CAPÍTULO 30

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|Quatro anos antes|

Tia Jenna havia tido uma briga feia com tio Nick. Daquelas em que você fala crueldades para machucar o outro porque está cego de raiva, e quando a poeira abaixa, quando restam só os escombros, percebe a besteira e se arrepende. Mas não há como voltar atrás. Palavras não podem ser recolhidas, especialmente aquelas que cortaram como a lâmina mais afiada. Aposto que Nick desejou desesperadamente nunca ter dito a Jenna que havia dormido com outra mulher. Mas, para o bem ou para o mal, ele disse.

A resposta de Jenna não poderia ser outra: divórcio imediato. O que me levou a passar alguns dias daquele ano com ela em seu apartamento para garantir que ela não iria se afogar em suas próprias lágrimas e que iria comer todas as refeições nos horários certos. Segundo a mamãe, alguém deveria assumir esse papel importante. Embora eu não estivesse muito animada em mergulhar na tragédia amorosa de alguém, decidi estar lá para Jenna.

— Nunca dê seu coração para alguém, Gwen. É uma merda colossal — Jenna aconselhou durante uma das inúmeras crises de choro.

Eu estava sentada ao lado dela no sofá, segurando uma caixa de lenços de papel. Essa era basicamente minha função, repassar os lenços e os recolher depois que ela expelia a meleca do nariz.

Era um progresso, na verdade. Ela não usava mais tantos lenços quanto no primeiro dia em que pensei que iria inundar o apartamento.

— Não estou planejando isso. Fique tranquila — respondi, esticando outro lenço para ela. — Mas, pelo que eu saiba, não se trata de escolha. Não é mesmo? Só… acontece. Tipo um acidente.

Ela aceitou o lenço, me lançando aquele olhar orgulhoso que vi muitas vezes no rosto dos meus pais.

— Você é muito sábia para alguém de apenas catorze anos. Tem certeza de que não é uma universitária da UCLA com uma vasta experiência em relacionamentos?

Aquilo inflou meu ego.

— É apenas o conhecimento que acumulei como leitora de romances. Você ficaria surpresa com as coisas que pode aprender em apenas algumas páginas.

Ela pareceu interessada por um momento, mas então algo a fez concluir que aquilo não seria uma boa ideia.

— Eu leria um romance agora se apenas o pensamento de testemunhar a vida amorosa bem sucedida de alguém, mesmo que fictícia, não fosse insuportável.

Depois de utilizá-lo, ela amassou o lenço que entreguei até virar uma bolinha e o lançou direto na lixeira que posicionei aos nossos pés. Já estava cheia. Eu teria que esvaziar em breve.

Mesmo com a coriza e os olhos inchados, Jenna ainda parecia linda, o tipo de garota inteligente e bem humorada que você só encontra uma vez na vida. Isto é, se tiver sorte. Um relacionamento fracassado não poderia resumir quem ela era. Ou sua força feminina.

— Você sabe que sua vida não acabou, não é? — relembrei, só para ter certeza de que ela não havia esquecido.

— Estou tentando pensar assim. Mas posso ser positiva só até certo ponto — respondeu Jenna num suspiro entrecortado por outra onda de soluço. Ops, droga, ela vai transbordar novamente.

— Você quer chá? — Essa foi minha tentativa de evitar que a represa rompesse. Outra vez.

Ela levantou os olhos para mim, as pálpebras úmidas brilhando.

— Se você adicionar um pouquinho de álcool.

Eu arqueei as sobrancelhas.

— É assim que vamos lidar com o problema?

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora