FINAL

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Mesmo em silêncio, uma música triste parecia soar entre nós. Estávamos reunidos para o funeral, mesmo não entendendo o motivo das pessoas fazê-lo. Não consigo encontrar a lógica em ir despedir de alguém que não está mais ao nosso meio, deveriam ter feito antes que fosse tarde mais, em vida. Chorar ao lado do corpo gélido e sem vida, não trás a pessoa de volta.

Mas ainda assim, as pessoas se reúnem para chorar e lamentar a perca da pessoa amada.
Haviam várias pessoas, pessoas essas que eu mesma nunca vi, provavelmente, ela era uma pessoa social. Emily tinha uma facilidade incrível em fazer amizades, mesmo se estivesse em uma sala fechada cheia de estranhos.

Apesar de não se ouvir nada, haviam sons de respirações pesadas, lamúrias e lágrimas que não cessaram, e ninguém conseguia dizer nada.

— Eu sei que não a conhecia bem, — Júlia iniciou certa de que alguém precisava dar um primeiro passo. — Não tive a oportunidade de conhecer a pessoa incrível que você é, — ela depositou a rosa branca em suas mãos sobre o caixão. — Mas sei que você foi amada e a prova disso, é a quantidade de pessoas que estão aqui hoje, — pausa para erguer o olhar e alcançar os rostos tristes com olhares vagos e inundados se lágrimas. —Imagino quanta história todas elas têm para contar sobre você.

Ninguém queria ser o próximo.

— Eu sei que deveria ter feito mais por você, Emily. — Ali deu um passo em frente, nas suas mãos, havia um urso desgastado pelo tempo, que provavelmente carregava uma história entre as duas. — Não fui uma boa amiga nesses últimos dias, — seu olhar choroso observou Leonard um pouco mais afastado, ele também não estava conseguindo se conter. — E vou me arrepender disso pelo resto da minha vida, mas independentemente de como iremos seguir em frente, sei que você será a lembrança mais bonita e farei questão que as pessoas saibam o quanto incrível você foi.

Abaixou a cabeça ao colocar o urso ao lado da rosa branca.

Era a vez do Leonard se despedir. Em passos lentos ele chegou perto o suficiente, olhou ao nada por alguns segundos, por sua vez, não tinha nada em mãos, então, apenas retirou a correntinha que usava no pescoço a colocou entre os objetos que se acumulavam ali. 

— Eu pensei em você boa parte da minha, — suspirou entre os soluços. — E você ainda é o primeiro pensamento do meu dia, talvez eu não consiga me recuperar disso, nem sei se quero aceitar que você se foi justamente quando o destino parecia ter nos dado uma chance. Talvez algum dia eu consiga olhar para trás e sorrir com as lembranças dos bons momentos que tivemos, mas não agora e está tudo bem, eu quero sentir a dor de tê-la perdido.

Leo secou as lágrimas ao se afastar, não conseguiria ficar nem mais um minuto olhando as pessoas chorarem pelo amor se sua vida.

— Acredito que você era a melhor pessoa que já passou pela minha vida, — optei por não me aproximar, não queria me afastar do Noah, ele poderia se desabar a qualquer momento. — Cheia de alegria e uma bondade indescritível no coração, o tipo de pessoa que só nos preenche de orgulho e é assim que quero me lembrar de você hoje, como alguém que sempre estava disposta a ajudar. Você espalhou bons sentimentos entre todos nós e é assim que quero prosseguir a minha vida, sabendo que você fez parte dela.

Tirei um masso de chaves da bolsa e em meio as inúmeras chaves presas uma a outra, havia um sapatinho azul, o tirei da pequena argola que reunia todos os metais e o coloquei junto aos outros objetos.

— Pra dar sorte. — Repeti as palavras que Emily me disse ao entregar aquele sapatinho azul no hospital no dia que descobri a gravidez. 

Apesar das lágrimas que molhavam seu rosto, Noah estava sério sem demonstrar sentimento algum, não queria ter que dizer nada, mas as pessoas esperavam por isso:

— O que eu mais tenho ouvido nos últimos dias, é que essa dor que me corrói dentro do peito, irá se amenizar com os passar dos tempos, mas eu não sei se isso é verdade, não faz sentido que seja, eu não posso simplesmente esquecer da pessoa que mais amei nessa vida, que foi meu ombro para chorar nos últimos anos, meu braço direito em tudo que decidia fazer e uma das pessoas mais empolgadas com a chagada do meu filho, — Noah conseguiu segurar o pranto no começo, mas quando se lembrou da emoção da Emily com a chegada do Brayan, ele se desabou. Olhou para um canto mais afastado e lá estavam os Martinez com o nosso filho no braço, tão pequeno e bonito como ela dizia que ele seria. Tinha os olhos do pai e o meu nariz. Jonas segurava na mão da pequena Amy, que apesar de saber o que havia acontecido, não entendia bem o que “estar no céu” significava. — E infelizmente, você não o conheceu. Mas eu prometo que ele vai saber que tinha uma tia maravilhosa e a Amy também, ela vai saber do quanto incrível era a mãe e como a amava. Sempre te amarei Emily, até que eu não faça mais parte desse mundo.

Amy se aproximou, apesar do seu semblante triste, tinha algo a dizer:

— Eu queria ver a mamãe, — olhou ao Tio Noah. — Mas todo mundo diz que ela está no céu. Mamãe, se estiver me ouvindo aí do céu, — olhou para cima na esperança de conseguir vê-la. — Eu te amo, ta? Ah! Quando voltar, traz bolo de chocolate?

Permaneceu com os olhinhos presos a imensidão azul e logo voltou a olhar as pessoas presentes, não entendia porque estavam todos chorando, por isso, voltou para brincar com seu priminho.

🌵

DOIS ANOS DEPOIS

Catedral de Pedra, Nossa Senhora de Lourdes, 18:15.

Dessa vez, a Alice havia se superado. A palavra perfeição parece muito pouco para descrever como a igreja estava, a cada passos em direção ao altar por cima do tapete vermelho aveludado, eu me convencia de que ela trabalhava no ramo errado. As pessoas sorriam ao me ver entrar e comentavam algo entre lábios sem som sobre o meu vestido.

Noah era o de terno no altar. Mais ao lado, o nosso pequeno Noah quase desaparecendo dentro do terno, era a criança mais linda que aquelas pessoas já viram. Como sua acompanhante, Amy estava a caráter com um pequeno buquê de rosas nas mãos, a noivinha como Noah havia a prometido.

Júlia estava sentada no banco da frente com seu acompanhante que conheceu no trabalho, amigo do Noah. Ela trabalhava na livraria ajudando o Noah.

Ao lado deles, Léia, a mais nova namorada da Alice, já tínhamos perdido as contas de quantas foram depois que as coisas entre ela e a Júlia não acabaram dando certo. Elas estavam bem, até moravam juntas, amigas.

Leonard estava em um banco mais atrás com sua esposa grávida e visivelmente, quase chegando a hora de nascer. Alice iria falir em dois anos se não moderasse nos presentes para o Brayan, Amy e a sobrinha caçula que estava quase chegando.

Patrícia e Michael também marcavam presença com sua grande família, eles já estavam com o quinto filho recém-nascido.

Estava tudo perfeito, a vida havia preparado recompensas bem mais que suficientes para repor meus dias de sofrimento. E aqui estão eles, os dias de glória! A minha carreira deslanchou de tal forma, que até fui homenageada com um artigo no jornal da cidade, a notícia sobre o Caso 35892 se espalhou pelos ouvidos curiosos da cidade e o quanto fiz por ela, todos queriam ter a psicóloga da Ana. Também havia me especializado em Terapia intensiva.

Era a hora dos votos, dos meus votos.

—Eu acredito que qualquer momento se torna mágico quando escolhemos a pessoa certa, mas, talvez não haja uma pessoa certa. Só temos que amar um ao outro incondicionalmente como se a existência do mundo dependesse disso e se em algum momento um dos dois achar que o amor está esfriando, só precisa olhar para trás e lembrar como tudo começou. Eu não sei bem se foi eu que escolhi você ou se foi você que me escolheu, isso não importa. A questão mais importante é que juntos tomamos a decisão de fazer parte da vida um do outro pelo resto de nossas vidas. O nosso lugar é a eternidade, e eu te amarei até lá. Você, eu, o nosso pequeno Brayan, a pequena Amy e mais um bebezinho que vem para aumentar a família.

Emily nasceu alguns meses depois.

FIM

Acaso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora