CAPÍTULO 11

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❝Se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela furacão.❞ — John Green, Quem é você, Alasca?

No dia seguinte, quando chego da aula, vejo tia Jenna ressonando no sofá. Ela não nos visita com muita frequência, o que me faz pensar que algo pode estar errado. Quando não consegue dormir, se algo está lhe tirando o sono, ela vem dormir aqui.

Segundo ela, o nosso sofá é mais eficiente do que qualquer sonífero.

Ela é a única irmã da mamãe, a caçula do vovô. Jenna tem longos cabelos acobreados, olhos grandes e azuis e rosto mais afinalado. Ela não se parece muito com a mamãe. As duas têm belezas distintas e cativantes da sua própria maneira.

Eu tiro o casaco e deito com ela, me aconchegando no pouco espaço que me resta, como fazíamos tantas vezes quando eu era uma menininha sapeca.

Adoro o cheiro que ela tem: lavanda e sabonete de bebê.

— Oi. — Ela saúda com a voz rouca e aperta meu nariz. — Miles e Tyler?

— Estão brincando lá fora. — Respondo. — Não dormiu durante a noite? Vai almoçar com a gente?

— Fiz três cirurgias seguidas. Não me lembro qual foi a última vez que dormi ou comi. Espero que sua mãe cozinhe algo bom.

Jenna poderia ter seguido qualquer carreira, e consigo imaginá-la fazendo coisas menos cansativas e desgastantes, mas ela escolheu a medicina. Ou a medicina a escolheu. Acho que funciona assim.

— Ser cirurgiã geral não parece nada glamuroso. Você está acabada. — Passo a ponta do dedo na sua bochecha pálida. Ela precisa tomar sol. Ficar o tempo todo dentro daquele hospital cheio de doentes deve ser horrível. A pele ao redor dos olhos está cinza pela falta de sono. Não me lembro a última vez que vi Jenna de maquiagem.

— Vou te mostrar o saldo da minha conta bancária. Você não achará pouco glamuroso depois. Sou uma mulher rica com pouco tempo para gastar sua fortuna. Pobre de mim. — Ela faz ter dinheiro parecer um sacrilégio.

Eu gargalho.

— Me mostre depois. Posso ajudar a diminuir sua fortuna se quiser. — Sugiro.

— Oh, eu sei que você adoraria. — Ela abre um sorriso genuíno, e fico aliviada.

Pensei que ela estivesse triste. Meu coração afundou quando a vi na nossa sala. Meu primeiro pensamento foi que tio Nick a tivesse procurado de novo. Na verdade, ex-tio-Nick.

Eles eram melhores amigos, começaram a namorar com quinze anos, naturalmente ficaram noivos e logo o padre os declarou marido e mulher. Compartilharam o ensino médio, a faculdade e até o local de trabalho. Tia Jenna seguiu a cirurgia geral e Nick a neurocirurgia. Eram o casal da medicina.

Fui muito apegada a ele quando criança. E Nick era um ótimo tio; brincava horas comigo, nada que eu pedisse era impossível: passear no parque, andar de bicicleta ou visitar o circo para que eu suprisse minha obsessão por carrossel. Ele foi como um irmão mais velho e um segundo pai. Então, durante uma crise no casamento, Nick confessou à Jenna que dormiu com outra mulher. Eu tinha catorze anos na época. Ver Jenna sofrendo foi terrível para mim. Tomei as dores dela.

Durante boa parte da minha vida eu os observei e desejei ter um relacionamento tão lindo quanto aquele quando crescesse. Queria que alguém me olhasse como Nick olhava para Jenna: como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora