CAPÍTULO 4

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❝Às vezes, quando tenho que fazer alguma coisa que não quero, finjo ser personagem de algum livro. É mais fácil saber o que eles fariam.❞ — Cassandra Clare, Anjo Mecânico.


Quando as garotas vão embora, sento em frente à minha escrivaninha. Embolo minhas pernas sobre a cadeira feito uma ave empoleirada no ninho, com os pés aquecidos por meias de flanela debaixo das coxas. Abro meu caderninho de anotações em uma página limpa e pesco uma caneta esferográfica preta no pote de canetas. Escrevo Garotos Para Beijar no topo. O primeiro nome que adiciono à lista é óbvio: Paul Corbyn. Já está definido, e não quero voltar atrás. Coloco um esforço desnecessário para que a caligrafia fique bonita, charmosa. Escrevo o próximo nome com hesitação. Não tenho certeza se posso mesmo fazer isso. Tenho a impressão de que estou sendo gananciosa. Eu deveria colocar apenas nome possíveis, não delírios impossíveis. Mas escrevo mesmo assim: Sam Kim. Na verdade, é Samuel Kim, mas o chamo assim porque recentemente descobri no YouTube um cantor com este nome. Ele tem traços asiáticos como Samuel. Olhos pequenos e repuxados, pele clara que faz com que seu cabelo pareça preto, mas de perto é apenas castanho. E aqui está o melhor: os lábios. Samuel tem lábios mais bonitos que os de uma garota. O que é geneticamente injusto.

Sam é capitão dos Diabólicos, o time de futebol, o que o qualifica como um pretendente impossível, porque noventa por cento da Franklin o deseja, isto mesmo, seja menina ou menino. Ele é como jantar frutos do mar em um restaurante cinco estrelas, enquanto os outros garotos são como comer hambúrguer no McDonald's numa sexta-feira à noite. Sam nem sempre foi popular como é hoje, isso aconteceu depois que ele tirou o aparelho ortodôntico, deixou de usar óculos e entrou para o time de futebol, ganhando quase o dobro de seu peso e se tornando um jogador de destaque até alcançar o topo da hierarquia dos Diabólicos.

Talvez eu tenha alguns pontos extras por ter sido amiga de Samuel Kim quando ele era socialmente invisível. Fazíamos Espanhol na mesma turma durante o primeiro ano. A senhorita Garcia sempre nos colocava juntos nos trabalhos em dupla. Sam sentava atrás de mim. Ele gostava de cutucar meu ombro para fazer observações bobas sobre a roupa brega que a professora usava no dia, porque sabia que eu ficava irritada. Hoje é difícil estar nas mesmas aulas que ele. Naturalmente nos afastamos, mas Sam ainda me cumprimenta cordialmente nos corredores. Eu teria que reatar nossa amizade se as coisas com Paul não dessem certo. Mas isso ainda é melhor que partir do zero, com alguém que eu nunca troquei uma palavra sequer.

O nome seguinte é algo que tenho certeza: Colin Sullivan. Colin é voluntário na biblioteca da Franklin. Ele é presidente do Clube do Livro. Nos conhecemos porque fui voluntária neste verão para ficar na biblioteca. Há muitos alunos que preferem estudar do que aproveitar as férias, então é conveniente que alguém esteja lá por eles. A escola oferece cursos de verão. Fiz o de escrita criativa ano passado para melhorar meu currículo para as universidades.

Dos três pretendentes, este é o que mais tem coisas em comum comigo. Gosta de ler, de verdade, não como um hábito adquirido na escola, e sim uma necessidade diária. Ele sempre carrega um exemplar de Guerra e Paz na mochila, sei porque ele me confidenciou certa vez. Sullivan também visita bastante o museu e vê filmes antigos, como eu. Colin tem os cabelos às vezes escuros, às vezes dourados, que ficam mais claros quando o sol bate. É como eu descreveria um anjo se me pedissem. Há várias pintas pretas salpicadas ao longo de sua bochecha esquerda e maxilar. Já o ouvi dizer que as odeia. Mas sempre achei um charme que o destaca entre os demais. É sua constelação particular. Os olhos dele são como os meus, castanhos, mas somado aos outros atributos parecem mais interessantes que os meus. É quase como se ele tivesse um olhar divertido e malicioso o tempo todo.

Por fim, minha lista fica assim:

Paul Corbyn
Sam Kim
Colin Sullivan.

Nesta ordem.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora