Mais um dia estressante no trabalho e lá estava eu em frente a garota que estava ali presente em todas as sessões, mas não dizia nada do que sentia. Estava começando à me preocupar de verdade com ela.—Você não tem mesmo nada à me dizer Ana?
—Não. —retrucou sem demora, olhando aos arredores da sala e me evitando à todo custo.
—Tudo bem, então vamos começar de um jeito diferente. —Eu precisava achar uma maneira de fazê-la falar se sentindo confortável e segura. —Então por que você está aqui?
Ela me encarou por alguns segundos pensando se deveria ou não me responder. Talvez até ela mesmo não soubesse da resposta.
—Estou aqui porque o Ricardo exigiu que eu fizesse terapia.
—Certo. —Não era novidade considerando que ele mesmo marcou as sessões da garota. Mas por que ele? —E por que você o ouviu? Qual é a influência dele sobre você? Deve ter alguma.
—Ele é meu tio para todos os casos e me deixa estudar aqui sem pagar a mensalidade.
—Então se sentiu na obrigação de concordar com isso?
Ela apenas afirmou com sinais positivos feito com a cabeça. Ainda me evitava olhar diretamente nos olhos, vivia de cara fechada e um evidente mal humor.
—E você sabe que não precisa fazer se não quiser, não sabe?
Espantar ela não era exatamente a minha ideia, mas queria deixar claro que ela tinha opção já que, se ela optasse por não dizer simplesmente nada, aquelas sessões seriam inúteis.
—Então eu posso ir embora? —notei certa agitação da parte dela, Ana olhou várias vezes em direção à porta indecisa sobre ir.
—A escolha é sua.
—Tudo bem. Talvez eu possa ficar mais um pouco.
Senti que ela queria falar alguma coisa, porém, estava receosa sobre isso, talvez temesse as consequências.
—Então, por que não me diz o motivo que seu tio acha ter para obrigá-la fazer terapia?
—Ele não me forçou! —com voz aguçada e rápida, Ana fez questão de esclarecer. —Só achou que seria melhor para mim.
—Achou? E por que ele achou isso? Não é muito estranho ele inventar isso sem ter algum motivo?
—Não é estranho.
—Não é? Eu diria que é sim.
Pensei que se eu à bombardeasse de perguntas acusadoras, a faria falar algo.
—Ele não sabe o que diz e pensou que seria melhor se eu falasse com alguém sobre o que acha que viu.
—Ah, então ele viu alguma coisa?
Mantive meu olhar fixo nela, tentando descobrir o que havia por trás de toda aquela marra e indecisão, o que à deixou tão nervosa de repente?
—Não, ele não viu!
—Tudo bem Ana. Ele acha que viu alguma coisa, certo?
Afirmou com seus olhos encharcados por lágrimas que ela tentava segurar ao máximo.
—O que me diz se me contar o que o Ricardo deveria ter visto, hein?
—Eu não sei... Você não entenderia.
O suor em seu rosto era evidente, Ana começou à deslizar as mãos pelo jeans consecutivas vezes em sinal de nervosismo e as vezes, apertava as mãos contra o estofado do pequeno sofá em que se repousava.
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Acaso Indefinido
Roman d'amourDeterminada a superar o abandono no altar pela pessoa que Olívia pensou ser o amor de sua vida, ela se muda para Gramado na Serra Gaúcha, onde jura focar somente em sua carreira sem se envolver com alguém, estava traumatizada. Meses antes havia pass...