CAPÍTULO 27

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"Eu te conheci no escuro

Você me iluminou

Me fez sentir como se eu fosse suficiente."

Say You Won't Let Go|James Arthur


Levo um tempo para registrar o que está acontecendo.

Em meio a todo o vidro quebrado no chão, vejo Amelia, a mãe de Hardy, encostada na parede. Ela treme com os braços envolvendo seus ombros de forma protetora, parecendo indiferente ao corte vermelho em sua bochecha. Seus olhos assustados estão grudados no filho do outro lado da sala, que grita histérico agarrado ao colarinho de um homem mais velho.

O choque me deixa um pouco aérea. Já vi Hardy furioso em várias ocasiões, mas não desta forma. Seus olhos normalmente calorosos estão como lascas de gelo afiadas, os músculos dos seus braços duramente flexionados e as veias ao longo de seu pescoço saltadas. Ele se concentra na figura do homem com tanta ira que sequer nota minha presença.

— Me responde, porra! O que diabos você pensa que está fazendo?! — Hardy indaga, mas o homem não responde, apenas corre os olhos enevoados pelo teto alto da sala como se estivesse acompanhando os movimentos de um fantasma.

Ele parece bêbado, entorpecido.

— Olhe para mim, droga! — Exige Hardy.

Sei que conheço o homem de algum lugar. Não demoro para me lembrar de onde. Já o vi em outdoors e revistas inúmeras vezes. É Gregory Riviere, o grande empresário do ramo automobilístico, bêbado, sendo chacoalhado pelo filho. É uma visão tão inacreditável que por um momento chego a duvidar dos meus olhos.

Eu deveria me virar e ir embora, porque Hardy obviamente não iria me querer aqui num momento particular como esse, mas ignoro todos os alertas vermelhos que meu cérebro está disparando e me obrigo a agir.

Solto a sacola no chão com mais força que o necessário; a garrafa de vinho tilinta contra o piso. Acho que está quebrada, mas não olho para confirmar, já estou me movendo para longe, os sapatos esmagando vidro estilhaçado.

Vou até Amelia, fico de frente para ela, bloqueando a visão de seu marido e filho.  Seguro em seus ombros e a faço olhar apenas para mim.

Meus ouvidos zumbem e só ouço minha respiração acelerada.

— Você está bem? — Pergunto, procurando por ferimentos graves. Sinto como se estivesse falando com a voz mais histérica do que pretendo.

Enquanto espero que ela me responda, avalio o corte em seu rosto. Não é tão profundo, na verdade. Um curativo será o suficiente.

Ela finalmente balança a cabeça para um sim letárgico.

— Venha comigo.

Eu seguro sua mão e a puxo para longe dos vidros, em direção a escadaria de acesso ao andar de cima.

À medida que avançamos eu espero que Hardy se vire e olhe para mim, mas ele não para de gritar perguntas para Gregory, que não tem respostas para nenhuma delas.

É difícil fazer Amelia andar sem tropeçar em seus próprios pés. Várias vezes evito que ela caia de cara no piso de pedra branca. Evito que eu mesma caia em choque.

— Você tem que chamar alguém para separá-los. — Amelia diz em tom preocupado quando já estamos quase no topo.

Eu olho para trás e vejo Nora disparando de outro cômodo com mais duas pessoas em direção a Hardy e Gregory. Ela provavelmente ouviu sobre a confusão assim que entrou na casa, como eu.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora