33

108 10 16
                                    

     Júlia segurou a maçaneta e olhou para Yara esperando a permissão para abrir.
     Yara estremeceu um pouco.
     Mirou seu revólver para a porta e assentiu com um balançar de cabeça.
     Júlia então abriu.
     Entraram na casa.
     Júlia fechou a porta com cuidado para não fazer barulho. Yara ligou uma lanterna.
     — Não acha que a claridade vá chamar atenção?
     — Tem razão. — desligou
     Esperaram que os olhos se adaptassem a escuridão. Seguiram por um corredor comprido. O ambiente fedia a enxofre.
     Viraram a direita.
     Havia quadros com fotos de pessoas — provavelmente da família.
     Se aprofundaram no corredor mantendo suas armas sempre apontadas.
     Olharam para dentro de uma porta que dava acesso a cozinha.
     Júlia entrou. Não havia nada além de uma mesa no centro com dez cadeiras. Um armário com louças de porcelana; fogão, geladeira e uma pia embaixo da janela do lado norte.
     — A casa está vazia? — a voz de Yara sussurrou atrás de Júlia
     — Não sei.
     Júlia se virou para sair do cômodo, mas algo sobre a mesa a chamou a atenção.
     Pegou um objeto quadrícular que parecia um pano. A espessura era um pouco espessa para ser um tecido.
     O "tecido" dançou entre seus dedos, polegar e indicador, o analisando minuciosamente sem expressão.
     Uniu as sobrancelhas e seus olhos se encheram de ansiedade quando identificou a origem.
     — Isto é pele!
     Júlia largou a peça na mesa e se retirou quase correndo quando as vozes e passos se arrastaram em aproximação da cozinha.
     — Estão vindo. — avisou Yara, apressada
     — Temos que nos esconder.
     Retrocederam para a porta que entraram.
     — Não vai dar tempo. — disse Yara, a voz embargada
     Júlia girou em círculo procurando uma saída em volta, avistou uma porta a direita.
     — Vem.
     Abriu a porta e entraram.
     A fechou.
     Miraram na porta esperando que alguém pudesse entrar.
     — Não estão longe. — disse uma voz masculina passando no corredor do lado
     — Papai está furioso. — respondeu outra voz um pouco mais grave que a outra
     A porta do corredor bateu emitindo um estrondo.
     Júlia abaixou a pistola e suspirou por um segundo, aliviada.
     — Vamos procurar Yasmin.
     Exploraram a dispensa.
     Júlia pegou um frasco numa prateleira de ferro. O cerrou por alguns segundos rápidos. Virou o vidro de cabeça para baixo chacoalhando o líquido amarelado que conservava globos oculares.
     — Essas pessoas são doentes! — sussurrou com espanto
     Devolveu o frasco ao seu lugar.
     Yara observava o quarto de cima à baixo. Deu um passo para a direita. Seu olhar caiu ao chão com o barulho de madeira oca.
     Deu duas batidinhas com o bico do sapato no chão coberto por um tapete liso e marrom. O mesmo barulho se repetiu.
     Júlia a ajudou a retirar o tapete.
     Um quadrado, que aparentemente seria uma porta, se destacava do restante do piso.
     Se olharam!
     Levantaram a porta e encararam a porta de madeira que dava acesso para um porão improvido de luz.
     Com passos cautelosos desceram a escada mantendo suas armas frente ao peito, miradas para o vazio.
     A luz da lanterna de Yara quebrou a escuridão.
     A sala estava quase vazia. A parede frente à escada era ocupada por uma maca enferrujada e uma luminária em pé do lado. Do lado leste uma bancada com ferramentas de operação, outras de mecanismo organizadas em fileiras.
     O olhar de Júlia congelou ao fitar o bisturi.
     — Que... lugar... é... esse?! — a pergunta era composta por surpresa e medo.
     — Vamos achar Yasmin e sair logo daqui.
     Yara andou depressa até uma porta dentro do porão, mas estava emperrada.
     Girou a maçaneta insistentemente.
     — Droga! — desistiu, irritada
     — E se ela não estiver aqui? — pensou Júlia
     — Alyssa foi muito clara ao dizer que Yasmin foi trazida para cá.
     — Ela pode ter se enganado. — persistiu
     — Júlia. Eu não vou sair daqui enquanto eu não tiver a certeza de que minha filha não está aqui. — disse vivamente
     Júlia mordeu os lábios, nervosa.
     — "Tá". Então vamos.
     Prepararam-se para correr. Os pés colaram-se no chão e os batimentos cardíacos aceleraram.
     Os fios grisalhos da barba volumosa faiscavam como pingos de luz no negror. Aos poucos se tornavam mais fortes.
     O senhor junto à um rapaz surgiram abruptamente, ambos segurando um rifle de caça.
     A luz do porão se acendeu. O jovem pousou a mão no interruptor, de olhos fixos a Júlia e Yara.
     — Ora, ora. Que bela visita esta, não? — O velho falou com um sorriso largo e amarelado enrugando os cantos dos olhos
     A voz rouca e grossa quebrou o silêncio aumentando a tensão.
     Júlia e Yara seguraram suas armas com as duas mãos, deixando um pé um passo a frente do outro, os ombros eretos em posição de ataque.

Continua em O Fazendeiro
    

VIDA BANDIDA A última bala Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora