrar.
     — Agora que "estamos juntos" só precisamos encontrar os meninos e Yasmin. — disse Luísa sentada no braço direto da poltrona com o braço envolta do ombro de Yara
     Yara encarava o chão, parecia viajar.
     — Sabe quem são esses fazendeiros? — perguntou Júlia sentada na cama do lado de Hope
     — Conheci o velho quando tentou levar Max
     Catarine apertou os braços prendendo Alyssa suavemente.
     — Mas Arthur e Alyssa sabem quem são.
     — Arthur? — os olhos de Luísa esburgalhou
     — Sim. Ele está no hospital. Foi atingido com um tiro na perna enquanto fugiam dos fazendeiros.
     Todos olharam para a porta com o rangido da maçaneta.
     Esmeralda entrou devagar, segurando sacolas em ambas das mãos.
     Arregalou os olhos encarando cada um que estava ali.
     — Miguel?
     Miguel ficou de pé frente à Esmeralda.
     — Max? Alyssa? — citou, pasma. Procurou por Yasmin e Arthur — Onde estão Yasmin e Arthur? — virou o rosto para Miguel depois de alguns segundos
     — Yasmin foi levada por fazendeiros — Esmeralda olhou para Yara — Arthur está no hospital — foi mirado novamente dessa vez com mais seriedade — Ele tomou um tiro na perna quando fugia dos mesmos homens que levaram Yasmin.
     — Em qual hospital ele está?
     — Não tem como você ir pra lá. Fica um pouco distante e podem acabar te prendendo...
     — Fala logo, Miguel! — gritou desesperada
     Miguel ficou em silêncio por um curto momento.
     — Healthcare West.
     Esmeralda largou as sacolas no chão e saiu quase sem nem tocar a porta.
     Andou apressada para o estacionamento. Não havendo táxi naquele horário, naquela região, parou de frente para um Opala estacionado. Procurou no chão algo que pudesse facilitar o furto.
     — Esmeralda! — chamou Miguel indo até ela
     — Não tente me impedir.
     Esmeralda Se afastou poucos metros abaixou e pegou um pedaço de ferro quebrado parte de uma chave de fenda. Sem temer se seria pega ou não tentou destravar a porta do carro com jeito para não fazer barulho e chamar atenção.
     — Não vai conseguir...
     Miguel calou-se após ouvir o estalo da porta sendo destravada.
     — Como sabe...
     — Não se esqueça que sou casada com Rafael Delmondes mais conhecido como Lobo.
     Jogou o pedaço de metal no chão. Abriu a porta do Opala e entrou ao volante.
     Miguel ficou plantado no estacionamento, impressionado com a atitude criminosa de Esmeralda. Observou, pasmo, Esmeralda se afastar em alta velocidade pela estrada escura iluminada apenas pelos faróis.
     Os olhos verde esmeralda mantinham-se concentrados na estrada. A preocupação percorria pelo os braços adormecendo os dedos seguros ao volante. A tensão de seu corpo dificultava a condução.
     Ligou o rádio para quebrar a intensidade e reduzir de seu consciente o medo.
     "Somente hoje houve duas fugas das prisões penitenciárias de Houston, Texas... — houve uma pausa rápida, logo o transmissor voltou falar — Estima-se cerca de 9 fugitivos, um deles sendo capturado, e 7 da penitenciária feminina. Os policiais estão efetuando as buscas, mas os fugitivos ainda não foram encontrados e não há pistas de onde estejam..."
     Esmeralda parou de ouvir quando o radialista citou a fuga da penitenciária masculina. Ela possuía a certeza de que se tratava de Lobo e os outros.
     Apertou o volante nas mãos suadas. Os olhos ainda presos na estrada à frente.
     — Onde vocês estão? — sussurrou com a voz baixa
     Virou a curva mantendo a velocidade no limite. Os faróis cortavam a neblina.
     Miguel entrou no quarto e fechou a porta. As meninas continuavam no mesmo lugar.
     — Ela foi mesmo? — perguntou Júlia
     — Sim. — respondeu ao sentar na cadeira do lado sul do quarto
     — Acabei de ouvir no rádio... — Hope encarava o aparelho em cima do pequeno móvel frente à cama, assustada — Estamos sendo notícia nas emissoras. E pelo o visto, houve outra fuga da penitenciária masculina.
     Luísa saltou num átimo.
     — Gustavo! — ressaltou de imediato
     — Com certeza foram eles. — concordou Júlia
     — Se foram mesmo eles os foragidos, precisamos encontrá-los.
     — Mas onde será que estão?
     Miguel encarou Luísa.
     Valentina deitou a cabeça de Max na cama, com cuidado para não o acordar, o cobriu com o cobertor. A noite estava um pouco fria.
     — Se me derem licença... preciso tomar um ar.
     Valentina cruzou o quarto num relance. Todos a olharam sem entender a saída repentina.
     Miguel a acompanhou.
     Valentina encarava o céu nublado de braços cruzados. Os cabelos sacudiam com o vento.
     — Se importaria se eu ficar aqui com você? — a voz de Miguel soou logo atrás
     Valentina deu de ombros sem o olhar.
     Miguel se apoiou no corrimão admirando a lua encoberta pelas nuvens cinzentas.
     Suspirou esperando o momento para falar.
     Arfou.
     — Não diga nada, Miguel. — imterrompeu antes que alguma palavra fosse dita
     — Valentina, eu sinto muito!
     Valentina virou o rosto encontrando o de Miguel.
     — Você sabe perfeitamente que o que você fez não se resolve com um simples "sinto muito". — no tom a amargura
     Miguel girou o corpo ficando de frente para Valentina.
     — Eu sei perfeitamente que o que eu fiz não tem como resolver.
     — Então não tente se justificar nem lamentar. — falou seca.
     Valentina voltou a contornar o vazio.
     Miguel fechou a mão em punho. Respirou fundo de dentes trincados.
     — O que fiz não tem perdão e não vou implorar por isso. Mas eu te amo e amo muito. Eu era apenas um moleque — a palavra foi dita com nojo —, eu não sabia o que estava fazendo nem tinha noção das consequências. — Valentina riu com descaso — Eu queria apenas me vingar do Gustavo por achar que por culpa dele eu havia perdido meus pais. Por favor, Valentina — pediu com súplica. Valentina o mirou. — Procure entender e se colocar no meu lugar.
     Os traços relaxados no rosto de Valentina deram lugar ao estresse.
     — Quer que eu me coloque no seu lugar? Que culpa tinha meu pai e minha mãe quando você decidiu destruí-los? Que culpa tinha eu e meu irmão, Miguel? — alterou-se, irritada.
     — Exatamente isso. Para mim César tinha culpa tanto quanto Gustavo tinha. Eu queria apenas vingança pois pra mim meus pais estavam mortos graças aquela guerra! — disse com revolta — Você não entende? — falou depois de um tempo — Eu estava sozinho. Sem ninguém. Eu havia perdido meu pai, pouco tempo depois perdi minha mãe por conta de uma maldita depressão adquirida pela a perda do meu pai. Duas tragédias ocasionadas pelo mesmo motivo.
     — Tivesse tomado qualquer outra atitude menos a de ferir minha família.
     — Eu poderia ter feito isso, mas eu era inconsequente demais para pensar em qualquer outra possibilidade de me vingar. Acredite, Valentina — deu um passo a diante — O que eu menos queria era te machucar... Quando cometi aquele crime terrível foi por medo de ser descoberto. Sua mãe tinha achado provas na minha mala, eu não tinha a intenção de fazer mal a ela.
     Valentina se afastou dando um passo para trás.
     — Não acredito em você. E qualquer que seja a verdade nada apagará da minha memória a sua atrocidade. — rebateu entredentes
      Valentina se desviou de Miguel pronta para entrar novamente no quatro. Miguel a segurou pelo o braço esquerdo a virando com delicadeza.
     — Por favor, nos dê mais um chance de recomeçar. Agora estamos juntos... Eu, você e Max.
     — Miguel...
     Foi interrompida antes de terminar a resposta.
     — Por favor! Olhe a nossa volta. Nossas famílias estão incompletas. Você ainda tem um pai e um irmão... Eu não tenho ninguém além de você e Max. — as palavras doíam, causando pressão em seu peito
     Valentina encarou Miguel por alguns segundos, pensativa.
     — Você matou a minha mãe, Miguel! — lembrou-lhe
     — E paguei por isso. — a soltou — Não passei anos preso e vivendo uma tortura em vão. Quando decidi cometer os crimes, decidi pagar por eles. Ainda tentei parar e contar a verdade, mas Igor já havia me enrolado em seu anzol de tal forma que não tinha como escapar. Até que preferi arriscar. Criei coragem e falei para o Gustavo o que eu tinha feito e me entreguei a polícia.
     Valentina estava atenta a cada palavra. Girou a cabeça para a porta, voltando a pensar. Respirou fundo após alguns segundos.
     — Por mais que eu te perdoe ainda tem meu pai e meu irmão — Valentina olhou para Miguel. — Eles jamais me perdoaria se eu voltasse com você. Seria como se eu tivesse os traindo.
     — Você que sabe, Valentina! Seu pai tem a vida dele, Márcio a dele e você a sua. Cada um faz da sua vida o que achar melhor. Só não deixe de ser feliz e de fazer o que quer de fato por medo do que os outros vão pensar. A única pessoa que pode viver sua história é você mesma.
     Miguel desviou de Valentina e entrou no quarto.
     Pega pelas palavras finais o vazio se alastrou pelo o olhar de Valentina. Parada como estátua de costas para a porta, inexpressiva, sabia que no fundo em partes Miguel tinha razão.
    

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora