Não era o que pretendia, mas, aos poucos, Sara sentia-se mais próxima de Benício. Mesmo com tudo o que havia acontecido entre os dois, havia decidido superar e perdoar todos os seus erros, mais uma vez. Por mais que passasse boa parte do tempo se sentindo a pessoa mais tola do mundo, aquilo parecia estar fazendo bem para ela e para o bebê. Já não sentia mais as dores de antes e passava boa parte do tempo sem pensar nos problemas. Mesmo tendo ouvido de seis outros médicos que ela morreria antes que a criança nascesse, ela não se importou. Não que acreditasse cegamente que a criança nasceria bem ou que o tumor não a mataria, mas queria dar uma chance. Queria que ele tivesse a oportunidade de lutar pela própria vida, mesmo que ela morresse.
Beto e Ágata, mais do que nunca, a tratavam com um exímio cuidado, como pais tratariam uma filha. Mandaram pintar um dos quartos de hóspede de verde e também compraram um berço para a criança. Ela sentia-se muito protegida perto dos dois e eles a faziam se sentir tão confortável, que quase não sentia falta de casa. Eram raras as vezes em que telefonava para os pais ou para os irmãos – mas nunca contou sobre a gravidez.
Dominique ainda estava contrariada com a sua decisão, mas prezava muito a amizade para não apoiá-la, independentemente de suas escolhas. Sara soube que a amiga havia brigado com Beto e Ágata por achar que eles estavam colaborando demais para que Sara alimentasse falsas expectativas sobre a gravidez. Mas quando viu o quanto Sara se sentia bem, Dominique voltou atrás e acabou se redimindo com o casal. Às vezes, tinha a impressão de que Dominique não gostava muito dos dois. Talvez fosse ciúmes.
Na terça, quando Santiago ligou para ela e contou que estava gostando de Bianca, Sara saltitou de alegria. Ele passou horas e horas falando o quanto estava contente por conhecê-la cada vez mais e o quanto ela era uma pessoa extraordinária. Santiago andava muito mais feliz e ainda mais prestativo – o que ela achava ser quase impossível – e havia conseguido uma entrevista de emprego para. Não era algo tão grande quanto o último emprego, mas ao menos era na sua área de formação.
No sábado, depois de ter ajeitado o guarda-roupa, Sara separou alguns vestidos e calças para doar e colocou tudo em caixas. Depois, seguiu para a cozinha.
— Estou pensando em fazer um chá de bebê – revelou. — O que acham?
Ágata e Beto se entreolharam.
— Por mim, tudo bem – a mulher falou. — Posso te ajudar com os preparativos. Sei fazer várias coisas com cartolina.
— Acho uma ideia boa – o homem concordou. — Se quiser, podemos fazer aqui, o que acha? Há bastante espaço na sala. A não ser que esteja pensando em convidar muitas pessoas, aí teríamos que alugar algum salão.
— Não, serão poucas – Sara riu. — Nem conheço tantas pessoas assim.
— Então já temos um lugar – ele disse empolgado.
— Tem certeza, Beto. Tenho as minhas dúvidas se você suportaria tanta sujeira – ela brincou. — Acha que conseguiria ver esse lugar bagunçado?
— Essa é uma coisa pela qual vale a pena arriscar – ele riu, se controlando para não limpar os farelos de bolo que caíam sobre a mesa. — Viu? Eu suporto, sim, sujeira.
As mulheres riram. Quando o homem deixou a cozinha para se aprontar para o trabalho, Ágata aproximou-se de Sara.
— Como foi a consulta ontem? Cheguei tão tarde, que acabei me esquecendo de perguntar.
— Bom, já estamos no sétimo mês e até agora já superamos as expectativas dos melhores médicos – disse com um sorriso contente. — Mas o prognóstico é o mesmo. O neurocirurgião disse o meningioma não aumentou e afirmou que a criança não chegará ao nono mês de gestação e que vou morrer junto com ele.
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O Filme das Nossas Vidas
SpiritualSara, uma jovem inteligente e obstinada, foi abandonada pelo noivo no dia do casamento e acabou criando uma barreira que a coloca em uma confusão emocional sempre que está diante de um desafio. Do outro lado do país, o economista Santiago, que está...