CAPÍTULO 3

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❝Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.❞ — Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas.

Depois da aula vamos comer no La Favorita, a lanchonete perto da escola. O lugar é parado no tempo. É como estar nos anos sessenta novamente. As paredes são pintadas de azul Tiffany repletas de quadros da Nova York vintage em preto e branco, Elvis Presley e Marilyn Monroe — entre outras personalidades conhecidas de décadas passadas. E as pessoas rabiscam nelas. Nas paredes. Quero dizer, não com letras feias e coisas ofensivas porque Patrick, o dono, e os funcionários fiscalizam isso. Você pode escrever conteúdos significativos, como as duas linhas escritas em caneta roxa próximo de onde estou sentada. "Tristan, sempre vou olhar pra você com coraçãozinhos nos olhos. Com amor, Holly. 07/03/2013". Não deixo de pensar que Tristan é um garoto de sorte, ou um homem de sorte à essa altura. E se Holly ainda olha para ele com corações nos olhos.

Alguns deixam fotos de polaroid no painel negro enfeitado com figuras de cupido e flechas em corações brilhosos perto do balcão. São poucas fotos, porque a graça é justamente o anonimato. É divertido e romântico. Muitos fazem declarações de amor que nunca chegarão até suas musas. Eu e as garotas escrevemos algo verão passado, perto da entrada, bem escondido, com a minha letra que é a mais bonita. "Você é minha pessoa" e assinamos nossos nomes embaixo. Éramos viciadas em Grey's Anatomy naquele ano. Mas deixamos de ver porque os melhores personagens começaram a morrer.

O piso é de ladrilho hidráulico com desenhos de formas geométricas em um padrão colorido. Adoro olhar para ele e formar figuras. Embora seja difícil e exija muita atenção. As mesas unidas à parede em fileira são cercadas por um assento estofado vermelho dos dois lados. Você fica sentado cara a cara com a outra pessoa. É extremamente confortável, mas esquenta muito a bunda quando faz calor.

Lisa se encarregou dos pedidos, mas ela nem precisa abrir a boca já que Corbyn, o garoto com tatuagens no braço que estuda conosco, sabe nossas preferências de cor e salteado. Somos clientes assíduas.

Encaro Astrid enquanto tamborilo os dedos na mesa. Agora que o sangue esfriou e consigo pensar com clareza, estou arrependida. Muito arrependida. Não deveria ser tão impulsiva e manipulável. Dei a Astrid exatamente o que ela queria. E agora ela está colocando o Instagram de ponta cabeça procurando pretendentes para mim.

— O que acha? Ele curte música indie e é vegetariano. — Ela me mostra a décima foto. Desta vez o garoto é ruivo. Ele tem brincos em ambas as orelhas. Balanço a cabeça negativamente.

É brega.

— Eu gostei. Ele parece o Ed Sheeran jovem. — Palpita Lisa ao lado de Astrid, esticando o pescoço magro para ver. Seu cabelo preto chanel balança quando ela inclina a cabeça avaliando o perfil do garoto. Ela cortou no início das aulas. Ficou mais bonita, principalmente combinado ao bronzeado que pegou nas férias na casa da avó em Columbus. Parece uma garota da faculdade agora.

Amo carne, posso comer durante os sete dias da semana, três vezes ao dia, até mesmo quatro. Consigo visualizar o ruivo me levando à um restaurante que só serve folhas e tofu, e não gosto do simples pensamento.

— Astrid, acho que prefiro alguém que eu conheça ou tenha a mínima noção de quem é. E, principalmente, que não vá arrancar meus órgãos e vender ao mercado negro no primeiro encontro.

— Se os garotos que você conhece fossem decentes eu não estaria procurando na internet. — Rebate.

Em um timing perfeito Corbyn chega com nossos pedidos. Ele entrega meu chocolate quente com marshmallow primeiro. O rosto de Astrid ilumina quando ela olha para ele. Isso não costuma acontecer. Não aconteceu nenhuma das vezes que viemos aqui nos últimos dois anos para ser exata.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora