CAPÍTULO 19

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❝Assim como amar uma mulher, amar uma música é entender que elas, as mulheres e as músicas, podem marcar os momentos mais bonitos da vida.❞ — Fred Elboni, Só a Gente Sabe o que Sente.

Depois de pagar a corrida exorbitante, entro em casa na ponta dos pés. Empenhada em não ser notada. O mais silenciosamente possível...

— Você sabe que não está sendo nada discreta, não é?

Ainda que proferida em tom baixo, a voz do vovô me faz pular feito um gato escaldado. Me parabenizo com tapinhas imaginários nas costas por não ter gritado e acordado a infantaria que dorme no andar de cima.

— Posso ouvir sua respiração daqui. — Ele gesticula de sua velha poltrona no canto da sala. — Veio correndo do Texas?

Eu tento acalmar meu coração disparado.

— Como você bem sabe, vovô, não é minha especialidade fugir de casa na calada da noite. Ainda estou fazendo uns ajustes, mas me saí bem para a primeira vez, não acha?

— Não acho. — Rebate ele duramente. — Posso te ensinar uns truques interessantes depois. Agora me diga...

Ele se levanta e anda até mim, deslizando nas sombras da noite. 

— Onde você foi? Um cassino? — Os olhos dele faíscam com excitação. Posso ver as sedutoras possibilidades passando por seu senso crítico. — Ou então... Um estúdio de tatuagem? Talvez um romance sob a luz das estrelas...

Eu arregalo os olhos. Não sei o que sua mente fantasiosa está maquinando, então trato logo de dizer a verdade:

— Fui levar um amigo que apagou no bar para casa. Só isso. Nada de tatuagens ou jogatinas.

Ele parece murchar. Me olha como se estivesse verdadeiramente decepcionado. Talvez eu devesse frequentar cassinos? Acho que ele ficaria feliz se eu tatuasse uma caveira no antebraço.

— Sua fuga, nota cinco. — Ele coça a barba grisalha, pensativo. — O motivo dela é que me entristece. Nota três. Faça melhor da próxima vez. Sua avó ficaria envergonhada.

Quero rir, mas ele me censura com o olhar.

— Francamente, eu estava esperando algo fascinante. O que você contará para seus netos nesse ritmo?

Me inclino e seguro em seu robe para sussurrar.

— A casa dele tinha um portão enorme com arabescos de bronze. Anjos projetados das sacadas, um jardim elegante, vovô. Parecia um castelo. O que acha?

— Oh, está ficando repentinamente interessante. Ele é solteiro?

Eu digo que não para que ele não crie ideias erradas. Vovô volta a ficar amuado e me manda para a cama com um aceno entediado.

Passei as poucas horas que me restaram para dormir me revirando no colchão. Coração e mente inquietos. Tinha tantas perguntas que muito provavelmente não seriam respondidas. Além de tudo, o choro engasgado de Hardy ainda reverberava em meus ossos, me mantendo desperta. Logo, olheiras profundas me acompanharam até a escola. Hardy não estava lá. Eu sabia que não estaria. A ressaca o mataria antes de sair da cama. Ou talvez ele estivesse te evitando. A voz irritante em minha cabeça pontuou. 

Não tive disposição para pensar em Sam muito menos em como o abordaria. Na verdade, nem notei se ele havia ido à aula ou não.

Meu plano efetivo para o resto do dia era dormir. Não apenas dormir, hibernar como os ursos do Alasca. Mas logo após o almoço papai bateu na porta do meu quarto. E me lembrei da maldita visita à concessionária. Ele estava tão empolgado que não pude dizer não. Então vesti um jeans e um moletom qualquer e fui para o carro.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora