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Durante o almoço, eu não sabia se Noah ia contar sua história ou se simplesmente iria ignorar o meu pedido para não ter que falar de si mesmo.

Olhei de soslaio para ele que comia sua salada distraidamente.

_ Noah. - O chamei.

_ Oi. - Ele se virou para mim.

_ Você não tem que me contar nada? - Ergui uma sombrancelha e ele sorriu.

_ Achei que você já tinha esquecido esse assunto.

_ Que assunto gente? - Liv perguntou.

_ Eu contei para Luna que não sou brasileiro. - Disse ele.

_ Ah! E agora você quer saber a história por trás desse português perfeito dele, certo? - Liv perguntou para mim e eu assenti curiosa.

_ Não tem ninguém melhor para contar histórias do que a minha tia Liv, ela tem um senso de humor bem peculiar em relação à essas coisas. - Ele bebeu um pouco do suco de laranja e encarou a tia.

_ Por quê estou com a sensação de que nenhum quer me contar essa história? - Perguntei.

_ Porque ninguém quer mesmo, é uma história triste. - Liv disse. Agora eu sabia de onde vinha aquela sinceridade despreocupada de Noah, eles falavam tudo na lata.

_ Se não quiser, tudo bem... - Dei de ombros fingindo que não me importava, mas na verdade eu estava me coçando de vontade de ouvir.

_ Muito bem. - Liv respirou pesadamente. - Tudo começou quando a minha irmã Gabriela resolveu que queria viajar o mundo. Ela conheceu Matt Cahill em uma viajem para a Irlanda, eles se apaixonaram e você já sabe o que aconteceu... Ela engravidou, mas ele ia assumir a Empresa de seu pai e não queria saber de filhos tão cedo. Mas depois de muita conversa, ele decidiu que tudo bem terem a criança. Tudo corria bem, até que descobriram que não se tratava de um bebê, se tratavam de dois bebês.

_ Você tem um irmão gêmeo? - me virei para Noah e ele assentiu.

_ Sim, em algum lugar no mundo, tem alguém passeando com a mesma cara que a minha. - Disse ele.

_ Mas a história não acaba aí. - Liv continuou. - Eles podiam lidar com uma criança, mas duas seria um escândalo que poderia acabar com a carreira de Matt antes mesmo de começar. Então, Gabriela teve os bebês, Aeryn e Noah, mas eles decidiram que ficariam só com um. Não sei se escolheram no uni-duni- ou na moda antiga mesmo onde os primogênitos tinham mais valor, só sei que Noah teve a sorte de não precisar morar sob o mesmo teto que aqueles energúmenos.

_ E não acaba por aí. - Noah se pronunciou.

_ Não mesmo. Matt e Gabriela tiveram a consideração de mandar a criança para a casa dos avós paternos na Costa Nordeste da Escócia. Mas eles eram velhos ricos e impacientes, não suportaram os choros de Noah de noite e decidiram que tudo bem abandoná-lo em um orfanato. Ele ficou sob os cuidados das irmãs de misericórdia e por sorte não foi adotado. Eu e meus pais só ficamos sabendo de todo o ocorrido quando ligamos para os avós dele pedindo para ver a criança e disseram que ele já devia estar com outra família.

_ Nossa! Que velhos sem coração! - comentei e Noah riu.

_ Pelo menos eu não falo ' Alright '. - Ele imitou o sotaque escocês e nós rimos.

_ Ele já estava com quase um ano de idade quando consegui adota-lo e trazê- lo legalmente para o Brasil. - Liv passou a mão por cima da mesa para segurar a de Noah. - Meus pais faleceram dois anos depois e eu tive que cuidar dele sozinha. Não foi nada fácil porque eu estava na faculdade e não tinha um emprego muito bom. Mas deu tudo certo, estamos aqui agora, mais unidos do que nunca!

Dancing On The MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora