Capítulo VI

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Era a primeira vez que Sara saía com alguém da faculdade e já estava arrependida. Jamais imaginou que Dominique a abandonaria daquela forma, com um completo estranho à mesa. Se ela não estivesse tão constrangida e decepcionada, voltaria para casa no mesmo instante.

Antes de sair naquela noite, encontrou Beto e Ágata na sala de estar assistindo a um filme de comédia-romântica. Sara não era do tipo que sentia inveja das pessoas, mas, por um momento, desejou uma relação como a deles. O casal parecia estar se divertindo pelo simples motivo de ter a companhia um do outro, sem nada que pudesse parecer absurdamente distante da realidade de qualquer pessoa. Sara, então, considerou duas vezes antes de sair da casa. Ela não acreditava que existisse um alguém perfeito para cada pessoa, mas sabia que não encontraria a pessoa com quem gostaria de passar o resto de sua vida em um lugar qualquer. Apesar de tudo, ela preferiu encontrar com a amiga. Primeiramente, porque não queria ser a odiada da turma. Depois, queria dar um pouco mais de privacidade ao casal, já que estava na casa deles há quase dois meses.

De todas as coisas que podia fazer, suportar mais alguns instantes daquela noite havia se tornado o seu principal objetivo.

— Querem alguma coisa? – O senhor que ficava no balcão perguntou, aproximando-se da mesa.

— Mais um chope, por favor – o homem disse.

— A bela moça não vai querer nada?

— Não, não. Obrigada! – Ela sorriu gentilmente.

Após alguns instantes, o senhor voltou e serviu o chope para ele, deixando um prato com petiscos sobre a mesa.

— Esse é por conta da casa, Santiago – sorriu, mexendo as sobrancelhas.

Sara não sabia se queria comer, mas, naquela circunstância, qualquer coisa que pudesse fazer para passar o tempo a ajudaria. Então apanhou alguns amendoins e jogou na boca.

— Olhe, me desculpe – o homem disse. — Não queria que isso acontecesse. Não fazia parte do meu plano ficar aqui, te constrangendo. Para ser sincero, eu nem tinha um plano. Só queria sair um pouco com o meu amigo. Sinto muito estar estragando a sua noite.

— Não está estragando a minha noite. Você, não.

— Há dias em que tudo o que eu quero é me distrair, tentar não pensar nos problemas, e é por isso que saí hoje. Às vezes, meus pensamentos parecem tão confusos, que chegam a ser dolorosos, porque não tiro um tempo para me divertir, para pensar no quanto eu preciso me sentir bem. Então, só queria tomar um chope e relaxar. Mais uma vez, me desculpe por estragar a sua noite.

Sara sentiu pena do homem.

— Não está estragando a minha noite – ela respondeu, passando a mão sobre os longos cabelos negros. — E também não precisa se justificar. Além do mais, eu não tinha tantas expectativas para essa noite. Saí, porque achei que o pessoal da minha turma viesse e não queria que me achassem antiquada.

O homem apanhou alguns petiscos e jogou na boca.

— Eu sou uma pessoa antiquada. Já faz tempo em que não consigo me enquadrar muito bem nas coisas. Mas você é jovem, dá tempo de mudar isso.

— Não é tão mais velho do que eu. Está um pouco escuro aqui e a maquiagem também ajuda a disfarçar, mas garanto que à luz do sol me pareço com uma velha de oitenta anos.

Ele riu, quase engasgando-se com a bebida.

— Olhando bem, parece mesmo que você é uma velha de oitenta anos – brincou, movimentando o olhar sobre o rosto da jovem. — Isso na sua boca é uma prótese dentária? Quando vai às aulas de geriatria, você é a cobaia?

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora