O Filme das Nossas Vidas

Capítulo XIII

Sara revirou o guarda-roupa mais uma vez, procurando qualquer calça que lhe servisse. Havia emagrecido pelo menos três quilos desde que parara de conversar com Santiago e todas as peças que experimentava ficavam largas. Nem mesmo os vestidos ficavam bons.

Parar de conversar com o amigo não havia sido uma decisão que ela mesma tomara e se sentia triste pela situação. Ágata a havia aconselhado a procurar Santiago somente quando encontrasse as palavras certas para dizer. Sara concordou, já que ainda não sabia o que falar quando o encontrasse. A questão é que não imaginava que demoraria tanto.

Também não havia voltado a se encontrar com Benício. Estavam há mais de um mês sem se falar e ela não sentia tanta falta dele quanto sentia de Santiago. Por isso, havia se proposto a elaborar um script do que diria ao amigo e lhe surpreender naquela noite, pedindo desculpas por tudo o que havia feito e esperançosa de que tudo voltasse ao normal.

Quando encontrou uma saia que finalmente lhe serviu, enfiou o restante das roupas de qualquer jeito no armário e arrumou a mochila para ir à faculdade. Na cozinha, alguém preparava ovos mexidos. Sara sentia o cheiro de longe e o estômago revirava. Nos últimos dias, Ágata parecia distante emocionalmente e passara a preparar as refeições de forma desleixada, com temperos que não combinavam com a comida ou que já haviam passado da data de validade.

— Bom dia! – Beto sorriu, mexendo a frigideira. — Como passou a noite?

— Bom dia! – Ela tampou o nariz discretamente. — Passei bem, e você?

— Bem, também! Sente-se, a Ágata já está vindo. Vamos tomar o café juntos.

— Não vai dar, estou atrasada – mentiu, fazendo cara triste. — Mas agradeço o convite. Espero que tenham um bom café da manhã!

Sara passou na cafeteria e pegou apenas um cappuccino. Parecia ter gosto de terra e ela não conseguiu terminar de tomar. Não estava sentindo fome, nem sede. Estava ansiosa, inquieta, sentindo o coração saltar contra o peito ao simples imaginar que reencontraria Santiago. Queria resolver de vez a questão com o amigo e voltar ao que tinham.

Escreveu uma mensagem de texto confessando que sentia saudade do rapaz e que gostaria de vê-lo à noite. Estava com medo de que ele não respondesse, mas não o julgaria se fizesse isso. Entretanto, certificava-se a todo o instante de que o amigo ainda não tinha respondido à mensagem. A cada vez que desbloqueava o celular, ficava mais inquieta e o estômago revirava a ponto de ter vontade de vomitar.

— A minha cabeça vai explodir! Não consigo parar de pensar nisso!

— Tenha calma, Sara. Ele vai responder – Dominique disse, pouco depois de se encontrarem. — Ele está trabalhando.

— Não conversamos há mais de um mês! E se ele estiver se esquecido de mim?

— O San jamais se esqueceria de você!

— Eu sou uma estúpida! Como deixei isso acontecer? Como pude deixar de conversar com o meu melhor amigo? O que deu na minha cabeça?

— Não se culpe. Você teve os seus motivos. Talvez fosse melhor assim, para os dois. Às vezes é bom dar um tempo, até mesmo numa amizade. Só não entendo o porquê de você ter deixado passar tanto tempo assim.

— Ágata me aconselhou a pensar bem no que iria dizer.

Dominique torceu o nariz. Ela sempre fazia isso quando Sara falava de Beto ou de Ágata.

Quando chegou uma notificação no celular de Sara, seu coração quase saltou pela garganta. Com uma das mãos pressionou a cabeça. Tentava conter o tremor da mão que segurava o celular e firmar a visão. Então, olhou fixamente para a tela e viu uma mensagem de Santiago. A jovem, porém, não conseguia ler. Estava zonza e sentia que a pressão estava abaixando. Aos poucos, foi perdendo o ponto de equilíbrio e o som à sua volta foi se tornando abafado e distante. Dominique segurou em seu braço, perguntando algo que a jovem não conseguiu entender.