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     Não aceitando a repreensão de Lobo, Pedro o encarou de sobrancelhas baixas com os dentes presos aos lábios. Deu um passo, mas foi contido com a mão de Gustavo em seu peito.
     — Não me obrigue a te deixar aqui.
Pedro mirava Gustavo com o olhar truculento.
     — Sabe que não tenho medo de você. Não sabe, Gustavo?
     — Não quero que sinta medo. Quero que respeite minha família. — disse com plenitude
     A suavidade na voz de Gustavo era confusa aos ouvidos de César e Pedro. Quem o conhecia sabia perfeitamente que bons modos e fala mansa não era sua especialidade.
     — Estou cansado de guerras, matanças, desavenças dentro da minha própria família... traições...
     Pedro mordeu o lábio deduzindo traição como indireta.
     — Não me julgue, pois você sabe...
— É por te conhecer que te julgo e não desacredito. Lembro perfeitamente do nosso passado.
     — Àquele tempo foi completamente diferente. Fui eu quem salvou sua vida naquele sítio... ou esqueceu?
     — Jogando na minha cara só mostra que ainda continua o mesmo. — na voz o desapontamento
     Pedro ficou em silêncio por um longo momento.
     — Não quero que me perdoe, muito menos que seja meu amigo! Não preciso de você, Gustavo — a arrogância exalava. — Pelo contrário você me deve muito, pois salvei sua vida, a de Luísa e de Guilherme. Se não fosse a mim e Camila, Henrique teria destruído todos vocês.
     Sem esperar por respostas Pedro desviou de Gustavo, seguindo seu caminho.
     No olhar de Gustavo o vazio.
     — Vamos, pai.
     Guilherme apertou sutil o ombro de Gustavo.
     O dia passava rapidamente quando encontraram uma casa no meio do matagal. O brilho da lua dominava o céu junto às reluzentes estrelas.
     — Será que mora alguém aqui?
     Marcos olhava de longe o enorme casarão cercada de luzes.
     — Podemos ir lá e verificar. — propôs Guilherme
     — Nossos rostos devem estar nos jornais. É arriscado demais irmos até lá. — falou Gustavo observando a redondeza
     — Não temos pra onde ir. Nossas casas não são mais seguras. — assinalou Lobo ao lado de Gustavo
     — Não temos outra opção. Ficar vagando na floresta não é uma boa ideia — disse César com as mãos adentradas nos bolsos da calça. Virou a cabeça para Gustavo .
     Gustavo tentava decidir qual atitude tomar. Dava para sentir a tensão emanando de seu corpo.
     Decidido, deu o primeiro passo indo em direção a casa.
     — Gustavo! — disse Lobo. Surpreso com o avanço inesperado
     Ignorado pelo irmão, Lobo e os outros se olharam. Não vendo alternativa os seguiram.
     — Não temos tempo a perder.
     — Se formos pegos de novo?
     — Não vamos.
     — Não podemos voltar pra prisão, Gustavo.
     — Não vamos voltar.
     — Como tem tanta certeza? Você mesmo disse que nossos rostos podem estar nos jornais. — tentava convencê-lo a desistir.
     — Sabemos nos virar, Rafael.
Lobo encarou com estranheza a frieza no comportamento de Gustavo."
     "Yasmin se debatia amordaçada, presa numa cadeira.
     — Pare de escândalo! — ordenou severo o senhor
     Teve a atenção roubada com o soar da campainha.
     — Cuidem pra que ela não faça barulho. — avisou aos filhos em volta de Yasmin
     Desceu as escadas com ligeireza.
     Deu de cara com Gustavo parado na porta. Estreitou os olhos, confuso em haver tantos homens parados em sua casa, com trajes sujos de sangue, exalando forte cheiro de suor.
     — Quem são vocês? E o que querem aqui?
     — Nós estamos perdidos. — explicou Gustavo — Nos envolvemos numa briga e estão querendo nos matar... poderia nos ajudar nos escondendo aqui?
     O velho estreitou os olhos, desconfiado.
     — Só pra avisar... não matamos ninguém, tá. — falou Felipe se destacando entre os últimos
     — Tudo bem — concordou depois de um momento. — Dando a volta vão encontrar um celeiro... Podem ficar lá por enquanto.
     — Obrigado. — agradeceu Gustavo educadamente
     Deram a volta nas compridas paredes. Avistaram o celeiro distante da casa.
     — Fiquem atento a qualquer movimentação estranha.
     Gustavo destravou a tranca e puxou as portas. Arregalaram os olhos pegos de surpresa com a cena agoniante de inúmeros homens de diversas idades, seminus, amontoados uns aos outros.
     Alguns se encolhiam, tensos e amedrontados. Outros sem vida já em decomposição, largados com descaso.
     — Meu... Deus! — sussurrou Gustavo pela primeira vez aterrorizado com o que via.
     Ver aquelas pessoas desprezadas, feridas e maltratadas parecia estarem num filme de terror.
     Felipe se virou pronto para correr. Ergueu as mãos se rendendo a mira do revólver de um dos filhos do fazendeiro.
     — Sejam todos bem vindos! — o sorriso alargou, enrugando o canto dos olhos insanos."

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora