Laís queria gritar de felicidade ao se deparar com Nana a encarando em silêncio. Havia tanta coisa não dita, expressa naqueles olhos e isso realmente não era importante naquele momento. Nana estava com os lábios trêmulos e o olhar culpado.
__ Me perdoe...- disse devagar e muito baixinho.
__ Shhh! Não se preocupe com isso agora. – Laís beijou seus lábios secos de leve – eu estou aqui, amor. Vai ficar tudo bem.
As lágrimas escorreram dos olhos de ambas, mas havia uma pontinha de esperança de que as coisas poderiam ser diferentes agora.
__ Vou chamar o médico. – Laís secou as lágrimas naquele lindo rosto e Nana pareceu inquieta, com o medo claro nos olhos – eu vou voltar e não sairei do seu lado, enquanto não for pra casa. Eu juro que, dessa vez, ninguém vai ser capaz de nos afastar novamente.
O médico apareceu logo depois, com uma prancheta debaixo dos braços e um sorriso, que parecia aliviado, no rosto. Laís ficou no canto, quietinha, enquanto Nana era examinada.
Pareceu envergonhada quando os curativos em seus pulsos foram removidos para ser trocados. Não tinha coragem de levantar os olhos para Laís e pode ver o estrago que havia feito nos braços.
Escutou as recomendações médicas com atenção e agora Laís estava novamente ao lado dela. Seus pais entraram quando o médico já estava de saída.
Houve um momento silencioso e tenso. Nana apertou a mão da garota ao seu lado, com força, como se temesse que seu pai tentasse afastá-las novamente.
Laís beijou sua testa demoradamente e olhou em seus olhos, quando prometeu que tudo ficaria bem.
A mãe nem se importou com as lágrimas que banhava seu rosto. Estava feliz demais porque sua menina ainda estava ali, respirando, viva!
O pai estava parado na porta. Havia certo rancor na maneira como olhava Laís, com os dedos entrelaçados com sua filha. Mas o medo nos olhos de Nana o fez desmoronar.
Não era cego a ponto de não entender que o que ela havia feito, foi um ato desesperado para não ser afastada de Laís. E sabia que sua esposa estava certa ao acusá-lo por isso, afinal foi por causa de sua intolerância e teimosia que sua filha quase morreu.
Ainda tinha dificuldade em aceitar sua orientação sexual, mas o medo de perdê-la para sempre, o fez ter certeza que poderia tentar ser mais maleável quanto a isso.
Qualquer coisa era melhor do que ver sua filha se esvaindo em sangue novamente porque desistiu de viver.
__ Oi, filha. – ele parecia hesitante.
__ Talvez seja melhor eu sair. – Laís tentou soltar os dedos da namorada.
__ Não! – Nana disse com pânico nos olhos.
__ Vou estar ali fora, não se preocupe. – Laís pediu – lembra-se do que eu prometi?
__ Você pode ficar. – a voz do pai de Nana soou áspera , mas ele se esforçou para amenizar com um sorriso – não vou mais tentar afastá-las...se Nana prometer nunca mais se machucar e me assustar desse jeito.
Nana estava tremendo e seu coração batia enlouquecido no peito ao entender o que sei pai estava dizendo ali.
Olhou-o envergonhada, quando sentiu os beijos sendo depositados no local em que feriu seus pulsos.
__ Nunca mais, Nana! – ele disse sério, com os olhos brilhando, com as lágrimas que lutava para segurar – não sabe o pavor que me invadiu, quando a encontrei boiando na banheira, rodeada por aquela água vermelha, com seu sangue. Não quero que faça isso nunca mais! Não vou aguentar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crazy People around
Novela JuvenilTodas as pessoas que passam por nossas vidas deixam um pouco de si e levam um pouco de nós. Essa é a estória de uma turma de amigos, vivendo os melhores e mais confusos anos de sua adolescência. Descobrindo o primeiro amor, o valor da verdadeira am...