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     Protegidas por rifles e fuzis, deram a volta na fazenda por dentro da floresta. Luísa e Esmeralda miravam na escuridão.
     — Parece que não tem ninguém. — deduziu Catarine com o silêncio da noite
     — Continue atenta. Não podemos confiar. — disse Luísa
     Esmeralda parou estranhando a luz amarela no lado leste.
     — O que foi, Esmeralda? — perguntou Júlia de sobrancelhas franzidas
     — Tem uma luz bem ali. — apontou com o dedo
     Olharam.
     — Temos que ir até lá. — Valentina inclinou-se para ir, mas Luísa a deteve segurando-a pelo braço
     — Não se precipite. Nao sabemos o que tem lá.
     — Provavelmente nossos maridos. — rebateu
     — Só eles?
     Valentina estreitou os olhos. Não respondeu.
     — Precisamos nos aproximar da casa sem colocar em risco nossas vidas e as vidas deles. — Júlia procurou uma entrada usando a mira do fuzil como binóculo
     — Que seja rápido. Preciso encontrar minha filha — murmurou Yara.
     Ficaram paradas por um tempo, pensando em como se certificarem que realmente estavam lá antes de invadirem a fazenda.
     Um homem forte de trajes caipira vigiava a entrada do celeiro com uma espingarda em mãos.
     — Ei. Psiu! — Ele mirou na escuridão  — Calma meu bom homem — Júlia surgiu de mãos erguidas em sinal de rendição —, é que estou perdida.
     — O que está fazendo aqui? — perguntou rompante
     Julia abaixou as mãos devagar.
     O homem a olhava atento. Seguiu seus movimentos com a arma.
     — Eu estava andando pela floresta, mas acabei que me afastando demais da estrada. Então achei essa casa e pensei que aqui alguém poderia me ajudar. — explicou calmamente
     Foi encarada por um tempo.
     Deu um sorriso gentil.
     Depois de um minuto ou dois o rapaz soltou os ombros e abaixou a espingarda.
     — Vem. Vou te ajudar a encontrar a estrada.
     — Obrigada. — agradeceu con meiguice
     Julia seguiu o homem dando a volta na enorme casa, deixando a porta do celeiro livre.
     Luísa e Esmeralda correram para o celeiro.
     Esmeralda deu cobertura enquanto Luísa puxava o trinco de ferro.
     Os olhos de Luísa brilharam.
     — Luísa? — sussurrou Gustavo, extasiado
     Correram até um ao outro e se abraçaram.
     — Pensei que nunca mais fosse te ver. — choramingou Luísa com o rosto escondido no peito largo de Gustavo
     — Shhh. Agora estamos juntos de novo.
     Marcos, Guilherme e Felipe a abraçou.
     Esmeralda entrou.
     Lobo andou em sua direção. Segurou com as duas mãos o rosto fino e preencheu seus lábios com os lábios macios de Esmeralda.
     — Temos que ir. — Falou Luísa se desprendendo dos quatro pares de mãos que a cercava — Não demorará para saberem que estamos aqui.
     Luísa tirou a alça da mochila do ombro e a soltou no chão.
     — O que é isso? — perguntou Marcos  os olhos curiosos
     — Trouxemos armas — abriu o zíper — Não vão conseguir se proteger com pedaços de madeira.
     Gustavo olhou o pedaço de madeira em sua mão.
     Luísa entregou facas para Felipe e Marcos e um revólver para Guilherme.
     Ficou de pé e guardou uma pistola no coldre preso em volta de sua cintura. Passou a alça do fuzil por cima da cabeça e o estirou para Gustavo.
     — Melhor você ficar. — disse ele
     — Você consegue lhe dar melhor.
     Gustavo encarou a arma estirada por alguns segundos. Jogou a madeira de lado e o recebeu. Checou o cartucho de balas.     
     — Tudo bem, vamos.
     — E nós... Não recebemos nada? — César deu um passo à frente
     O olhar de Luísa o encontrou.
     — Fico feliz em te ver — disse ela. O olhar percorreu por Márcio, Lobo, Pedro e Miguel parando no vazio como se esperasse ver mais alguém. — Ele...
     — Não. — Gustavo a interrompeu. Luísa o olhou, sem entender. Fitou o chão entendendo o olhar negro e opaco.
     — Entendo. — disse  a voz baixa
     — Peguem suas armas. Não podemos enrolar mais. — ordenou Esmeralda
     — Não podemos ir e deixar essas pessoas aqui. — Felipe arrastou o braço no ar para os homens e mulheres encolhidos e com medo no fundo do celeiro
     — Não temos armamentos o suficiente e muito menos munição para nós proteger e protegê-los.
     — São pessoas. O que fazem com elas é algo completamente terrível.
     Esmeralda arfou pronta para protestar, mas desistiu ao clamor de Felipe.
     Olhou para alguns segundos as pessoas desprotegidas e amedrontadas.   
     — Tudo bem — O olhou por fim —, mas dar cobertura para que fujam vai ser obrigação sua.
     Felipe assentiu.
     Esmeralda e Luísa saíram na frente.
     — Que mulheres da porra são essas! Obrigado Deus! — sussurrou Lobo para Gustavo, seguindo-as
     — Para onde está me levando? — Júlia olhou em volta. Enrugou as sobrancelhas para o rastro no chão de terra que não parecia ter sido feito por automóvel ou animal.
     — Te mostrar o caminho de casa.
     Júlia mirou o homem. Deu um gemido, pega de surpresa por um tapa na cara.
     As mãos grandes e grossas agarram-se no seu pescoço a prensando contra a parede.
     — Tá perdida? — perguntou o rapaz com o olhar insano
     — Me solta! — ordenou entredentes a voz falha 
     Ele a cheirou a orelha!
     Júlia engoliu uma bola de saliva que descia como uma bola de tênis. O calafrio subiu na espinha eriçando os pêlos da nuca.
     — Gostei. — sussurrou depois de dar um profunda fungada
     Cautelosa, Júlia levantou a parte de trás da blusa e segurou com firmeza o cabo de um punhal.
     — Que tal se nos divertisse-mos um pouco? — sugeriu o jovem com o rosto escondido no pescoço de Júlia
     — Eu topo. Mas antes me faz um favor?
     — Qual? — perguntou ainda a afagando
     Júlia ergueu a mão e a baixou como um raio cruzando o céu, perfurando a jugular do homem com o metal.
     O rapaz soltou um grunhido pavoroso. A soltou e impulsivamente levou a mão até o ferimento. Boquiaberto e de olhos esbugalhados caía paulatinamente de joelhos.
     — Não toque em mim! — Júlia franziu o nariz com repulsa. Cuspiu no corpo caído e agonizando.
     Correu para o celeiro para encontrar-se com os outros.
     — Onde está Catarine e as outras? — perguntou Marcos à Luísa
     Ajudavam os outros prisioneiros a escaparem para a floresta.
     — Hope ficou cuidando das crianças. Catarine, Valentina e Yara estão nos dando cobertura pela floresta.
     Gustavo olhava em volta, cismado.
     — Não estou gostando disso. — disse oscilando entre as direções leste e oeste
     — Do que está falando? — César vincou a testa e o encarou
     — O silêncio. Está tudo muito calmo. Não era pra ser assim.
     — Gustavo. — Lobo se pôs ao seu lado — Não era para estarem nos impedindo?
     — Também estou estranhando.
     Conversavam em sussurros.
     — Será outra emboscada?
     O olhar de Gustavo cruzou com o olhar confuso de Lobo.
     Pararam em uma área aberta dentro da floresta.
     — Vamos nos separar. — propôs Gustavo
     — Quê?! — Guilherme se sobressaiu, sem entender — Isso é muito perigoso. — alertou
     — Eu sei. Mas está sendo tudo muito estranho. Foi muito fácil a nossa fuga.
     Luísa tomou sua vez na conversa.
     — Júlia deu conta do cara que estava vigiando a saída. Talvez os outros estejam dormindo.
     Lobo riu um passo atrás de Felipe.
     Se viraram para olhá-los.
     — Luísa... você estava indo tão bem. Não estrague tudo agora. — falou entre o sorriso sarcástico
     Luísa franziu o cenho.
     — Por falar em Júlia... onde ela está? — Guilherme a procurou de sobrancelhas baixas fazendo sombra nos olhos claros
     — Yara também não está aqui! — percebeu Felipe
     Escondida atrás da parede sul da casa, Yara esperou o momento certo para entrar.
     Respirou fundo, ergueu a pistola de igual com seu rosto e virou-se para dar a volta.
     Preparou-se para atirar ao deparar-se com Júlia.
     Júlia fincou os pés nos chão de imediato, paralisada com o susto que tomara.
     — O que está fazendo aqui? — Yara abaixou a arma
     — Eu que te pergunto. Não era para você estar nos dando cobertura na floresta junto à Catarine e Valentina?
     — Não vou embora sem a minha filha.
     Passou por Júlia, procurando uma entrada. Júlia a seguiu.
     — Melhor irmos e pensar em como tirá-la daqui. É muito arriscado invadir a casa depois de conseguirmos sair despercebidos. Não sabemos com que tipo de pessoas estamos lhe dando.
     — Já disse e não vou repetir.
     Júlia segurou no braço de Yara e a girou para que a olhasse de frente.
     — Não podemos...
     Foi interrompida.
     — Se fosse Hope, não ia querer salvá-la?
     Júlia estreitou os olhos os lábios se fechando numa linha reta.
     Yara puxou o braço com hostilidade.
     — Foi isso o que pensei.
     Virou-se para o Leste novamente, voltando a procurar por uma maneira de adentrar a residência.
     — Sabe que está arriscando a vida de Yasmin,  não sabe? — a acompanhou
     Deram a volta sorrateiramente.
     — A vida de Yasmin corre perigo a cada segundo que passa. — respondeu seca
     Júlia suspirou. Nao havia nada com que fizesse Yara desistir.
     — Então vou ficar. — declarou
     — Não precisa. — objetou sem a olhar. Observou se havia movimentação.
     — Se não vai desistir, então vou ficar e lutar com você.
     Yara a olhou.
     — Pense em Hope.
     — Ela tem o Guilherme. E ela já está bem grandinha... sabe se cuidar. — tirou um revólver da cintura e o destravou
     Rodearam a casa encontrando uma porta de ferro. Esperaram por alguns instantes para se aproximarem.
     — Não tem medo de morrer? — a voz de Yara era quase um sussurro no final
     — Faço parte da família mais insana e cheia de problemas que existe no mundo. Então... Não.
    
    
    
    

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora