CAPÍTULO 31

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Não, não, não.

Não é real. Não é verdade.

Pisco os olhos inúmeras vezes e de repente estou de volta à biblioteca, com Lisa me encarando preocupada.

- Gwen, você está bem? Você parece prestes a desmaiar, garota!

Estou apertando a extremidade da mesa com tanta força que meus dedos ardem. Não consigo soltar. É como se eu fosse cair de um precipício.

Não, já estou caindo.

Meu corpo se resumirá a um milhão de pedacinhos quando eu chegar lá embaixo.

Quando eu tocar o fundo desse abismo negro.

- Vou te levar para a enfermaria. - Ela dá a volta na mesa e segura meu braço gentilmente. - Consegue andar?

Eu não respondo. Não me mexo. Não sou nada além de um eco angustiante.

- Vamos, Gwen! Está me matando aqui. Diga alguma coisa.

Abro a boca e experimento falar. Soa ofegante e... desesperado. Estou desesperada.

- Estou bem. Foi apenas por um momento... minha pressão deve ter oscilado.

Ela se senta ao meu lado e esfrega a mão nas minhas costas.

- Você quer água? Posso ligar para sua mãe ou te levar para casa. Não achei que ficaria tão chocada.

Lisa não sabe. Lisa nem imagina. Se eu estiver certa sobre minha suposição, tenho motivos o bastante para estar chocada.

Percebo que estou me enganando. E, céus, eu sou péssima nisso. Não é uma suposição. É um fato. Um fato tão pontiagudo quanto uma adaga cravada no meu peito, perfurando meu coração tão fundo quanto pode.

- Não. Posso me virar sozinha. Você tem que ir para a aula - lembro. Ela olha para o visor do celular e pragueja baixo.

Deveríamos estar na sala há dez minutos atrás.

Apenas quando Astrid está passando seus olhos como um scanner pelo meu corpo eu percebo que ela voltou.

- O que aconteceu? Você está bem, Gwen? Parece péssima.

- Ela teve um mal estar súbito - explica Lisa.

- Já me sinto melhor. Vocês têm que ir para o laboratório agora, ou vão ficar encrencadas.

- E quanto a você? - Astrid pergunta. - Vamos te deixar na enfermaria no caminho.

Eu nego com um aceno de cabeça e forço um sorriso. Meus lábios parecem ferro, impossível de mover para moldar qualquer coisa que não seja uma linha fina de tensão.

Por favor, por favor. Acreditem em mim.

- Não foi nada. Já estou bem - insisto outra vez. - Vou comer alguma coisa e me junto a vocês na próxima aula.

Relutantes, elas concordam e eu quase suspiro de alívio. Preciso sair daqui. Preciso encontrar uma saída para esse pesadelo.

- Astrid, pode me emprestar seu carro? Preciso resolver algo. Vinte minutos e estarei de volta.

Ela olha para mim, vacilante.

- Não acho que seja uma boa ideia dirigir agora, Gwen. Posso te levar. Onde quer ir?

Preciso checar isso sozinha. Não quero ninguém ao meu lado quando sucumbir. Não quero preocupar minhas amigas.

Mais importante, tenho que sair daqui logo. Não posso mais segurar por muito tempo. Já sinto o nó do tamanho de uma bola de golfe subindo pela garganta, os dedos tremendo e mãos suando. As lágrimas vão chegar logo, logo. E não quero que elas presenciem meu colapso. Não quero ter que responder às perguntas que vão me fazer, principalmente porque não vou conseguir ser evasiva.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora