Capítulo XXX

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Sara sofria com todas aquelas revelações que ouvia. Jamais poderia ter imaginado que todas aquelas histórias pudessem ter uma única conexão. Jamais imaginou que várias histórias pudessem partir de um único roteiro. Ela sempre esteve a poucas pessoas de Santiago, de Dominique, de Beto e de Ágata. Seu coração doía. O monitor de frequência cardíaca, ela ouvia, havia sofrido variações durante todo aquele tempo, mas ninguém havia percebido.

Estavam tão comovidos e emocionados com toda a história que os envolvia, com todas as omissões e sofrimentos, que sequer acompanharam as suas recorrentes tentativas de abrir os olhos. Então, quando conseguiu, demorou um tempo até se acostumar com a claridade. A primeira coisa que viu foi um canário amarelo, na janela do quarto. Ele se mexia de um lado para o outro, talvez dançando a própria liberdade.

— Ela abriu os olhos! – Benício anunciou, levantando-se. — Ela abriu os olhos! Ela abriu os olhos!

Todos correram para perto dela e ficaram ao redor, observando-a de cima, ansiosos e surpresos. Então, Sara tentou dizer algo, mas o tubo a impedia e ela começou a se engasgar.

— Sara, vá com calma – Dominique disse, sorrindo e chorando ao mesmo tempo, em uma mistura de sentimentos. — Acalme-se. Vou tirar para você num instante.

Sara se sentiu aliviada quando a amiga removeu o tubo. Aos poucos, seus olhos começaram a se movimentar para aqueles cinco rostos que ela tanto amava, que acompanhavam como se fossem a sua família.

— Isso é um milagre! – Ágata sorriu. — Você é o nosso milagre, Sara!

Sara ainda não conseguia dizer nada, mas as lágrimas escorriam pelo seu rosto, emocionada. Ela suspeitava que teriam que repor mais um litro de soro, para compensar tudo o que havia chorado nas últimas horas.

— O ca... – ela tossiu, falando baixinho e rouco.

— Ei, ela está tentando dizer alguma coisa – Beto disse e todos se aproximaram ainda mais.

— Ca... caná... – ela tornou a dizer, quase inaudível. A sua língua parecia pesada, embolada. — Caná...rio.

— Canário? – Santiago perguntou e ela assentiu com um leve movimento. — Canário? O que isso quer dizer?

Sara olhou para a janela e, no mesmo instante, a ave voou.

— É melhor chamarmos o médico – Dominique disse, sorrindo. — Eles precisam ver isso. Eles não estavam acreditando que ela pudesse sobreviver.

Sara passou por uma série de exames ao longo do dia. Estava contente por ter conseguido abrir os olhos e por quase ter conseguido dizer uma palavra completa. A sua família e os seus amigos estavam ansiosos para vê-la e ela também estava, mas, a pedido do médico, não pôde receber nenhuma visita naquele dia.

Na manhã seguinte, Sara se sentia milagrosamente melhor. Ainda não conseguia mexer o próprio corpo, apenas alguns dedos das mãos e dos pés, mas a garganta estava melhor.

— Bom dia! – Dominique sorriu. — Como está se sentindo?

Sara olhou ao redor, procurando os outros, mas apenas a amiga estava ali.

— Estou sozinha aqui, por enquanto – Dominique disse. — Eu sei, sou trapaceira, estou abusando do meu passe-livre pelo hospital para poder te vigiar. Tenho que tirar alguma vantagem disso tudo, não acha? Mas se bem que o Santiago vai me matar se descobrir que vim cedo para o hospital.

Sara começou a rir.

— Só você mesma, Dominique – falou baixinho.

— Você está falando! – A amiga comemorou, apontando para ela. — Meu Deus, você está falando! Sara, você conhece, sabe dos casos de remoções de tumor cerebral. Sabe que muitos deixam sequelas, que o tempo de recuperação é demorado... Você está ótima, eu diria! Estou muito contente e impressionada. Você é surpreendente, amiga.

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora