CAPÍTULO 16

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❝Alerta de spoiler: O amor vale tudo, tudo.❞ — Nicola Yoon, Tudo e Todas As Coisas.

Cerca de meia hora depois, Hardy retorna, sem Tyler.

— Por que demorou tanto?

Deixo que minha frustração permeie meu tom. Estou estudando a possibilidade de jogar a massa que acabei de tirar do forno no chão, e ela sair quicando pela cozinha. Minha criação se assemelha a um pedaço de borracha, delgada e sem graça. Viraria uma massa de pizza se eu cortasse ao meio pelas laterais. Não é nada como um bolo deveria ser. Nem mesmo seu cheiro. E duvido que seja comestível.

Seguro a faca, mas não sei o que fazer. Outra fornada perdida. Mais duas horas desperdiçadas. Quero chorar pela quinta vez.

— Foi difícil encontrar sua gaveta de lingeries. — Revela ele, com malícia, para meu completo e imensurável horror.

— Deus do céu! — Os olhos de Hardy expandem frente à ameaça explícita. — Abaixe essa faca. Eu estava brincando.

Solto o utensílio na bancada.

— Não abusaria da sorte, se fosse você. — Ele demonstra não ter a mínima intenção de levar meu aviso a sério.

Mesmo desconfiado, Hardy dá a volta na ilha e para ao meu lado. Me torno consciente de como nossa cozinha é pequena e estreita para duas pessoas.

— Essa coisa horrorosa é a nossa contribuição para a feira de bolos? O que aconteceu com o "não se preocupe. Cuidarei de tudo"? — Ele parece não acreditar no que vê. E eu entendo sua reação. Foi a minha também.

Me encolho por instinto.

— Ajudaria se eu dissesse que fiz o meu melhor?

Ele ri amargamente.

— Não, não ajudaria.

Suspiro, reconhecendo a derrota.

— Foi o que eu pensei.

Pego meu celular e repasso a receita para saber no que errei desta vez. Muita farinha, pouco ovo?

Num momento Hardy está longe, e no outro, está tão perto que seu ombro cola no meu. Ele espia descaradamente o que estou lendo.

— Como pôde errar seguindo a receita? — Murmura incrédulo.

— Acho que esqueci aquele negócio que faz a massa crescer...

— Fermento? — Sugere.

Então me lembro, a droga do fermento.

— Isso.

— Como quer fazer um bolo bom o suficiente para vender se não sabe nem o nome dos ingredientes?

Tenho que me segurar para não xingá-lo. Estou cansada, com fome e meus pés doem. Não sei a quanto tempo estou de pé, e quero mandar tudo para os ares.

Acho que ele percebe que meus olhos começam a brilhar, e que estou prestes a chorar de frustação, porque endireita os ombros e começa a arregaçar as mangas.

— Você vai cozinhar? — Indago, confusa.

Como resposta, ele me mostra a palma de sua mão direita, o que não esclarece absolutamente nada.

— Não se preocupe, essa mão vai fazer todo trabalho.

Em seguida, ele enfia os dedos no bolso da calça, puxando de lá um... cartão de crédito! Hardy exibe o pedaço de plástico com um floreio desnecessário.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora