CAPÍTULO 14

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❝Quebrado não é o mesmo que sem conserto.❞ — Marissa Meyer, Winter, série Crônicas Lunares.

Lavo o rosto e pescoço com uma quantidade generosa de água, recoloco meu uniforme e tento ajeitar o cabelo, que insiste em anular a gravidade. Há frizz apontando para todas as direções. Dou uma última encarada no espelho, franzindo o nariz para meus olhos cansados e postura baixa. Mal dormi noite passada rebobinando meu incidente com Hardy. Céus, eu realmente estava louca se pensei por um momento que poderia colar meus lábios nos daquele patife e, pior ainda, gostar da sensação!

Ainda atormentada por esse terrível pensamento, passo pelas portas da biblioteca, agitada e determinada. Essa saga terminará hoje! Uma simples varredura no local e tenho a posição de Colin Sullivan, o garoto de bom gosto literário e olhos claros. Ele está com o carrinho infame da senhora Clark, empurrando entre os corredores enquanto devolve os livros emprestados para as prateleiras.

Matei a última aula para vê-lo hoje. Então terei que fazer valer a pena, já que vou levar uma bela detenção se for descoberta.

Porém, não chego a completar o aceno. Meu braço e entusiasmo morre no meio do caminho. Tudo porque a garota, que até então estava no meu ponto cego, surge para arruinar meus planos. Ela está ajudando Colin na tarefa tediosa, como fiz muitas vezes durante o verão. Ele ri alto de algo que ela diz. Quem é ela? Olho com atenção, mas não a reconheço.

— Você vai fazer aquilo agora? — Quase pulo de susto. Identifico a voz sussurrada sobre meu ombro antes de olhar para seu emissário. É Hardy. O maldito Hardy. O mesmo que me enganou noite passada.

— Fazer o quê? — Não quero me recordar de suas mãos no meu rosto, mas minha pele ainda queima onde ele a tocou. Ela se lembra da sensação.

— Flertar. — Responde.

— Você está me seguindo? — Desconverso. Meus olhos saltam para ele mesmo quando quero mantê-los no que realmente interessa: Colin e a garota estranha.

Hardy solta uma risada.

— Você não é tão importante assim.

É a minha vez de rir. Esse garoto, com a gola da camisa social frouxa sobre o colete e mangas arregaçadas até os cotovelos, que me olha e sorri apesar do hematoma no queixo, diz que não sou importante. Então por que ele continua aqui?

— Você não deveria estar no treino agora? — Se olhar pela janela na lateral, sei que verei os diabólicos correndo atrás de uma bola feito animais selvagens no campo. Hardy não está lá. E ele é parte importante na estrutura do time.

— Eu disse para o treinador que estava mancando e que não poderia jogar machucado. — Analiso suas duas pernas. Eu o vi logo cedo, ele não só andava perfeitamente bem, como também desfilava pelos corredores. Poderia dançar sapateado se quisesse.

— Mas você está bem.

Hardy arqueia as sobrancelhas como quem diz "elementar, meu caro Watson".

— Esse é o conceito de mentir. Você deveria tentar algumas vezes. É refrescante.

— Certo, entendi seu recado, agora saia daqui. Você está me atrapalhando. — Estico o pescoço para procurar por Colin, que sumiu junto com sua companhia feminina tagarela.

— Gwen, querida, quero ver isso com meus próprios olhos. — Ele aponta para Colin, cruzando o outro corredor.

— Gwen, querida, parceira ou qualquer variação. Não me chame por nenhum desses nomes. — Meu olhar para ele é um alerta, o único que darei antes de usar os punhos.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora