Anjo da guarda

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—Noah?! Eu não sabia que estava aqui.

—Tudo bem Liv? —apesar do sorriso em seu rosto, ele me pareceu sério de mais.

—Sim. —tropecei desengonçadamente e rápido ele me ajudou a me recompor. —Eu acho.

—Eu vi você quando cheguei, mas percebi que estava acompanhada e não quis atrapalhar.

PARA TUDO! Vejam se não é paranóia minha ou talvez fosse culpa da bebida, mas, por um segundo pensei ser um pouco de ciúmes mesmo, sei que não tinha nada haver, mas era só no que eu conseguia pensar.

—O quê? Não. O Ricardo é só um amigo do trabalho. Na verdade era para estar todos os professores aqui, mas por alguma razão misteriosa ninguém apareceu. —senti uma necessidade absurda de explicar o que estava acontecendo.

Talvez não fosse tão misteriosa assim e eu só estava bêbada de mais para perceber.

—Está tudo bem Liv, não tem que me explicar nada.

Pareceu bem arrogante e eu me chatiei com aquilo e voltei pela minha busca ao banheiro. Fiquei ali parada em frente ao espelho me olhando por alguns minutos tentando me convencer de que não estava bêbada, mas quanto mais eu me esforçava para acreditar nessa mentira, mas turva a minha própria imagem ficava. Peguei o celular e gravei um áudio à Alice, quem eu escolhi a descontar a minha raiva momentânea.

"Eu estou literalmente bêbada e vou ter que pedir um uber, mas eu nem sei o endereço de casa. Te odeio por me deixar vir sozinha! Tchau."

Guardei o celular decidida à voltar para o balcão e arrumar uma desculpa plausível para ir embora, não aguentaria beber nem mais um gole. Assim que cheguei no balcão, o Ricardo já havia enchido o meu copo de algo verde com pouco gelo e pelo visto, muito álcool.

—Você demorou. Então eu pedi mais uma bebida por você.

—Ah não, eu preciso mesmo ir para casa.

—O quê? —Ele não queria perder a guerra naquela altura do campeonato. —Mas ainda é cedo. —me mostrou a horas no visor do seu celular, mas só consegui ver um monte de número borrado. —Além de mais, você não me respondeu.

—Qual era mesmo a pergunta?

—Vamos para o lugar mais à vontade, sei lá, só sair daqui.

—Me desculpe, —empurrei o copo de bebida. —mas eu tenho mesmo que ir embora agora.

Me levantei mais que determinada à me afastar dele e o senti me segurar pelo braço.

—Espera. Não vai nem terminar essa bebida? —Ele apontou ao copo e me entregou. —Não vai mesmo fazer essa desfeita, vai?

Não entendi onde exatamente ele queria chegar com isso e por outro lado, não sabia como iria despistá-lo.

—Olívia, é melhor ir para casa. —era a voz do Noah, me virei para checar e ele encarava o Ricardo como se aquilo fosse uma guerra.

Devo dizer que não gostei do tom que ele usou ao dizer que seria melhor ir para casa, me senti estar sendo mandada. Mas naquele estado e com a companhia que estava, achei que realmente seria o certo à fazer.

—Não se preocupe, eu a levarei para casa. Afinal, já estávamos saindo. —Ricardo retrucou caindo no joguinho de poder que ambos começaram ali.

Não era bem a verdade.

—Vocês estavam saindo? —Noah me olhou confuso esperando a confirmação. Não era bem o que ele esperava com essa intromissão.

—Ricardo eu preciso mesmo ir embora. —O olhei séria para ser bem convincente. —E o Noah pode me deixar em casa.

Eu não estava sóbria, mas seria sensato ir para casa com o Noah afinal, o Ricardo estava mesmo muito estranho.

—Tudo bem. —Ele se rendeu já que não teria muito o que fazer, se aproximou sutil sem tirar o olhar do Noah e depositou um beijo no meu rosto. —Te vejo no trabalho.

Ele pagou a conta no bar e se afastou sem deixar de olhar para trás à cada passo em diante.

—Vamos, você está horrível. —Ele comentou me apoiando em seu corpo.

—Você não disse isso naquela noite. —impliquei.

O caminho até o carro dele foi silencioso, havia alguma coisa errada. Ele abriu a porta e me ajudou a entrar já que a cada dez passos eu tropeçava pelo menos uma vez, todo atencioso e ainda com a cara fechada, ele colocou o sinto de segurança e fechou a porta.

Enquanto no estacionamento escorado em um carro mais afastado, Ricardo nos observava com sangue nos olhos  descontente pelo seu plano não ter ocorrido como desejava, não naquele dia.

—O que você tem? —questionei enquanto ele dirigia calado sem tirar o olhar da estrada. Normalmente ele não estaria tão calado desse jeito. —Fiz alguma coisa errada?

Considerando que eu quase não me lembraria dessa noite, resolvi o bombardear de perguntas.

—Acho que você deveria ter mais cuidado com aquele cara.

—Ah é? E por quê?

—Só estou dizendo.

—Não, não! Você sabe de alguma coisa e não quer me contar.

Eu só estava blefando, não pensei que me levaria à sério.

—Não posso provar, então é melhor deixar quieto.

—Considerando que não vou me lembrar de nada amanhã, você pode me contar o que quiser. —dei ombros mesmo sabendo que apesar de estar ruim, na verdade eu não estava tão ruim quanto fiz parecer.

—Aquele homem... —pausa para repensar, era uma acusação e tanto. —Ele queria algo à mais com você e não estou dizendo que não possa fazer o que quiser, porque você pode. Mas ele estava fazendo do jeito errado, te enchendo de bebida e chamando para um lugar mais calmo. Ele não queria boa coisa.

Se eu não tivesse tão embriagada, teria notado.

—Eu não queria beber. —apesar de ouvir cada palavra, aquilo não fez muito sentido naquele momento, obviamente culpa do álcool.

—E por que bebeu?

—Eu sei lá. —dei ombros. —Eu nem queria estar ali sozinha.

—Tudo bem. Só precisa tomar mais cuidado. —e então finalmente ele me olhou por alguns segundos. —As pessoas podem se aproveitar de você.

O resto do caminho foi silencioso e só percebi quando chegamos em casa, mais uma vez ele me ajudou à sair do carro e me apoiando, caminhamos até o portão de grades média na cor preto, ao topo o número "1327" estava destacado e logo estávamos parados diante a porta de vidro.

—Está trancada. —Ele verificou. —Será que a Alice está em casa?
—A minha chave está presa na janela. —apontei na direção da mesma. —Eu sempre a perco.
—Tudo bem. —Ele procurou e não demorou para encontrar, era só abrir um pouco a janela que sempre deixava destrancada e puxar pelo cordão. —Aqui está.

Ele destrancou a porta e logo passamos por ela, como se não houvesse amanhã caminhei em direção ao sofá e me joguei nele.

—Eu estava louca para chegar em casa. —comentei me livrando do salto alto e do sutiã que me apertava. O que foi? Eu sei que vocês também fazem isso.

—Você não vai subir? —Ele perguntou pegando os sapatos que eu havia jogado em qualquer lugar enquanto eu me ajeitava no sofá.

—Eu não tenho condições de subir aquelas escadas. —respondi sem sequer abrir os olhos. —Vou ficar por aqui mesmo.

—Tudo bem. Então eu já vou.

—Não, não vá. —Eu nem sabia o que estava falando. —Fica aqui comigo.

—Eu queria que me pedisse isso quando não estivesse bêbada.—Ele sussurrou consigo mesmo me cobrindo com uma manta que estava sobre a poltrona. —Eu ficaria.

Me deu um beijo rápido e saiu encerrando aquela noite que me renderia uma bela dor de cabeça no dia seguinte.

Acaso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora