Ela passou novamente em frente ao espelho, esperando encontrar, no reflexo, qualquer coisa que pudesse ser melhorada. Havia escolhido a maquiagem em um catálogo de modas, enquanto esperava para ser atendida no dentista. O penteado foi inspirado em uma atriz irlandesa, a qual nunca gravou o nome, sequer saberia pronunciá-lo. O vestido não era muito detalhado ou extravagante, mas incrivelmente bonito, como sempre havia idealizado.
— Você está começando a me estressar.
— Desculpe, é que... é que eu estou nervosa, Alice – lamentou-se. — Eu estou muito nervosa! A minha barriga dói. Devo ter ido ao banheiro umas seis vezes. Estou com gases, Alice! Gases!
Alice descruzou as pernas para levantar-se do sofá, mas acabou desistindo. Havia tentado acalmar a irmã durante toda a última semana, mas sabia que não adiantaria tentar fazê-lo. Sara estava em pânico. Havia algum tempo em que ela sempre estava em pânico.
Sara parou diante da irmã e juntou as sobrancelhas.
— Que foi? Não vai vir aqui me segurar pelos ombros e dizer que esse nervosismo é exagero? Não vai gritar comigo dizendo que tudo vai dar certo? Não vai me dizer que a partir de hoje tudo vai ser incrivelmente melhor? Que tipo de madrinha você é?
Alice permaneceu sentada, torcendo a boca.
— Quer mesmo que eu lhe diga tudo isso?
— Não! – Sara sentou-se ao seu lado, bufando. — Na verdade, eu não sei. Eu deveria estar feliz e tranquila, Alice. É o meu casamento. São quatro anos de namoro e eu realmente quero me casar. Mas eu estou com medo e não entendo o porquê! E eu o amo, Alice! Por que será que estou me sentindo assim?
— Se você o ama, não precisa de todo esse desespero, Sara – a irmã sorriu, com a voz calma. — Vai dar tudo certo!
— Você não pode ter tanta certeza disso.
— Tudo o que precisa fazer é respirar fundo, pensar nos momentos felizes e se acalmar.
— Como vou me acalmar, se estou prestes a me casar, Alice?
— Olhe, Sara, já chega! – Alice levantou-se em um salto. — Você tem todos os motivos para estar nervosa, porque é o dia do seu casamento, e eu entendo perfeitamente isso. Mas agir dessa forma não vai te ajudar em nada! Não é justificável! Estou há horas me controlando para não te empurrar da sacada, porque simplesmente não suporto mais isso. Só não faço porque te amo. Então, por favor, se acalme! Tente ir por partes, começando por agora. Calce os sapatos e fixe seus pensamentos nisso. Deixe para pensar no casamento quando estiver na igreja, tudo bem?
Sara abaixou a cabeça, concordando.
— Obrigada – falou em tom baixo, olhando fixamente para os sapatos brancos. — Não sei o que seria de mim sem você. Estou surtando! Logo, seremos apenas eu e o Benício. Nunca foi apenas eu e o Benício. E o papai? E a mamãe? O Cris? Você? Como vou conseguir viver longe de vocês?
Alice inspirou fundo, tentando conter as lágrimas e não desmanchar a maquiagem. Ela queria dizer para Sara não se casar, mas não porque não gostava do noivo, mas porque não conseguia imaginar a sua irmã caçula se mudando e começando uma etapa tão importante da vida. Porém, Alice sabia que, se dissesse qualquer coisa que pusesse à prova o seu otimismo, Sara surtaria ainda mais e desistiria do casamento.
— Nós vamos ficar bem – ela sentou-se ao lado da irmã, segurando firmemente a sua mão. — Você vai ficar bem, Sara. Sabe o quanto você esperou por isso e o quanto vem se imaginando casada com o Benício. Estão há meses planejando o casamento, e sabe o quanto o papai está orgulhoso em ver a filhinha dele se casando, não sabe? Respire fundo e controle a emoção. Não por mim, nem por você, nem pelo Ben. Mas pelo papai. Ele merece ver a sua felicidade mais do que tudo. E se ele souber que você está demonstrando qualquer sinal de incerteza, vai achar que não ama mais o Ben. E você ainda o ama, certo?
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O Filme das Nossas Vidas
SpiritualSara, uma jovem inteligente e obstinada, foi abandonada pelo noivo no dia do casamento e acabou criando uma barreira que a coloca em uma confusão emocional sempre que está diante de um desafio. Do outro lado do país, o economista Santiago, que está...