Culpada

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Eu estava dormindo bem naquela noite, precisava de um descanso já que depois de tudo que houve, a exaustão mental andava me consumindo. Acordei no meio da noite com lamúrias e soluços que se espalhavam por toda a casa em ruídos desesperados.

—Alice! —temi que algo ruim estivesse acontecendo com ela. —Alice, cadê você?

Saí do quarto com toda cautela possível seguindo em direção que aqueles murmúrios me levavam, à cada passo dado em direção à sala de estar, aquele som de lamentações ficava cada vez mais alto e assustador.

—Alice o que está acontecendo? —gritei do topo da escada temendo descer em meio àquele breu aterrorizante. —Eu vou chamar a polícia!

—Olívia! —a voz saiu falha e rouca. Mas não era a voz da Alice.

Meu coração acelerou enquanto desorientada, eu buscava lembrar à quem pertencia aquela voz. Desci cada degrau com rapidez quando ela começou à gritar.

—Me solta! NÃO! POR FAVOR! Não faz isso!

Ela clamava em meio aos prantos para que seja lá quem fosse, parar de fazer o que fazia para deixá-la naquele estado.

—Ana? ANA!

Demorou para a ficha cair, mas pude reconhecer a voz da Ana e eu precisava ajudá-la. Desci as escadas com toda rapidez que pude, mas sempre que passava por um degrau, aumentavam mais dois lá na frente e assim continuou para o meu desespero em uma repetição infinita que nunca me levava até o meu destino. O desespero de ouvi-la gritar só aumentava já que estava convencida de que nunca alcançaria à tempo para impedir.

—Por favor Olívia! —A Ana clamava enquanto se agonizava entre choro e soluços. —Por que você não me ajuda?

A voz foi se distanciando até desaparecer por um todo.

—Ana? ANA! Me responda. Você está aí? ANA!

Desisti de descer pelas escadas já exausta e com a respiração pesada, me apoiei sobre o corrimão para descansar o corpo e quando olhei para o topo da escada, lá estava a Ana.

—Você não me ajudou. —a suposta garota choramingou com os braços envolvidos no próprio corpo. Ela usava apenas uma manta velha e rasgada para se cobrir.

—Eu tentei!

—Mas não foi suficiente! —uma voz rude e metálica se pronunciou ao se aproximar em meio à meia-sombra. —Está feliz?

—Por que não fez nada por mim? —a garota insistiu com seu rosto molhado por lágrimas que escorriam com um volume assustador pelo seu rosto chegando à molhar parte da manta que a cobria. —Eu te chamei.

—Me desculpe Ana. —implorei sentindo um ardor insuportável arder em meu peito por não conseguir fazer nada para salvá-la daquilo. —Eu juro que tentei, mas eu não consegui chegar até você!

—Agora é tarde. —O dono da voz se revelou, mas não consegui identificar um rosto, havia só um borrão mesclado em meio à escuridão. Era um corpo de um homem, mas não pude saber quem era. —E a culpa disso, —ele apontou à Ana que se ajoelhou em meio ao pranto doloroso. —é exclusivamente sua.

—O quê? —Me desesperei. —Mas eu tentei ajudar. Eu não fiz nada!

—Exatamente, você não fez nada! —ele zombou relevando um sorriso satisfatório, um sorriso assustador e branco, com dentes claros como à névoa e bem alinhados. —E agora terá que lidar com isso.

—Não! —gritei amargurada e quando dei conta do que estava acontecendo, acordei ainda gritando com a respiração fora do controle e me sentindo culpada pelo que houve com a Ana. —Droga.

Acaso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora