CAPÍTULO 2

14.9K 1.5K 1.4K
                                    


❝Contos de fadas podem se tornar realidade. Basta que a princesa não lute contra a própria felicidade.❞ — Carina Rissi, Perdida.

— Gwendolyn, não poderei levar vocês à escola. Preciso que vá com o carro do seu avô e deixe seus irmãos no caminho. — Diz Samantha, minha mãe, enquanto enfia alguns papéis em sua bolsa de couro com urgência. Ela havia recebido um telefonema de um cliente, e desde então não para de correr de um lado para o outro. Deixando nossa gata persa, Ana Bolena, tonta.

Minha mãe é uma advogada brilhante. Especialista em divórcios. Enquanto o padre une o casal apaixonado, ela separa quando o amor eterno acaba. Não existe até que a morte os separe em nosso vocabulário. É até que Samantha Lawford separe. Gosto de brincar com meu pai, digo que se ele não andar na linha mamãe não precisa fazer esforço para que ele vá dormir na garagem pelo resto da vida.

Da poltrona na sala, vovô desvia o olhar de seu jornal e o direciona a mim, temeroso.

Os gêmeos de oito anos se entreolham subitamente preocupados. O desenho na tevê deixou de ser importante.

Passo a ser o foco dos três homens da casa num piscar de olhos.

— Mãe! — Choramingo, fazendo-a parar sua corrida contra o tempo de repente. — Você sabe que não gosto de dirigir. — Ela apenas ignora meu clamor, vestindo o casaco grosso por cima do terninho. Ela franze suas sobrancelhas bem feitas. Sei que está tentando ser paciente comigo.

— Querida, nunca vai melhorar sua direção se não praticar com frequência. Faça isso por mim. Estou indo. — Ela beija o topo da cabeça dos meninos e diz algo para meu avô antes de bater a porta.

Ouch. Em pensar que vivemos tão pouco tempo. Eu ainda tenho muitos episódios de Capitão Stuart para ver, cartinhas para receber na escola. E... — Ele perde o ar. — Brownies para comer. — Meu irmão completa, balançando a cabeleira castanho-mel enquanto lamenta para o outro, que mantém uma expressão neutra.

— Não acho que será tão ruim desta vez. Concorda, vovô? — Ele procura a opinião do patriarca.

Vovô batuca o dedo enrugado no papel e tira o óculos de leitura, voltando seus olhos azuis como os da mamãe para mim. Não herdei esse traço genético, apenas os gêmeos. Minhas íris são castanhas e irritantemente claras como água suja feito as do meu pai.

— Acho que ela terá cuidado. Certo, Gwendolyn? Sua avó andou neste carro quando ainda namorávamos. É uma relíquia de família. Fizemos sua mãe nele.

Faço cara de nojo, sentindo arrepios. Agora não consigo tirar a imagem da cabeça. Ele não deveria dizer coisas como essa na frente das crianças.

— Aquele incidente com o carro do nosso pai foi há muito tempo. — Eu argumento. — Já disse que um esquilo saltou no meu caminho.

Isso não é verdade. Me apavorei porque entrei na rua principal e, de repente, me vi em meio a um fluxo de carros constante, com buzinas e ronco de motor a todo vapor. Era horário de rush. Joguei o veículo contra um amontoado de lixeiras. Me pareceu a solução mais lógica naquele momento. Mas eu deveria apenas ter dado seta e pegado o próximo desvio para sair daquele caos.

— Esquilo? Tão longe dos parques e em uma rua movimentada. Isso é curioso. — Vovô articula divertidamente.

— Não é? Também fiquei surpresa. Como isso pôde acontecer? — Enrugo a testa, da forma mais teatral que consigo, para reforçar que havia mesmo ficado intrigada.

Vovô apenas concorda, mas eu sei que ele não está convencido porque aquela ruga familiar da sua testa está mais franzida que o normal.

— Vamos, meninos. Peguem suas mochilas. — Ordeno com a voz grossa, para que eles não façam corpo mole.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora