Capítulo XV

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Na manhã do casamento, Sara já havia vomitado seis ou sete vezes e sentia-se fraca, principalmente por não ter conseguido comer nada, ansiosa e incrivelmente nervosa pelo que viria. A barriga ainda não era visível, mas tinha a quase certeza de que todos notariam enquanto estivesse no altar, próxima à noiva, e isso aumentava a sua tensão.

— Trouxe umas frutas. Você vai comer tudo.

— Não estou com fome.

— Sara, eu não estou perguntando. Estou dizendo que você vai comer tudo.

Sara fez careta para Dominique e pegou alguns pedaços de maçã.

— Vai contar para o San?

— O quê? – Assustou-se, enquanto mastigava. — Ah, ainda não. Preciso contar para o Benício antes.

— E quando pretende fazer isso?

— Em breve.

— Vai esperar fazer os exames?

— Não sei, Dominique. Ainda não sei se vou fazer esses exames – Sara sentou-se no banquinho.

— Não me obrigue a te odiar.

— Dominique, eu vou fazer os exames. Só não agora – disse emburrada. — Vamos focar no que realmente importa hoje: o seu casamento.

Dominique cedeu um sorriso.

— Acha que o Ulisses está nervoso?

— Provavelmente – Sara respondeu, levantando-se e ajudando-a a fechar o zíper do vestido de noiva. — Não acha uma loucura ficarem sem se falar durante uma semana?

— Por que acha isso uma loucura? É romântico. Não temos notícias do outro. Isso aumenta a saudade, os mistérios e a expectativa no casamento.

— Não sei... E se houvesse um problema? Digo, agora mesmo ele pode estar sem o terno, por exemplo, ou os familiares dele podem não ter conseguido vir... Talvez ele tenha fugido. Esse é um clássico! Sabe, pode ter acontecido muitas coisas.

Dominique virou-se para Sara, semicerrando os olhos.

— Você é a pessoa mais negativa que conheço. Se não estivesse grávida, já teria te transformado em ração de larvas.

Sara riu.

— É brincadeira, tenho certeza de que está tudo bem.

Quando os ponteiros no relógio avançaram, as duas seguiram em direção à igreja em um carro alugado. Sara nunca havia visto Dominique tão nervosa e tão contente ao mesmo tempo. Seus olhos verdes e redondos refletiam um intenso brilho e seus lábios estavam emoldurados em um sorriso.

— Vai dar tudo certo! – Ela segurou fortemente a mão da amiga. — Estou tão feliz por você! Você vai se casar, Dominique.

— Obrigada, Li... Sara.

As duas desceram juntas e subiram os degraus da igreja. Os padrinhos estavam enfileirados, orientados pelos cerimonialistas, esperando apenas a chegada da noiva. Quando Sara avistou Santiago, seu estômago embrulhou e seu coração disparou, como se estivesse diante de sua maior saudade. Desviando o olhar, respirou fundo e seguiu para perto do seu acompanhante – um primo louro de Dominique, que usava um cavanhaque volumoso.

A cerimônia foi comovente, com direito a votos inéditos e uma música autoral composta por Ulisses. A família do casal estava emocionada e maravilhada. Sara também estava emocionada. Admirava muito a relação dos dois e desejava, de todo o coração, que fossem felizes. Mas os incessantes pensamentos faziam com que se lembrasse que fora abandonada no altar e que agora estava grávida do homem que mais lhe causou sofrimento, e isso fazia com que se angustiasse e sentisse raiva de si mesma. Ela percebia o olhar de Santiago atravessá-la, como se ele pudesse ler cada pensamento seu, mas não tinha coragem de encará-lo de volta.

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