O cara do bar

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Sem regras, vocês acreditam que eu disse isso?
Pasmem! Sem regras eu havia dito sem ter a mínima ideia em como aquela noite terminaria.

Acordei já era de manhã sentindo a luz que atravessava as portas de vidro me ferir os olhos, odiava ficar de ressaca e odiava um pouco mais toda essa claridade pela manhã, estava convicta de que iria cercar todas aquelas janelas com ótimas cortinas que não atravessam luz. No entanto, se reparei bem, o meu quarto na casa da Alice não havia tantas janelas assim. Sentindo o peso dos vários e vários copos de bebidas da noite anterior pesar sobre a minha cabeça, levantei o meu corpo exausto e tive a total certeza de que não era o lugar ao qual eu deveria estar.

—Essa não!

Acordar numa casa estranha nas primeiras horas na cidade não era exatamente o meu grande plano e só piorou quando meus olhos o viu numa poltrona no canto menos privilegiado de luz naquele cômodo.

—Droga, quem é você? —antes de conseguir qualquer resposta, ergui o fino lençol branco que me cobria só para ter certeza de que não estaria nua na cama de um estranho. —Essa não!
—Hey relaxa! —ele se divertia enquanto levantava-se para abotoar sua calça. —Se eu me lembro bem, você quis isso tanto quanto eu.
—Eu não disse que não, mas não era bem isso que eu queria... é que... Eu não deveria ter bebido tanto!
Me enrolei no lençol enquanto procurava minhas roupas que, provavelmente estaria em algum lugar daquele quarto.
—Era para eu me sentir péssimo ou você se sentir melhor? Porque ainda não entendi o que você quer disfarçar.
—Não, não é nada disso! —Tentei evitar o olhar diretamente, não me senti confortável com a situação e era bem provável que eu estivesse vermelha de vergonha. Eu literalmente nunca fiz algo assim na vida e estava me sentindo péssima, mas é como dizem, sempre tem a primeira vez.
—Tudo bem, então talvez você esteja procurando isso?
O olhei por um instante e lá estava ele com minha calcinha pendurada no dedo e acreditem, ainda era possível piorar já que eu nem me lembrava do nome dele. Me aproximei um pouco hostil e antes que pudesse pegá-la, rapidamente ele se levantou e me prendeu aos seus braços.
—Ah qual é Liv, vai mesmo fingir que nada aconteceu?
O que eu poderia dizer? Mas também não poderia culpá-lo. Após alguns segundos silenciosos me peguei o olhando diretamente em seus olhos castanho claro quase ao tom de mel, sua barba bem desenhada e baixinha me fez lembrar do quanto o C.O odiava deixar a barba mesmo eu pedindo muito.
—Eu só não estava pronta para isso.
Decidi que ser sincera seria a melhor maneira de me livrar daquela situação constrangedora.
—Tudo bem, tudo bem. —ele se afastou em silêncio e então ficou tão estranho quanto eu, havia entendido.
Em meio aquele silêncio assombroso que nos atordoava pude encontrar minhas roupas espalhadas ao chão e tentando não complicar mais o que já não estava bom, vi a porta do banheiro aberta e corri para lá como se fosse um abrigo de furacão e lá fora estava a tempestade.

Abri a torneira da pia e molhei bem o meu rosto tentando controlar a minha respiração fora de órbita, amarrei o meu cabelo assanhado e me vesti, me olhei pelo espelho desesperada em como iria encará-lo e ciente de que não haveria escolha, só enxuguei o rosto e as mãos e saí logo para fora antes que perdesse a recente dosse de adrenalina que pulsava em meu corpo. Eu precisava daquilo.

—Você está bem?
Ele me olhou confuso certificando-se que eu não iria ter um ataque ali mesmo. Era possível. Aliás, ele já estava todo vestido e ainda sem jeito.
—Estou. —Corri meus olhos pelo quarto em busca do meu celular ou de alguma bolsa, já que não conseguia me lembrar o que havia levado para o bar na noite passada. —Será que você pode chamar um uber para mim? Já que eu não acho o meu celular e...
—Eu acho que você não vai precisar de uber considerando que a Alice mora na casa ao lado e aqui está o seu celular.
—Ah, eu... Tudo bem, preciso ir.
—Eu te levo na porta.
Ele me entregou o celular e sim, vou continuar o chamando de "ele" até descobrir o seu nome.
Então abriu a porta e me olhou como se fosse uma despedida considerando os últimos acontecimentos.
—A gente se vê por aí?
—É claro.

Seria inevitável considerando que éramos vizinhos, no entanto, caso acontecesse, era certo de que não saberia lidar com o reencontro.

🌵

Ao chegar em casa chamei pela Alice, mas ela não respondeu e então me tranquei no quarto e fui tomar um banho bem gelado, eu precisava disso pelos próximos 60 minutos. Não me lembrava como era ruim o dia seguinte após a bebedeira, mas a noite passada serviu de lição para me lembrar bem de que não queria voltar a fazer isso tão cedo novamente. Anotem isso, vou precisar que me lembrem. Vesti uma roupa confortável e fui até a cozinha em busca de água já que estava me sentido bem enjoada e não conseguiria comer nada, apesar de que estava faminta. Ao abrir a geladeira notei a mensagem que a Alice havia deixado no meu celular.

"Liv, precisei vir trabalhar, me desculpe. Tem café forte na cafeteira e fiz um caldo pós bebedeira para você pois sei que gosta. Te vejo mais tarde."

Ela me conhecia bem mesmo.
Deixei o café de lado e optei pelo caldo depois de esquentar no microondas.
Passei o dia arrumando o resto das coisas no meu quarto depois de tomar várias aspirinas para dor de cabeça e claro, dividia o meu tempo em dobrar minhas roupas para guardá-las e correr no banheiro para vomitar. NUNCA MAIS IREI BEBER.

Depois de quase tudo arrumado, deixei para comprar a cortina depois, pois precisava de ajuda da Alice, me sentei na varanda do quarto e fiquei ali sentindo o sol bem fraquinho do fim de tarde esquentar a minha pele, eu amava fazer isso quando chegava do antigo trabalho. Até que de repente ao olhar a casa ao lado, notei o meu encontro da noite passada saindo de casa, ele parecia tão ressaqueado quanto eu e a prova disso, eram os óculos escuros. Ele olhou para a casa da Alice por um tempo e sem pensar muito abaixei na sacada para não ter nenhum risco de ser vista por ele e depois de minutos assim, quando voltei a me levantar, o cara já não estava mais lá. Não sei se era um alívio, mas achei que seria melhor evitá-lo pelo menos por enquanto, afinal, eu acabei de chegar e ainda estou me recuperando de uma tragédia.

Acaso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora