CAPÍTULO 12

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❝Coisas para fazer hoje: 1– Inspirar 2– Expirar.❞ — Ned Vizzini, Uma História Meio Que Engraçada.

Não me importava se Hardy iria apanhar feio, ou se acabariamos num pronto-socorro e meus pais descobririam minha aventura ousada. Eu estava mais preocupada com a minha segurança.

— Espera aí, você vai me deixar sozinha no meio desse bando de bêbados ensandecidos?! — Lanço um olhar suplicante para Hardy, já a um degrau de distância.

Eu tinha a impressão de que alguns sujeitos de intenções questionáveis estavam me olhando torto desde que cheguei. E apenas um instante de vacilo culminaria no meu fim, presa num porta-malas, no melhor estilo Jack, o Estripador. Havia formas mais dignas de morrer.

— Tenho certeza de que pode resolver qualquer conflito com o seu joelho encontrando aquela área específica. — Ele pisca para mim, e eu gemo apavorada.

Hardy se importa com meu bem estar tanto quanto eu me importo com o dele.

— Além disso… — Ele me alcança e segura minha mão. Eu quase pulo com o toque repentino de seus dedos quentes. — Eu te disse para ficar onde eu possa te ver.

Ele me puxa até o primeiro nível da arquibancada, a cinco passos do ringue.

— Fique aqui, prometo não demorar. — E com isso ele sai, dando a volta para entrar numa porta atrás da mesa de juízes, provavelmente o vestiário.

Os cinco minutos que se seguiram na ausência de Hardy se resumiram a eu olhando por cima do ombro, desconfiada de tudo e de todos, esquivando de pessoas sem educação que insistiam em esbarrar em mim e recebendo pingos de cerveja, que vinham de nenhuma direção específica para cair direto no meu cabelo. Tudo já parecia terrivelmente ruim quando o juiz principal subiu no ringue para anunciar os lutadores.

— Senhoras e senhores, com vocês, ele que possui o recorde de nove vitórias na casa, conquistou a devoção de muitos com seus golpes precisos na temporada passada… — Ele faz uma pausa desnecessária, até que o lutador entra no ringue. — Cobra, o Esmagador de Ossos! — Uma risada escapa dos meus lábios, rapidamente abafada pelos aplausos de multidão, gritando palavras de apoio. O nome não poderia ser mais ridículo. Cobra expõe axilas peludas ao levantar os braços para cumprimentar a plateia. Quando ele se vira de costas para mim, noto a enorme tatuagem horrenda de uma serpente que começa na base da coluna e vai até a nuca, mapeando os músculos do tronco nu. Seu cabelo escuro está raspado, com algumas falhas irregulares na parte detrás. Ele é mais alto que Hardy, grande e musculoso para colocar medo. Espero que Hardy esteja rezando por sua alma no vestiário. Talvez o carinho de Cobra seja o último que ele vai receber na vida.

O juiz e locutor anuncia Hardy, mas presto pouca atenção no comentário que ele faz sobre as performances anteriores do garoto, porque todos os meus sentidos estão enuviados e voltados exclusivamente para Riviere, pisando no ringue como se aquele lugar fosse sua casa. Fosse seu por direito. Ele está vestindo apenas o short vermelho de luta, que é mais curto que o de Cobra. Percorro meus olhos por seu abdômen definido, ombros largos e braços de atleta. Não é à toa que Hardy faz parte do time de futebol. A posição ofensiva exige um esforço tremendo, que é notável agora que ele não usa camisa. Cada músculo integra seu corpo com esplendor, da panturrilha grossa ao dorso das costas. As jaquetas fizeram um bom trabalho em esconder sua forma física, eu nunca imaginaria que Hardy era mais que um moleque por baixo de tudo aquilo.

Meu interior esquenta quando ele olha para mim e pisca, como se estivesse compartilhando uma piada só nossa. Balanço a cabeça, desejando boa sorte, espero que ele entenda meu recado. É tudo que posso fazer.

Hardy ajeita a luva e coloca o protetor bucal, enquanto o juiz o conduz para o centro. Os oponentes se cumprimentam; o juiz dita as regras. Ambos concordam e tomam suas posições. Permito-me uma respiração profunda. A luta começa.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora