CAPÍTULO 23

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Voltei, voltei pra te arrasar, quer você goste, quer não.

❝É apenas mais outra noite

E estou encarando a Lua

Eu vi uma estrela cadente e pensei em você.❞ — Ed Sheeran, All of the Stars.

Perdi a conta de quantas vezes fingi ter dor de cabeça para ir dormir cedo sem ser incomodada, apenas para fugir pela janela logo depois. Já me sinto uma criminosa em pleno progresso. Talvez eu devesse ser sincera e abrir o jogo para meus pais: "sim, estou tendo encontros, e não, não estou dormindo com ninguém", mas somente imaginar essa conversa já me causa calafrios permanentes, então prefiro continuar sendo uma filha ruim. Considerando que não estou usando drogas nem pretendo ficar grávida, acho que podem me perdoar quando eu eventualmente contar sobre minhas escapulidas.

Coloco um vestido que vai até metade das minhas coxas, com um caimento solto, mas que marca a cintura na exata medida. Cubro os ombros com a jaqueta de veludo vermelho vinho que surrupiei da mamãe, satisfeita com o resultado. Calço botas pretas sem saltos e estou mais que pronta após uma última borrifada de perfume. Verifico se tranquei a porta do quarto, pego meu celular e saio pela janela.

Tentei fazer algo despojado no cabelo com o babyliss da mamãe, só que o resultado final é como se eu estivesse dormindo a dois dias na selva, então desmanchei tudo e ele ficou apenas levemente ondulado. Mas acho que está bom assim, porque Sam sorri para mim quando entro em seu carro e diz com todas as letras:

— Você está bonita, Gwen.

E me sinto bonita.

Sam está usando a jaqueta do time, o que me faz deduzir que é uma festa de alguém da escola. Seu cabelo escuro está gloriosamente penteado com gel, e ele cheira muito bem.

— Você também não está nada mal. — Sou terrivelmente modesta. Sam está tão lindo que me tiraria o fôlego, se eu não estivesse acostumada com presenças intimidantes. É o que me tornei depois que o pomposo Hardy Riviere se instalou em minha vida.

Hardy, Hardy, Hardy. O nome dele é um maldito eco sonoro que continua me tirando a paz, está sempre orbitando ao redor de mim. Aperto os olhos, não pense nele, Gwen.

O trajeto é longo. Sam me explica que a festa está acontecendo numa propriedade que fica nos limites da cidade. Ele me conta sobre sua vida agitada nos últimos anos, me esforço para responder à altura, embora não tenha feito muitas coisas interessantes. Talvez minha lista seja meu único ato digno de respeito, mas não conto para Sam, principalmente porque o nome dele está lá.

Não sei quanto tempo levamos para chegar, mas fico contente em esticar as pernas quando saímos do carro, o ar frio nos envolvendo de imediato.

Sam deixa o carro ao lado de muitos outros e nós percorremos o caminho de pedras brancas até a mansão. 

A casa é grande e bonita, está lotada de adolescentes animados com copos coloridos de bebida. Logo que subimos os degraus, vejo um deque de madeira extenso e uma piscina de respeito, com pessoas bêbadas o suficiente para se banhar apesar da temperatura. Aposto que a água está aquecida!

O bar ladeado de banquetas e poltronas no canto atrai minha atenção. A adega na parede está repleta de bebidas de aparência valiosa. É a casa de alguém que não precisa se preocupar com dinheiro. Por um momento tenho medo de Hardy ser o anfitrião da festa, mas quando Sam e eu andamos pela casa cumprimentando várias pessoas, sem sinal de Riviere, descarto a possibilidade com alívio. Na verdade, há pouquíssimos alunos da escola aqui, talvez eu tenha visto um ou dois além de Sam e eu.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora