CAPÍTULO 13

8K 1.1K 807
                                    


❝Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição. Sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem, e sete dias são mais do que suficientes para outros.❞ — Jane Austen, Razão e Sensibilidade.


— O quê? — Pergunto debilmente.

— Meu reflexo nos seus olhos. — Ele ri. Só então percebo que Hardy está sendo irônico. — Meu pobre rosto bonito está acabado.

Maldito seja.

Bato em sua mão e me afasto num solavanco. Por que abaixei minha guarda? Por que fui tão estúpida?

Eu não deveria me esquecer. Não deveria me esquecer de quem Hardy é. Mas sinto que estou esquecendo. Aos poucos e gradativamente. Perdendo pequenos pedaços importantes da minha memória. Se continuar assim, vou começar a questionar o porquê de nos odiarmos. E quando esse dia chegar não vai ser bonito.

Um vento frio nos envolve, meus cabelos voam e chicoteiam meu rosto ruborizado. Hardy estremece e chia feito um gato arrepiado.

— Caramba. Devolva meu casaco. — Ele puxa a peça e começa a enfiar o braço no buraco da manga. — Está frio demais para ser um cavalheiro.

Seu gesto rude quebra o transe inexplicável e eu volto a ser a boa e velha Gwendolyn.

— Você quer experimentar o gola e manga? Hã? O que acha? Sei que vai adorar. — Dou a Hardy uma prévia do meu olhar sanguinário. Minha temperatura sobe de raiva. Quero trucidar esse garoto injustamente bonito e deixá-lo em pedacinhos. Acima de tudo, quero me bater por quase ceder. Se ele tivesse tentado me beijar eu teria deixado. Merda, eu teria permitido. Esse milésimo de segundo, esse momento insano entre o um e o zero me assusta como o inferno agora.

Seja qual for a fração de tempo em que pensei que poderia beijar Hardy, quero enterrá-la no fundo da minha memória.

Ele rapidamente joga o casaco sobre meus ombros, alisa as lapelas e dá um tapinha de avô benevolente na lateral do meu braço.

— Fique com ele. Você parece precisar mais. E eu aprecio que minha cabeça continue acima do meu pescoço, onde deve permanecer.

— É impressionante. — Admiro. A capacidade de ser idiota em Hardy é duplicada e multiplicada vezes o triplo. E ele nem se esforça para isso. É um dom.

Hardy bate os cílios demais num curto espaço de tempo, se fazendo de inocente.

— O quê? Eu? Ah, pare. Eu sei disso.

Uau. "Eu?". Está para nascer alguém que se ame mais do que Hardy. Aposto que ele adora o próprio rosto no espelho. Me pergunto se ele faz tudo isso de brincadeira ou está mesmo falando sério. Hardy é sua própria alma gêmea. Ele seria aquele tipo de pessoa que sai como manchete nos jornais do mundo todo porque casou consigo mesmo.

— Sabe como vou entrar na faculdade? — É uma pergunta retórica, mas ele sussurra uma resposta negativa mesmo assim. — Vou escrever uma tese e apresentá-la para Columbia. Se chamará A Psicologia de Hardy Riviere, onde vou discorrer muito sucintamente as teorias sobre o que o faz ser tão babaca. — Meu tom de voz sobe alguns decibéis e minha expressão é mordaz.

Hardy parece achar tudo que digo genuinamente fascinante. Ele sorri largamente, e como sorri!

— Isso seria fantástico. Nenhuma garota escreveu algo para mim antes. Talvez algumas mensagens sacanas, mas... Enfim, tem todo meu apoio, Lawford. — E me mostra um sinal de positivo com o polegar que faz a tensão em meus nervos chegar ao limite.

Contando Até DezOnde histórias criam vida. Descubra agora