— Estas alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, que num beijo se consomem.
Levanto os olhos para ver Hardy segurando um livro de capa de couro vermelha, citando Shakespeare com diversão. Qualquer sombra de irritação se foi.
— Você tem bom gosto! — zombo.
Ele emite um som de desdém.
— É claro que tenho. Que tipo de comentário idiota foi esse?
O sorriso mais inocente dança nos meus lábios.
— Não resisti.
Eu o observo se sentar ao meu lado em silêncio, cruzando as pernas de um jeito que seu joelho toca o meu.
— Onde encontrou isso? — pergunto, apontando para o livro. — É uma edição muito bonita.
— Joseph me deu como pagamento por minha ajuda — esclarece.
Arfo, surpreendida. Joseph nunca me deu nada, nem um botão. Dar coisas de graça não é de seu feitio. Ele é uma raposa astuta para os negócios. Traidor.
— Eu ainda não tenho essa edição. Pode me dar? — Tento parecer a criatura mais angelical, esperando por sua resposta. Mas devo ter falhado miseravelmente, porque Hardy está piscando horrorizado.
— Você ficou aí sentada enquanto eu era escravizado e agora quer o fruto do meu suor?
Ele soa como se eu estivesse cometendo um terrível crime.
— Não seja dramático. Você nem vai ler. Além disso, ricos não costumam ter uma extensa biblioteca em casa? Daquelas que têm estantes tão longas e abarrotadas que precisam de escadas para subir porque a estatura humana é incapaz de alcançar o fim.
Meus olhos brilham e a boca seca só de imaginar.
Seria maravilhoso ter um paraíso particular em casa.
— Claro. Temos uma, embora eu ache o acervo meio medíocr...
— Deve ser fascinante! — O interrompo.
Nunca parei para pensar no quão rico Gregory Riviere é. Mais do que estimei pelo visto.
— Você pode me levar lá um dia? — peço sem pensar.
É como jogar lenha na fogueira. Os olhos de Hardy escurecem maliciosamente, e eu logo reconheço que foi um péssimo pedido.
— Sim. Podemos fazer um tour e você pode conhecer meu quarto. Pode ficar nele o tempo que quiser, aliás.
Fecho a cara.
— Esqueça o que eu disse. Vamos embora.
(...)
— Qual sua música favorita? — inquiro quando Hardy sai do acostamento.
Se tenho mesmo que conhecer todos os lados dele para elaborar meu relatório, eu o farei. Ainda que meu instinto vá contra essa ideia.
Ele está atento ao retrovisor quando responde:
— Quem em sã consciência tem uma música favorita?
A ideia parece absurda para ele.
— Eu tenho — refuto, assistindo os carros passarem por nós pela janela.
— E qual é? Não me diga que é alguma música clássica. Eu não ficaria surpreso.
Eu nego. Dificilmente ouço música clássica. E isso é ruim. As pessoas deveriam ouvir música clássica com frequência de acordo com uma centena de estudos da neurociência.
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Contando Até Dez
Teen FictionGwendolyn está no último ano do colegial. Ela é uma bela jovem excêntrica e extremamente racional. E por mais que não admita, Gwen é inexperiente no amor. O simples pensamento de se envolver com alguém lhe causa verdadeiro pavor. Ela odeia Hardy Riv...