CAPÍTULO 15

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❝Todas as outras coisas, elas são o vidro que contém a lâmpada, mas você é a luz de dentro.❞ — Cassandra Clare, Príncipe Mecânico.


É sábado de manhã, estou à mesa segurando uma caneca de café fumegante, tentando sacudir meu humor. Me sinto aérea e um tanto quanto deprimida. Faço e refaço um pequeno inventário da situação atual dos meus flertes, que, devo acrescentar, é lastimável. Paul é um cara legal. Nosso encontro – meu primeiro encontro em dezessete anos – foi incrível, senti que poderia me conectar a ele com extrema facilidade. Mas não há aquela sensação de mil borboletas no estômago, meu coração não acelera como se fosse a última oportunidade de bater quando penso nele. Na verdade, quando penso em Paul, sinto uma simpatia amigável. Meu instinto diz que podemos ser bons amigos, nada mais que isso. E Colin, bom, não foi me dada a oportunidade de decidir se sinto algo por ele, porque alguém chegou primeiro. Eu costumo respeitar a ordem de chegada como britânicos respeitam e prezam a pontualidade.

Me resta Samuel Kim, o sempre ocupado capitão do time de futebol. Lembro que Sam gostava de fazer piadas e desenhar no caderno o tempo todo, e não era muito exigente com comida, qualquer porcaria para ele servia como almoço. Ele tinha uma aura de moleque hiperativo e risonho. Me pergunto se ainda gosta das mesmas coisas, se ainda sairia comigo para assistir o mesmo filme duas vezes. É engraçado como grandes amizades se desfazem. Num momento você tem certeza que aquela pessoa sempre vai estar lá, e no outro ela é só uma lembrança, um espaço vazio. Entretanto, se todas as pessoas que passaram por sua vida realmente ficassem não consigo imaginar algo diferente de caos, seria uma bagunça generalizada.

Enviei uma ficha sobre mim para o email de Hardy, do ano de nascimento a comida preferida, coloquei tudo relevante. Fiz até uma lista em ordem alfabética dos meus livros e seriados favoritos. Meu maior objetivo de vida agora é terminar o trabalho da senhora Bennet e me livrar de Riviere o quanto antes, antes que a coisa fique mais estranha, antes que eu comece a vê-lo como um amigo. Mas Hardy nem ao menos visualiza minhas mensagens quando peço para que ele mande de volta a mesma ficha com as informações pessoais dele. Acho que ainda está chateado pelo que aconteceu na academia. Não sou eu quem deveria estar possessa? Garotos são estranhos. Garotos são a razão da palavra estranho existir.

— Querida, sobre o carro, não podemos comprar um Mustang. Eu não imaginava que aquela quinquilharia era tão cara. Afinal de contas, é um carro ou um prédio?

Papai me arranca do meu nevoeiro crescente de pensamentos.

— Ah, tudo bem, pai. Eu não estava falando sério quando pedi um Mustang. — O tranquilizo, mas a vinca de preocupação ainda está em sua testa.

— Não é por isso que você anda suspirando pelos cantos? — Indaga, se sentando no outro lado da mesa. Sei que ele está tentando ver através de mim agora.

Como posso dizer para meu pai que ando frustrada porque não consigo dar meu primeiro beijo? Os garotos simplesmente estão escapando por entre meus dedos.

— Não. Estou preocupada com os trabalhos da escola, a questão da faculdade. É o último ano.

— Você sabe que pode pedir ajuda para sua mãe e eu sempre que precisar, certo? Não carregue qualquer peso sozinha. Você não precisa. — Ele beija minha testa e se preprara para sair, mas se detém no portal da cozinha e me olha.

— Quarta-feira depois do almoço, esteja arrumada, vou te levar na concessionária.

Eu sorrio e balanço a cabeça, embora não esteja tão feliz. Não gosto da combinação Gwen e volante. Me causa pavor. Quão bom seria se mamãe e papai me levassem para os lugares pelo resto da vida? Consigo me ver com quarenta no banco do passageiro e meu pai de cabelos totalmente brancos na direção. Será que ele ainda poderia dirigir velhinho?

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora