Capítulo XVIII

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Para se desculpar das grosserias com Beto e Ágata, Sara levantou mais cedo do que costumava e preparou um café da manhã digno de programa de televisão, com rocambole, frutas, sucos naturais, pãezinhos e bolo. Estava envergonhada pelo modo como agira nas últimas semanas e precisava urgentemente reparar o mau comportamento.

— Nossa, o que houve aqui? – Ágata chegou na cozinha, bocejando, trajando uma camisola vinho de seda. — Você fez tudo isso sozinha?

— Hum, que cheiro bom é esse? – Beto chegou logo em seguida, vestido com o pijama azul e xadrez e com os cabelos ainda desgrenhados. — Que foi que houve?

Sara deu a volta na mesa, ajeitando o avental. Havia acabado de lavar os utensílios que tinha utilizado e a cozinha estava limpa como antes.

— Sentem-se, por favor. Vou servi-los.

— É alguma comemoração especial? – O homem olhou para a esposa. — Estou me esquecendo de alguma coisa?

— Não que eu saiba – a mulher admitiu, sorrindo.

Sara serviu suco de laranja para Ágata – o seu preferido – e café sem açúcar para Beto. Depois, partiu duas fatias de bolo de pistache e colocou em pratinhos, evitando ao máximo deixar que as migalhes caíssem sobre a mesa.

— Isso está muito bom, Beto – Ágata falou ao marido. — Também explica o barulho.

— Pensamos que você estivesse colocando a casa a baixo – ele disse para Sara, rindo. — Estou surpreso que não tenha feito bagunça.

— Fiz muito barulho? – Questionou envergonhada. — Meu Deus, me perdoem. Estava com os fones de ouvido. Não consigo cozinhar sem ouvir música. Talvez estivesse alto demais.

— É um bom argumento – Ágata falou, mastigando o bolo. — Está perdoada.

— Desde que nos ensine a fazer isso – Beto acrescentou, deliciando-se com a comida e recolhendo os farelos que caíam sobre a mesa. — Está maravilhoso!

— Obrigada! – Sara sorriu, sentando-se. — Fiz tudo isso para me desculpar por toda a grosseria dos últimos tempos. Vocês não mereciam ser tratados da forma como agi com vocês. Vocês não têm culpa de nada.

— Sara, não precisa se preocupar – o homem tomou mais um gole do café. — Compreendemos que às vezes o estudo é estressante, que há muitas responsabilidades e que, às vezes, as pessoas surtam.

Ágata olhou para ela, arqueando a sobrancelha.

— Não acho que seja por causa do estudo que tenha agido dessa forma.

— Não acha? – Sara perguntou surpresa.

— Eu já vivi tempo suficiente para perceber as coisas, Sara – Ágata falou gentilmente, como uma mãe faria. — E, ao longo do tempo, a gente vai se tornando mais experiente. Observamos os detalhes mais atentamente. Não vou te pressionar a contar, mas estaremos aqui para apoiá-la quando estiver pronta.

Sara ficou em silêncio durante algum tempo, olhando para o copo de suco, assustada com as palavras de Ágata. Ela poderia mesmo saber que Sara estava grávida?

— O que está acontecendo aqui? – Beto perguntou confuso. — Do que você está falando, Ágata?

— Não cabe a mim dizer, Beto.

Sara olhou ainda mais fixamente para o copo, mordendo o lábio e passando o polegar sobre a lisa superfície.

— É que pareceu...

— Me perdoem – ela começou a chorar, baixinho, ainda olhando para o copo. — Me perdoem, por favor... Eu não queria, de verdade, mas aconteceu. Eu não queria! Eu não queria!

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora