CAPÍTULO 6

9.2K 1.2K 582
                                    

❝Esqueça essa história de querer entender tudo. Em vez disso, viva.❞ — Osho, Faça o seu Coração Vibrar.

Sábado logo depois do café da manhã mamãe saiu para levar Tyler e Miles à escola de futebol, papai se trancou no escritório para se dedicar ao seu novo projeto e vovô e eu iniciamos nossa sessão particular de beleza.

Nos acomodamos no sofá, troncos inclinados para trás, pés sobre a mesinha de centro com almofadas embaixo e Lobo de Wall Street dominando a grande tela da tevê. 

Me mantenho imóvel, com o rosto rígido para que a máscara de pepino não saia do lugar, assim como meu avô.

Olho para ele de soslaio. Mal posso aguentar a curiosidade que cutuca o fundo da minha mente.

— Vovô, como as pessoas namoravam na sua época? Ou melhor, como conquistavam o parceiro em questão? 

Ele vira a cabeça lentamente em minha direção. É difícil não rir, ele está hilário. Somos como duas múmias egípcias assistindo tevê.

— Por que de repente está interessada? — Rebate, voltando sua atenção para um Leonardo Di Caprio histérico. O filme me lembra Paul, então estou ignorando com tudo que posso, porque sinto que vou entrar em pânico se pensar que, em algumas horas, ele e eu podemos estar nos beijando.

Resisto à mania de apertar os lábios. Sinto minhas bochechas aquecendo debaixo da máscara.

— Porque de repente tenho um encontro. Hoje. — Revelo.

Ele não esboça nenhuma reação aparente.

— Isso é bom. Sua mãe sabe? 

— Não. E estou contando com você para que continue assim. 

Meus pais não se opõem que eu tenha uma vida amorosa, afinal é algo natural. Às vezes até sou confrontada com perguntas como ''está gostando de alguém na escola? Não vou dizer para o seu pai, prometo. E então?'', e esta que eu particularmente odeio: ''quando vai trazer um garoto para nos apresentar?''. Prefiro evitar alarde e assuntos constrangedores, portanto é melhor que nenhum dos dois saiba. Por ora.

— Tudo bem. — Ele sela nosso acordo. — O garoto é bom? — Pergunta em tom sério. Mas sei que não está preocupado porque confia em mim e na minha intuição.

— Com certeza. Se esqueceu? Eu sou um bom juiz de caráter. 

Vovô parece satisfeito com o que ouve, e se prepara para responder minhas dúvidas como um consultor de relacionamentos experiente.

Meus avós se conheceram na escola. Ele conta que foi amor à primeira vista, mas, por infortúnio, apenas da parte dele, então foi difícil conquistá-la. Ela era uma bela italiana turrona. Ele teve que recorrer a muitas manobras e desempenhar muitas facetas para despertar o amor no coração dela. 

Infelizmente a alma gêmea de Richard, Fiorella, morreu quando a primeira neta dos dois, eu, tinha apenas cinco anos. Não me lembro muito de Fiorella. Queria ter guardado mais lembranças dela.

Ele não fala muito sobre ela, mas sei que sente muita, muita falta.

— Certo... — Começa. — No meu tempo era muito mais fácil, não tínhamos toda essa tecnologia que banaliza as emoções. As coisas apenas se desenrolavam naturalmente...

Ele pensa por um tempo.

— Uma serenata! — Estala os dedos. — Naquela época, uma serenata era sem dúvidas a chave da coisa. O núcleo. Se você fizesse uma serenata espetacular diante de toda escola, confessando seu amor pela moça, dificilmente era rejeitado. Mas, claro, um flerte consistente também era importante.   

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora