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     Já haviam se passado vinte minutos e Otávio não parava de discutir com Noah, Ramon não sabia o que fazer, eu também não.

_ Eu pago o dobro! - Otávio disse pela milésima vez.

Me virei para Ramon.

_ Sr. Ramon, nós precisamos dessa árvore para uma festa beneficente de Natal. - Expliquei. - Eu entendo que a oferta do nosso adversário é bem tentadora, mas se nos vender essa árvore, vai ajudar muitas crianças carentes.

Ramon me examinou por alguns instantes, se afastou e colocou uma plaquinha em um dos galhos da árvore, escrito:

VENDIDO

Eu olhei para Noah sem acreditar, minha expressão refletiu nele.

_ Você conseguiu! - Seu sorriso era imenso, de forma que ele ficou ainda mais bonito.

_ Nós conseguimos. - O corrigi.

_ Aproveitem a árvore o quanto puderem - Otávio se pronunciou. - Porque ela pode ser a última coisa que vocês vão comprar para aquele lugar medíocre.

Dito isso, ele saiu com os dois jovens.

_ Está com fome? - Noah ignorou completamente o comentário de Otávio.

_ Sim. - Respondi.

_ Me permite levá-la para almoçar?

_ Sim, nós precisamos comemorar essa pequena vitória.

A árvore seria entregue em uma semana, era menos uma coisa a se preocupar e sinceramente, senti como se um fardo tivesse sido arrancado das minhas costas.

Noah me levou á um restaurante próximo, adentrando no local observei a decoração estilo tropical.
Me senti confortável lá, uma música baixa tocava, o ar tinha um cheiro maravilhoso de comida.

_ Como sabia desse lugar? - Perguntei me sentando de frente para Noah.

_ Eu conheço muitos lugares e gosto muito daqui. - Respondeu e chamou o garçom.

Lemos o cardápio em silêncio, embora haviam muitas opções deliciosas, sabia que como eu era um instrumento de vergonha, a melhor opção seria algo simples.

_ Eu vou querer um bolo de carne vegano e salada Baruk. - Disse Noah. - Luna?

_ E eu vou querer macarrão ao molho branco.

Noah olhou para mim com as sombrancelhas franzidas.

_ Só isso, Luna? - Perguntou ele.

_ Sim. - Respondi, macarrão era a única coisa que eu podia comer sem pagar mico.

_ Algo mais? - Perguntou o garçom.

Pedimos nossas bebidas e o garçom se foi, Noah ainda me encarava.

_ Bom... - Quebrei o silêncio. - Poderia me falar sobre a tal "concorrência"?

_ É uma longa história! - Ele moveu o pequeno vaso de flores que enfeitava a mesa, fazendo com que ele ficasse milimetricamente centralizado. - Você sabe que o Centro infantil de Artes é um local onde as crianças podem praticar qualquer tipo de arte de graça, certo?

_ Certo.

_ Então, Otávio Vasconcelos resolveu criar uma escola de artes no mesmo bairro, a diferença é que ela é paga e como tem muitos pais mandando seus filhos para lá, o Centro está ficando sem alunos e o governo decretou que não vai mais investir nele.

_ Mas isso não é errado? Quer dizer, nem todos os pais podem pagar uma escola particular e é como se tivessem privando as crianças da arte. - Comentei indignada.

_ Sim, é injusto. Por isso resolvemos fazer a festa, somente com as doações poderemos comprar novos equipamentos e pagar professores melhores para assim atrair mais crianças e o governo perceber que não é um lugar morto. - Finalizou ele.

_ Posso perguntar algo pessoal?

_ Sim.

_ Por quê está tão interessado em ajudar o Centro?

Ele respirou fundo, no mesmo instante nossos pratos chegaram e eu imaginei que ele não fosse me responder já que começou a comer em silêncio.

Encarei meu macarrão pensando no que eu havia de errado com a minha pergunta.

_ Eu praticamente cresci naquele lugar. - Respondeu ele. - A minha tia Liv trabalhava muito para nos manter, e depois da escola eu ficava no Centro por horas até ela me buscar e irmos para casa. Aquele lugar me ajudou a sonhar e também foi o meu refúgio, eu não tinha amigos na escola, mas os professores e funcionários de lá eram como uma família para mim.

Eu não imaginava que ele ia se abrir daquela forma para mim, então não falei nada, apenas mantive o garfo a meio caminho da boca.

_ É isso. Fala alguma coisa! - Ele sorriu fraco.

_ Não sei o que dizer. - confessei. - Eu não imaginava que você havia tido uma infância tão solitária.

_ É mais fácil me imaginar como um psicopata, certo? - Ele brincou e eu ri.

_ Sinceramente? Sim.

     Noah me olhou de uma forma estranha, como se tentasse enxergar a minha alma e eu me sentia vulnerável com seu olhar sobre mim. Tentei me concentrar na música pop que tocava para que ele não percebesse minha pele atingindo 50 tons de vermelho.

_ Música legal. - Comentei para descontrair.

   Noah arrastou a cadeira e se levantou.

_ Dança comigo?

  Olhei para sua mão estendida para mim.

_ Você só pode estar maluco, não tem ninguém dançando! - Olhei á nossa volta onde as pessoas comiam e conversavam.

_ Isso torna tudo mais divertido, não acha? - Os olhos de Noah brilhavam em expectativa, um sorriso travesso em seus lábios e a mão ainda estendida para mim.

_ Com certeza. - Peguei a sua mão e ele riu.
 
   Dançamos como dois loucos, as pessoas ao nos ver na pista de dança, começaram a se aproximar também de forma que em instantes todos estavam dançando.

   Eu nunca havia visto Noah tão solto daquele jeito, com uma alegria quase infantil e por um tempo eu não consegui mais parar de olhar para ele.
    Seu sorriso largo o deixava ainda mais bonito, meu coração começou a bater mais forte ao observá-lo.

_ Está cansada? - Ele se aproximou de mim sorrindo e ofegante.

_ Sim, você não?

_ Não muito, mas é melhor eu levá-la pra casa. 

🌼

  O carro parou em frente à minha casa e por mais que eu estivesse com muita vontade de tomar um banho por causa do calor, algo me fazia querer ficar lá.

_ Bom, foi bem divertido hoje, obrigada!

_ Espero fazer isso mais vezes. - Ele se virou para mim no instante em que tentei abrir a porta do carro. - Luna...

_ Oi.

_ A autorização, eu li seus dados nela. - Explicou ele.
  
   Como não pensei nisso?

_ Você pode fazer isso? - Levantei uma sombrancelha.

_ Eu sou responsável pelos voluntários, então sim, eu posso. - Ele piscou pra mim e sorriu de lado.

   Desci do carro e ele deu partida, entrei em casa com um sorriso bobo no rosto e por mais que tentei, não consegui parar de pensar em Noah.

  Ah, Deus. Por quê ele tem que ser tão bonitinho?

   

Dancing On The MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora