Capítulo XI

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Depois de passar duas horas de frente para o espelho do banheiro, Sara sentia-se pronta para ir à comemoração do aniversário de Ágata. Na pia, pinceis, estojos e esponjas encontravam-se espalhados, e se sentia envergonhada pela sujeira que havia causado ao azulejo branco. Mas havia valido a pena. Sara estava encantadora e o trabalho com a maquiagem parecia profissional: discreto, mas igualmente elegante, a qual era combinava perfeitamente com a pele escura, o vestido rosa claro e os brincos prateados.

— Minha nossa! – Ela exclamou, boquiaberta, assim que avistou na sala de estar Ágata, borrifando o perfume. — Você está maravilhosa!

Ágata usava o cabelo trançado apenas de um lado, preso pela ponta. Sua franja caía sobre parte do rosto, mas não o suficiente para cobrir os intensos olhos verdes. Não havia um único registro de ruga em seu rosto, nem mesmo quando sorria, e o seu vestido parecia ter sido feito especialmente para ela, pois valorizava todo o corpo. Sara imaginou que, caso qualquer outra mulher do mundo o experimentasse, não serviria tão bem quanto para Ágata.

— Só alguns truques – ela riu majestosamente, escolhendo os brincos em um porta-joias.

— Preciso aprender todos – Sara brincou.

— Como se precisasse. Você é linda por natureza, Sara, não precisa de nada extravagante para chamar a atenção. E eu, bem, já estou me tornando uma senhora. Preciso dos truques.

Sara ficou contente com o elogio, principalmente porque vinha de Ágata, mas não acreditava que a mulher precisasse de truques.

— Estou impressionado com tanta beleza – Beto comentou, assim que chegou à sala, ajeitando a gravata azul. — Vocês se superam a cada dia.

Sara também estava impressionada. Beto parecia ainda mais bonito e exalava um ar de jovialidade. Seu terno azul combinava perfeitamente com o rosto do homem, principalmente com o sorriso. Não havia um único fio branco em meio aos ondulados cabelos, nem mesmo na barba.

— Já estou pronta – Ágata anunciou, guardando as joias na caixa. — Só vou guardar isso aqui no quarto.

Beto a acompanhou com os olhos, encantado.

— Às vezes fico me perguntando se ela é real. Nunca vi alguém mais bonita do que ela. Muitos dizem que o casamento perde o encanto com o passar dos anos. Mas eu me apaixono por ela todos os dias, cada vez mais.

— Consigo enxergar isso em seus olhos.

— Ela foi a minha primeira namorada. O meu primeiro beijo. O meu primeiro e único amor. Continua tão linda quanto na manhã em que a conheci e a cada dia me sinto mais feliz do que no dia em que ela aceitou ser minha esposa, diante o altar. Sei que nem todos têm a sorte que eu tive, e eu tento evitar me perguntar o que fiz para merecer. Acho que todos deveriam sentir o que é amar alguém de verdade e saber o que é a felicidade de se sentir amado.

Sara abaixou a cabeça e desviou os olhos, imediatamente reflexiva. Não sabia se o que havia sentido por Benício era tão intenso quanto o que Beto sentia por Ágata. Ela não estava desesperada por alguém, mas estar cercada por casais felizes e apaixonados a fazia sentir uma pontada de inveja.

— Isso é lindo – admitiu.

Quando chegaram à festa, Sara fora apresentada a diversas pessoas que tinham dinheiro o suficiente para comprar toda a cidade de Azevinho. No começo, sentiu-se deslocada e foram recorrentes as vezes em que pensou em ir embora, no início mesmo do jantar. O salão era luxuoso, com lustres nas paredes e garrafas de champanhe em cada mesa. Havia arranjos de astromélias brancas em diversos pontos do salão e os garçons, extremamente profissionais e coordenados, circulavam de um lado para o outro oferecendo petiscos que a jovem nunca antes havia provado.

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