❝E se você me machucarTudo bem, querida
Somente palavras sangram.❞ — Ed Sheeran, Photograph.
Não poderia usar uma palavra melhor para descrever tudo isso, a não ser fodido. É fodido como odiei Hardy por coisas pequenas e eventuais, como acreditei que estava totalmente certa em todos os momentos, quando na verdade houve um atraso de sintonia. Não estávamos na mesma batida. Eu nunca acompanhei o ritmo dele, e ele nunca alcançou o meu. Ficamos indo e voltando, sem nunca chegar a um consenso ou uma zona neutra de paz.
Eu realmente costumava chutar o traseiro dele de inúmeras maneiras criativas em pensamento, e imaginava que Hardy mantivesse o mesmo comportamento em relação a mim. Fazer o oposto seria burrice. E então fomos amarrados um ao outro, obrigados a conviver com nossas desavenças sem sentido, arranhando a parede frágil que erguemos entre nós. Em algum momento que eu não saberia indicar com exatidão, o outro se tornou algo em que segurar, um porto seguro.
Se me dissessem lá atrás que as ações confusas de Riviere carregavam outro significado, que ele não fazia o que fazia apenas para me enlouquecer, eu teria gargalhado e exibido o dedo médio. E agora... bem, agora estou no centro de um furacão. É um cataclisma total que me deixa paralisada. Não sou capaz de tomar decisões sensatas e não quero soar precipitada, então peço num sussurro para que Hardy me leve de volta à escola, e por alguns segundos durante o trajeto, quando ele parece profundamente distraído com o trânsito, olho para seu perfil bonito e penso: eu não posso gostar de você. Não posso gostar de você. Deus, não posso – esperando que de alguma forma essas frágeis palavras influenciem meu coração.
Não quero saber o que ele pensa ou sente. Não vou sucumbir a vontade de perguntar sobre coisas que não deveria. Permaneço tão silenciosa quanto a noite mais escura.
Assim que estamos no estacionamento, me despeço com um aceno idiota. Sou ainda mais idiota quando me afasto dele, sem lançar um único olhar para atrás.
(...)
Chego em casa pisando duro. Tive um tempo considerável para remoer minha raiva, enquanto caminhava da escola até aqui. Mamãe não pôde me buscar, perdi o ônibus por um atraso de tempo mínimo. Papai está visitando um local de obras, então não atendeu nenhuma das minhas ligações. E eu nem poderia cobrar muito dele, já que fui a única a pedir para esquecer a história de me dar um carro, por ora.
Vejo o motivo da minha humilhação recente cruzar o corredor da cozinha para a sala. Ele me nota parada na entrada, estuda meus olhos injetados de fúria e sua expressão despreocupada muda levemente. Tyler sabe que fez algo de errado e acaba de ser descoberto.
Ele me encara, esperando.
— Você tem algo para confessar, Tyler?
Minha voz é uma lâmina afiada, mas não parece intimidá-lo o suficiente. Tyler ajeita a coluna.
— Eu sou o Miles. — Ele diz calmo.
Quando você tem que diferenciar constantemente duas pessoas idênticas, aprende técnicas rápidas e infalíveis. Como analisar a direção em que o cabelo está penteado, decorar algumas pintas ou manchas de nascença que um possui e o outro não, tom de voz, gosto pessoal, a forma como se portam. Tyler é o mais notável, anda por aí como um rei, é irônico e exala autoconfiança — será um pesadelo de homem quando crescer — e, acima de tudo, é ardiloso, mas já deveria saber que não caio em seus truques.
— Seu pestinha, não tente me enganar.
Ele suspira reconhecendo que é uma batalha perdida, então confessa baixinho, na esperança de que eu pense ter ouvido errado:
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Contando Até Dez
Ficção AdolescenteGwendolyn está no último ano do colegial. Ela é uma bela jovem excêntrica e extremamente racional. E por mais que não admita, Gwen é inexperiente no amor. O simples pensamento de se envolver com alguém lhe causa verdadeiro pavor. Ela odeia Hardy Riv...