O Filme das Nossas Vidas

Capítulo XIV

Há dois meses, Sara havia passado em uma loja de noivas ocasionalmente e encontrou, sem qualquer esforço, o vestido que usaria como madrinha no casamento dos amigos. Era simplesmente perfeito: azul e longo, como Dominique exigira, pouco decotado – apropriado para a ocasião – e barato, como Sara gostava. Mas agora o vestido já não lhe servia e ela tinha que se virar para encontrar outro a tempo.

Acostumar com a ideia de que estava grávida não foi fácil. Pelo contrário, acordava todas as noites aos prantos, imaginando como tudo aconteceria quando todos soubessem. Não havia conseguido contar para ninguém, nem mesmo para a melhor amiga. Tinha medo do que Ágata e Beto diriam quando descobrissem e para onde teria que ir quando a criança nascesse. Talvez eles a mandassem embora assim que revelasse.

Também não queria contar para Benício, pois não queria manter qualquer vínculo com ele. Por mais que tivesse selado a paz com o homem, ainda tinha receio de confiar nele, não porque acreditava que ele era uma pessoa ruim, mas ele poderia fugir outra vez.

Também receava o que a família diria. Haviam depositado todas as fichas nela e estavam do outro lado do país, confiantes de que ela retornaria como uma médica formada. Além do mais, depois de tudo o que havia acontecido, a sua família cultivava um enorme desprezo por Benício, e se soubessem que teria um filho do homem, jamais a perdoariam.

Mas o maior problema era Santiago. Ele a havia alertado sobre Benício e ela não quis dar ouvidos. Havia decepcionado o amigo de diversas formas possíveis e estavam há bastante tempo sem se falar. Para piorar ainda mais a situação, entrariam na igreja como padrinhos e seria inevitável não trocarem qualquer palavra ou olhar.

Ela o vira fazer caminhada uma vez, quando saiu mais cedo para passar na biblioteca da faculdade. Mesmo com o coração suplicando que seguisse em direção ao rapaz, preferiu cobrir o rosto com o cabelo e mudar a direção dos passos.

A única coisa que a fazia esquecer um pouco dos problemas, era o fato de, ironicamente ou não, ajudar a amiga com o casamento. Todo o estresse de Dominique colaboravam para manter seus pensamentos distantes.

— Acredita que os meus pais só vão conseguir chegar no sábado de manhã? A estrada para Monte Jardim é horrível, Sara, principalmente nessa época de chuva! Temo que eles não cheguem a tempo ou fiquem presos. Tudo de errado acontece comigo!

Dominique começou a andar de um lado para o outro, segurando o vestido em uma das mãos e os sapatos na outra. Estava muito nervosa com o casamento.

— Eles vão chegar a tempo – Sara tranquilizou a amiga. — Essa tensão é normal. Passei pela mesma coisa.

Dominique parou de andar, como se tivesse congelado, e encarou a amiga. As duas ficaram em silêncio e, sem perceber, Dominique deixou as coisas caírem no chão.

— O que foi que disse? – Perguntou boquiaberta.

Sara tentou pensar em alguma desculpa rápida para contornar a situação, mas nada vinha à mente. Então, após algum tempo em silêncio, engoliu em seco e caminhou calmamente em direção a amiga.

— Eu já fiquei noiva, Dominique, e quase me casei. Desculpa nunca ter falado nada, mas não gostava de relembrar dessa história. Na verdade, ainda não gosto, mas sei que não deveria ter escondido de você. Você é a minha melhor amiga e sei que posso confiar em você. Mas relembrar tudo isso que me aconteceu é muito doloroso.

Os olhos de Dominique continuaram estáticos, refletindo o assombro.

— É esse o tipo de coisa! – Ela começou em um tom normal, mas aumentou repentinamente, como se estivesse fatigada. — É esse o egoísmo que reclamo em você, Sara! Sempre quando as coisas começam a ficar bem entre nós, você aparece com algo inusitado, algo que vem escondendo de mim. Como pode me chamar de melhor amiga, se não confia em mim? Se não me permite conhecê-la, Sara? Passamos tanto tempo juntas, conversamos tanto, me abro tanto com você... Do que é que você tem medo? A cada dia que passa, sinto você mais distante, porque é quando percebo que nunca esteve por perto.