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  Durante a semana que se seguiu, não consegui tirar a imagem de Noah da minha cabeça.

     Seus olhos, seu sorriso que faziam covinhas surgirem em suas bochechas, seu cabelo exageradamente preto que caía em ondas sob seu rosto.

      Noah havia passado por muitas coisas, o abandono provavelmente o fez questionar a sua identidade, se talvez não fosse culpa dele que seus pais não o queriam mais, a vontade de conhecê-los, mas saber que não seria bem-vindo. Será que seus pais sabiam que ele estava vivo?

     Naquela tarde, recebi a ligação de Vanessa me pedindo para eu ir na casa de seus pais pois eles tinham algo para me dar.

   Eu estava tão curiosa para saber o que era que fui para lá no mesmo instante, quando toquei a campainha, Juliana abriu a porta.

   Ela estava sorridente, eu achei aquilo estranho, talvez fosse um dos estágios do luto onde você pensa que tudo bem alguém que você ama partir, vocês vão se encontrar no céu e matar a saudade. Pensar aquilo fazia o medo de morrer se tornar ansiedade.

    Entrei na casa, a minha mente estava tão habituada a ver Rick descer as escadas para me encontrar quando eu chegava em sua casa, que por momento, achei ter visto ele descer mesmo as escadas.

    Mas não era ele, Igor que descia as escadas com uma caixa de papelão nas mãos.

_ Oi, Luna. - Disse ele. Por quê eles parecem tão bem?

_ Olá. - Cruzei os braços sem entender o que estava acontecendo. Então vi que na caixa que Igor carregava, estava escrito "Rick". - O que estão fazendo?

_ Estamos doando as coisas de Rick. - Respondeu Juliana com um sorriso. - Vou transformar o quarto dele em um espaço para meditação.

_ O quê? - Aquilo só poderia ser alguma piada.

_ Eu e Igor descobrimos que a meditação está nos ajudando a lidar com o luto, então o nosso próximo passo era nos livrar das coisas de Rick.

    Eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Eles estavam se livrando da memória de Rick! Quando nós morremos, nossos fantasmas se escondem nas coisas que deixamos para trás, segundo Cath Crowley.

    As coisas de Rick eram a única certeza que podíamos ter de que ele um dia existiu, nos fazia estar perto dele de novo.

_ Vocês estão ficando loucos? - Aquela não era a minha casa, mas subi correndo para o quarto de Rick e me tranquei lá na tentativa de evitar que mais coisas dele fossem doadas.

_ Luna, querida. - Juliana bateu na porta. - Não tem porque ficar se torturando com as lembranças de um morto.

   Se não fossem as lembranças dele, o que mais restaria de Rick?

_ Não é um morto, é o seu filho! - Senti meus olhos se encherem de lágrimas. - Vocês vão apagar os únicos vestígios da existência dele só por causa de uma meditação?

_ Meditar é importante para conectar o corpo e a alma. - Ouvi a voz de Igor.

    Olhei para as montanhas de caixas à minha frente e comecei a chorar.

Dancing On The MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora