Fiasco

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Algumas horas mais tarde, vários frascos de remédios e dois litros de soro com medicação, eu estava chegando em casa após meia hora de sermões sobre não passar raiva ou estresse (como se alguém tivesse controle sobre isso) e recomendações de repouso total pelos próximos dias.

— Eu estou na casa certa? — debochei após ver a grama aparada e o pequeno jardim da frente bem cuidado. Geralmente a Alice não ligava muito para isso.

— Eu disse que a coisa era séria. — Noah respondeu se divertindo com a situação. — Se a conheço bem, deve tá soltando os cabelos de nervo.

O Noah tinha mesmo razão, era mais sério do que eu pensava. A casa estava completamente arrumada, não havia nem um grão minúsculo de poeira ou qualquer coisa que se parecesse com poeira, não havia nada fora do lugar, nem mesmo as almofadas do sofá. Não que em outras ocasiões rotineiras fosse bagunçado, mas tudo estava brilhando e em seu devido lugar.

— Alice? — a chamei temendo estar em uma realidade paralela. — Será que existe uma Alice nesse multiverso?

— Eu ouvi isso engraçadinha. — respondeu Alice chegando da cozinha arrumada como se fosse uma CEO de uma grande empresa. Mesmo ela sendo de fato uma CEO de um dos hotéis de luxo da cidade, não que ela se vestisse a caráter. Até o cabelo a qual amava, estava liso.

— Gostei do terninho. — Noah ironizou sabendo o quanto ela detestava usar esse estilo de roupas.

— Eu devo entrar no personagem ou jogo tudo no ventilador? — Alice encarava o teto como se ele fosse dar a solução que ela tanto almejava.

Sempre que os pais voltavam a cidade para ver a filha e seu desempenho no negócio da família, Alice se questionava se era hora de se revelar a "ovelha negra" e mostrar quem era de verdade. Mas a devoção e obediência aos pais acabava sempre em primeiro lugar. Jamais teria coragem de desapontar os rigorosos Martinez.

— Está pronta para as consequências? — apontei. Era a única preocupação a qual Alice teria que lidar depois de contar aos pais que ela não era exatamente a hortênsia a qual eles cultivaram por anos. Na verdade, estava bem longe de ser uma bela hortênsia, talvez um cacto do Saara.

— Okay, o personagem.

— E o Léo, ele vem? — Noah questionou enquanto se sentava no sofá e procurava algo na internet pela tv.

— Aliás, — me recordei colocando minha bolsa cheia de remédios sobre a mesa de centro ocupada por um belo vaso provavelmente bastante caro repleto de hortênsias, Alice adorava hortênsias, ironicamente falando. — Que história é essa que você tem um irmão? Quando pretendia me contar isso?

— Agora! — brincou ela se direcionando a cozinha, a qual parecia um brinco. — Ele é um mala, adora atormentar a minha vida e só sabe seguir as ordens do papai.

— E você não segue?

— Do meu jeito. Que ele não me ouça!

— Mas isso não o faz deixar de existir.

— Eu sei, mas é que eu quase não o vejo, ele cuida das franquias no Rio de Janeiro e é orgulhoso de mais para voltar às origens.

— Rico e egocêntrico?

— Mimado! Com certeza mimado e egocêntrico!

— Ele ainda é apaixonado na Emily? — a voz do Noah ecoou da sala de estar misturada ao som que saía da tv ligada, provavelmente em um dos canais de filmes que ele tanto adora.

— A Emily tem uma paixonite? — me interessei pelo assunto, considerando que qualquer pessoa fosse melhor que o pai da Amy.

— Ele meio que sempre foi apaixonado sozinho. Friend zone, sabe? — Alice se divertia com a desgraça alheia.

Acaso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora