Arthur ficou em silêncio por um tempo. Esmeralda deu alguns passos até a cama. Receosa estirou a mão encontrando a mão gélida e trêmula de Arthur.
— Desculpe por ter demorado tanto tempo. É que aconteceu tantas coisas...
Arthur a interrompeu com a voz tranquila.
— Eu sei de tudo, não se preocupe. Carregar nas costas o título de membro da família bandida é um peso muito grande que trás muitas responsabilidades e consequências.
Esmeralda franziu os lábios e fungou.
Sem esperar mais tempo deu um abraço apertado em Arthur.
Arthur gemeu.
— Desculpe, filho. — O soltou rapidamente
O sorriso de Arthur era sereno. Mesmo com o ferimento ardendo ininterrompidamente não se deixava abater.
— Está tudo bem.
As mãos tensas de Esmeralda escorregou pelo jeans. Sem reação pensou em como iniciar uma conversa.
Gemeu esperando o nó na garganta desatar.
— Er... então, como isso aconteceu? — gesticulou para a coxa enfaixada
— Tentaram me matar, mas Max me protegeu.
O coração de Esmeralda acelerou quando as palavras me matar foram citadas.
— Ainda bem que não estava sozinho.
Arthur encarou a faixa branca em sua perna por alguns segundos.
— Meu pai ainda não foi solto? — olhou para Esmeralda por fim
— Ainda não. Mas logo ele estará livre.
— Ainda há tanta coisa que quero saber. Tudo sobre mim, você, meu pai, nossa história.
— Irei contar. — a ansiedade refletiu no canto da boca enrugado num meio sorriso
Arthur se arrastou na cama sentando-se. Franziu a testa com o incômodo na perna.
— Cuidado. Não se esforce.
— Está tudo bem.
— Então, quando poderá ir embora?
— Provavelmente ainda hoje.
— Virei te buscar...
— Mãe... — a olhou com acusação e preocupação — Eu sei que foi você e a mãe de Alyssa, Yasmin e Max que fugiram da prisão — falou baixo quase num sussurro — vi na tevê... estão em rede nacional. Então, peço para que vá embora e não volte.
A face de Esmeralda ficou fria como gelo. O sangue escorreu de seu rosto deixando sua expressão imóvel como uma estátua.
— Não quero que corra o risco de voltar pra prisão.
— Não quero me afastar de você. Não novamente. — insistiu
— Ficaremos se não for. Mãe, seu rosto está em todos os lugares. Não se entregue assim tão facilmente, não por mim. Miguel está cuidando de nós.
Esmeralda baixou a cabeça. Fechou as mãos em punho.
— Vai embora. Agora! — pediu severo. Esmeralda ergueu a cabeça. — Não demorará para que a polícia chegue aqui. Não sabendo que a viram.
Esmeralda lembrou da enfermeira pegando o telefone preparando uma ligação. Se seu rosto está em todos os lugares não é estranho que ela estivesse alertando a polícia.
— Eu te amo, Arthur. — o beijou o alto da testa. Afagou os cabelos caídos na testa e o encarou os olhos — Seu pai e eu viremos te buscar.
— Eu estarei os esperando ansioso. — a beijou na bochecha
Esmeralda olhou nas direções esquerda e direita do corredor. Não havendo nenhuma movimentação suspeita correu para a direita. Vozes e passos alterados percorriam o corredor sem serem vistos.
Entrou no quarto ao lado e fechou a porta, escondendo-se.
Pacientes internados, a olhava com estranheza deitados em suas camas.
Esmeralda engoliu seco.
A testa brilhava molhada pelo suor.
Passando as falas e passos, saiu.
Observou se já haviam ido. Se eram policiais foram para o quarto de Arthur.
Esmeralda correu até a saída, mas pensou ser arriscado demais sair pela porta da frente, pois poderia haver policiais à sua espera.
Abriu a larga porta que dava acesso a saída de emergência e desceu as escadarias saltando os degraus.
O sol já apontava, mas não iluminava ainda o horizonte.
Pensou em ir até o carro que deixou estacionado, mas para isso teria de passar pela a entrada, e com certeza, a enfermeira já dera os detalhes de como estava vestida.
Correu para o Leste. Ajustou a toca na cabeça a apertando um pouco mais para ocultar ainda mais sua face.
Distante as luzes coloridas em vermelho e azul das lanternas das sirenes reluziam. Polícias circulavam pela entrada vasculhando o perímetro.
— Eu vou te encontrar, filho.
Correu de volta para a pousada.
Andava com as mãos adentradas nos bolsos da blusa de frio, debaixo da escuridão que aos poucos deixava o céu.
De cabeça baixa lembrava dos detalhes no rosto de Arthur — Lobo enlouqueceria quando o visse, a xerox perfeita. — sorriu ao imaginar a reação de pai e filho quando se vissem. Podia prever o olhar arregalado de Lobo e o sorriso largo enrugando toda sua face seguido de um grito surpreso e comemorativo.
Foi tirada a concentração ao ouvir o ronco do motor de um carro se aproximando pela estrada.
Evitou olhar por medo de ser a polícia.
O coração acelerava e a vontade de correr aumentava de acordo os metros se diminuía.
Sentiu o sangue escapar de seu corpo quase parando suas pernas quando percebeu que quem quer que seja reduziu a velocidade quase parando o veículo do seu lado.
— Esmeralda? — chamou a voz grossa falando mais alto que o ronco do motor
Esmeralda olhou deixando o rosto um pouco encoberto pelos cabelos. Parou e se virou para o carro ao ver que era Miguel ao volante.
Miguel parou o carro por completo e ainda agarrado ao volante disse:
— Entra aí. Quanto mais rápido chegar melhor.
Esmeralda não respondeu. Deu a volta no carro e subiu.
Bateu a porta, mantendo a visão a frente colocou o cinto de segurança.
— Como demorou pensei em vir atrás de você. As meninas estão preocupadas, estão com medo de que tenha sido pega. — falou olhando a estrada
— Foi por pouco. A enfermeira me reconheceu e chamou a polícia. Por sorte consegui escapar. — mordeu a unha, nervosa, com o braço apoiado na porta ainda olhando para fora do vidro aberto.
— Sabe que o que fez foi muito arriscado, não sabe? E ainda pode colocar em risco as outras.
Miguel dirigia mantendo a velocidade dentro dos limites.
— É... eu sei. Mas não pude ignorar o fato do meu filho estar no hospital com um tiro na perna.
Miguel suspirou.
— Entendo.
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VIDA BANDIDA A última bala Parte 3
ActionApós a prisão da família bandida, Max, Alyssa, Arthur, Yasmim, Camila e Miguel ficaram sem destino certo. Sobraram muitas pontas soltas que precisarão ser unidas e perguntas que precisa de respostas, uma delas, o que houve com as crianças? Onde está...