Se houvesse uma lista das piores noites da minha vida, com toda sinceridade, aquela estaria entre as primeiras à me assombrar pelo resto da vida.
Na faculdade, os professores e orientadores nos dizem sempre para jamais, em hipótese alguma, tornar as dores dos nossos pacientes, as nossas. Mas é só na prática que acabamos percebendo a dificuldade em nos manter distante o suficiente para não nos apegar à certos caos. Mas foi a primeira vez em que me flagrei completamente atordoada com um caso, o caso da Ana.
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Não sei quanto tempo se passou, pois acabei adormecendo no ombro do Noah até me despertar com um alvoroço acontecendo bem em minha frente. Estava um pouco desnorteada e bêbada de sono, mas pude perceber logo de início que o Ricardo estava determinado à quebrar a cara do homem que acompanhava a irmã e mãe da Ana, como julguei, era o tal abusador. Vai saber quantas vezes ele fez isso antes e ficou impune o encorajando à fazer de novo e de novo, até se tornar um hábito.
Alguns seguranças do hospital chegaram para acabar com a briga, aliás a surra que o canalha levava do outro, quer dizer, do Ricardo. Não o julguei, não consigo nem imaginar o que faria, se estivesse em seu lugar.
—Você vai pagar por tudo que à fez seu desgraçado! —Ricardo ameaçou.
Sem saber o que acontecia, a mãe da garota aproximou tentando entender tudo em meio à um choro forçado e grotesco, eu estava quase indo lá para fazê-la parar com todo aquele fingimento. Eu ainda não me convenci de que as coisas aconteciam dentro de casa e ela não percebeu.
—Eu não fiz nada! —O acusado cuspiu uma poça de sangue no chão determinado à sair dali o mais rápido possível já que à partir daquele momento, as coisas só iriam piorar cada vez mais para o lado dele.
Em passos apressados ele correu pelo corredor à fora, mas antes de dar o fora dali, passou por mim que ainda embriagada de sono tentava prestar atenção na cena que acontecia ao lado, me olhou sério como se quisesse insinuar algo, pude ver tudo cautelosamente como se fosse em câmera lenta, havia um certo ódio brilhando em seus olhos negros e seus punhos fechados demonstrava sua chateação. Em outro momento poderia entender, mas só fui perceber que era basicamente uma ameaça, dias mais tarde.
Quando convenientemente deu tempo suficiente para a fuga do abusador de Ana, a polícia apareceu com as provas que precisava para prendê-lo, mas obviamente, depois do que o Ricardo fez ao perder a cabeça, era certo de que ele não estaria ali esperando para ser algemado e levado à cadeia.
—Não se preocupe Ricardo, —O policial responsável pelo caso tentou tranquilizá-lo. —Já mandei policiais para a casa dele. Ele não vai escapar!
Apesar de jurar não saber de nada e se arrepender amargamente por não ter ouvido o apelo da filha, a mãe dela seria investigada e até tudo se resolver, ficou constatado que o Ricardo teria a guarda provisória da garota. Me senti mais aliviada ao saber disso, pois, já havia deixado claro que ele se importava de verdade com aquela garota desde o começo e até me atrevo à dizer, que se não fosse por ele, coisas piores poderiam ter acontecido àquela pobre criança.
Fui me despedir da Ana, mas ela dormia tão tranquilamente que apenas à observei por alguns minutos e decidi que já era hora de ir para casa e descansar também, eu estava exausta e não era uma exaustão só física, mas mental também. Merecia algumas longas horas de sono. Sem falar no Noah que estava ali e declarou não ir embora sem mim, já era de manhã por volta das oito horas e ele ainda estava lá, sentado me esperando.
—Podemos ir. —comentei sem jeito ao me aproximar.
Tudo bem, eu sei que não é novidade alguma eu ficar sem jeito perto dele, mas o que poderia fazer? Porque fugir não me resolveu nada, só piorou um pouco as coisas, e sim, estou falando daquela loira incrivelmente bonita que vi sair da casa dele. Como eu poderia competir com ela? Não estou dizendo que me acho feia e deplorável, na verdade eu até que dou para o gasto! Mas de jeito algum, poderia competir com aquela garota. Não que isso fosse de fato virar uma competição.
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Acaso Indefinido
RomanceDeterminada a superar o abandono no altar pela pessoa que Olívia pensou ser o amor de sua vida, ela se muda para Gramado na Serra Gaúcha, onde jura focar somente em sua carreira sem se envolver com alguém, estava traumatizada. Meses antes havia pass...