Acaso Indefinido

Encontro às cegas

Sempre há uma parte de nós que deseja voltar atrás e mudar as coisas, fazer escolhas diferentes e colher resultados melhores, mas infelizmente, não é assim que a vida funciona. Não se pode voltar atrás. Escolhas são feitas e coisas acontecem por causa delas e então, só resta o arrependimento. Mas ao invés de ficar remoendo essas péssimas escolhas que fiz para a minha vida, decidi comemorar o que me fez chegar até aquele momento. Eu estava definitivamente pronta ao recomeço, sem pensar no que se passou e com a cabeça erguida, decidi me concentrar no meu trabalho, era tudo que me importava até então.

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—Não quer mesmo me contar o que está acontecendo? —questionei a garota sentada na minha frente. —Sabe que estou aqui só para te ajudar, não sabe?

Ela tinha uma ficha cheia de detalhes e o próprio diretor Ricardo marcou as sessões semanais com ela, considerando seu comportamento explosivo que começou dias atrás.

—Eu não tenho nada para falar e você está perdendo seu tempo. Aliás, eu também né.

—Eu não sou a vilã e sou estou aqui para te ouvir. Não vou contar à ninguém, aliás, a minha ética profissional me proíbe de fazer isso.

—Eu não sei se falar resolve alguma coisa. Qual diferença faz você saber do meu problema?

Como poderia julgá-la se já me senti assim?

—Então realmente existe um problema?

Foram palavras dela, não minhas.

—Talvez.

—Colocar tudo para fora ajuda, acredite. E quem sabe, nós duas juntas possamos encontrar uma solução, porque só você pode fazer isso. Nada vai mudar na sua vida, se você não der o primeiro passo.

—Eu quero acabar isso, mas eu tenho medo.

—Medo de quê? O melhor que pode acontecer é você se livrar desse problema. Isso não é bom?

—Mas e o pior? Eu tenho medo das consequências. Eu tenho medo do que as pessoas vão pensar e não estou pronta para isso. Não ainda!

—Tudo bem. Eu vou ficar aqui até que esteja pronta, está bem?

A garota apenas balançou a cabeça afirmando. Não consegui tirar nada dela, mas de quatro sessões, aquela foi a primeira em que ela disse algo. Já era um progresso à ser comemorado.

—Eu vou pensar em alguma coisa. Espero que eu tenha forças. —foi o que ela disse antes de sair da sala, aquilo me deixou bastante intrigada. Sobre o que exatamente ela poderia estar falando? Peguei a ficha dela e analisei de novo e de novo em busca de alguma pista, mas não havia nada comprometedor. Não citava problemas em casa e nem mesmo problemas com garotos, aquilo com certeza iria me tirar o sono.

Fiquei tão distraída com aquele dilema que nem ouvi o Ricardo bater à porta.

—Estou interrompendo?

—Ah, não. Pode entrar. —guardei as fichas pessoais dos alunos.

—E então, passei para saber como está se saindo? —ele sentou-se em minha frente bastante entusiasmado. —Ouvi falar bem de você.

—Confesso que é um pouco demorado me habilitar com cada caso, mas já estou pegando o jeito.

—Ótimo, isso é muito bom. Você foi bem elogiada e recebi uma carta de recomendação excelente!

—Obrigada. Eu só faço o meu trabalho.

—Está certa. Bom, aproveitando que estou aqui, queria confirmar a saída de hoje a noite.